“Militante”, “não aceita símbolos nacionais”, procura “penitência” de países. Foi desta forma, que em 2019, Jaime Gama caracterizou a nova disciplina opcional de História para os alunos do 12º ano, intitulada “História, Culturas e Democracia”. O socialista e antigo Presidente da Assembleia da República foi mais longe e referiu no programa do Observador, Conversas à Quinta, que a disciplina “serve-se da História” para cumprir “um objetivo, de certa forma, militante, não científico”. Ou seja, “gerar estratégias para estimular ativismo, cidadania, intervenção”.

Na altura, a oposição não se manifestou. Talvez por considerar o assunto pouco importante, talvez pelo facto de se tratar de uma disciplina opcional, a verdade é que o facto de um socialista se referir deste modo a uma disciplina de História, implementada por um governo socialista com o suporte no parlamento de comunistas e bloquistas não fez torcer o nariz a ninguém. Não podemos obviamente dizer que o que se está a passar hoje é o resultado dessa disciplina, podemos apenas especular o que se passará depois desta disciplina estar devidamente implementada.

Mais grave não é a vandalização das estátuas de Churchill em Londres ou do Padre António Vieira em Lisboa, porque em boa verdade, cobardes de tinta na mão sempre houve e sempre haverá, verdadeiramente lamentável é o silêncio de forças políticas parlamentares nos países onde a selvajaria saiu à rua. A vandalização da estátua de Winston Churchill no mesmo dia em que se comemora o dia D, o dia em que a Europa livre vence o regime fascista, totalitário e nacional-socialista nazi é algo que um democrata não pode aceitar. Tão grave como a própria vandalização foi o modo como a Câmara de Londres lidou com o assunto, nada menos que entaipando a estátua. Assim, rodeada de madeira por todos os lados, encarcerada, talvez não a consigam danificar, foi a capitulação do bom senso e da coragem face aos selvagens (palmas para a actuação da Câmara de Lisboa que rapidamente tratou de limpar a estátua e colocou segurança em tantas outras, mas não escondeu nem removeu nenhuma).

Pode a História ser questionada, ter diferentes interpretações e ser objecto de análise? Como é óbvio claro que sim, mas uma coisa é questionar, outra bem diferente é analisar factos e acontecimentos que ocorreram há séculos atrás com os olhos de hoje. A defesa da liberdade de hoje passa por defender a memória Histórica dos democratas e defensores da liberdade de outrora, nenhum amante da liberdade pode dormir descansado quando a estátua de Churchill ou do Padre António Vieira é vandalizada, porque na verdade não se tratar apenas de sujar com tinta um bocado de cobre torcido, trata-se de humilhar um símbolo, uma noção de sociedade, um projecto comum.

Podemos relativizar, obviamente há sempre coisas mais importantes, a ida de Centeno para o Banco de Portugal ou o encerramento de escolas por exemplo, mas ao deixarmos nas mãos dos extremos (não podemos esquecer que o PCP e o CHEGA foram dos poucos partidos com assento parlamentar, a par do CDS a condenar os factos), a defesa deste imaginário colectivo de liberdade, estaremos a dar um sinal que para os moderados estes símbolos não são importantes, e isso é um erro terrível.

Um país sem orgulho na sua História é um país sem futuro, e irremediavelmente condenado.

Diogo Prates, Médico
Coordenador da Iniciativa Liberal de Setúbal