Poucos estarão conscientes, quer crentes, quer incréus, que só recentemente a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo introduziu na oração denominada de ‘Confissão’, ou ‘Confiteor’, os pecados por omissão. Até à reforma litúrgica de 1969, os crentes apenas confessavam, nos ritos iniciais da Missa, que tinham pecado ‘por pensamentos, palavras e actos’, ou ‘quia peccavi nimis cogitatióne, verbo et ópere’, como também era costume dizer-se. E os incréus? Os incréus sempre se consideraram impecáveis, em virtude da sua crença.
Este exemplo mostra quão difícil é percebermos, e interiorizarmos, que cumprir ativamente o nosso dever é uma obrigação moral, e que podemos ofender a Deus e causar dano a nós próprios, aos outros e à sociedade, simplesmente não fazendo nada, e não apenas ativamente por ‘pensamentos, palavras e actos’. É verdade que há muito que havia na Igreja uma consciência implícita do mal moral da omissão. Isso pode-se verificar nas doutrinas e tratados morais antigos. Por exemplo, era costume os manuais de doutrina ensinar na rubrica dos ‘pecados alheios que o cristão faz próprios’ que ‘consentir nos pecados alheios’, um caso típico de omissão, é um pecado a sério.

Embora seja um pecado grave, é um pecado fácil de descurar & cometer. Mesmo Job, um dos arquétipos do homem justo, de quem até HaShem diz que “não há ninguém como ele na terra: homem integro, reto, temente a Deus e que se afasta do Mal” (Job 1, 8), terá pecado por omissão. Uma antiga tradição, recolhida no Talmude, atribui a Job o cargo de conselheiro do Faraó quando este se resolveu a exterminar o povo de Israel. Essa tradição, que se encontra em Sotah 11, sugere que os sofrimentos de Job se devem a este ter preferido não se opor à iniqua decisão, mesmo que não a apoiando. Pode-se aí ler que:
“O Rabi Ḥiyya bar Abba diz que o Rabi Simai diz que: Três pessoas notáveis foram consultadas pelo Faraó naquele conselho em que o Faraó inquiriu o que devia ser feito ao povo judeu. Eram Balaão, Job e Jetro.”
“O Rabi Ḥiyya bar Abba ensina o que aconteceu a cada um deles: Balaão, que aconselhou ao Faraó que matasse todos os filhos que nascessem ao povo judeu, foi morto na batalha com Madian (Números 31, 8). Job, que ficou em silêncio e não aprovou nem se opôs, foi punido pelo sofrimento, tal como detalhado no livro epónimo na Bíblia. Jetro, que fugiu como sinal de protesto, mereceu que alguns dos seus descendentes se sentassem no Sinédrio na Câmara da Pedra Talhada, tal como está escrito: ‘e as famílias dos escribas que viviam em Jabés: os tiriateus, os chimeatitas e os sucateus. Estes são os quenitas, descendentes de Hamat, antepassado da família de Recab (1 Crónicas 2, 55).’ E está escrito: ‘os descendentes do quineu, sogro de Moisés’ (Juizes 1, 16). Isto ensina que os quenitas, decendentes de Jetro, o sogro de Moisés, residiram em Jabés, referência ao local onde o povo judeu vai a conselho, isto é, à Câmara da Pedra Talhada.”
Enquanto a maldade ativa da Balaão foi punida com a morte, que também é símbolo do inferno, e a bondade diligente de Jetro foi recompensada com a glória futura, símbolo do paraíso, a omissão de Job, o Justo, em se opor ao mal, foi purgada pelo sofrimento.
O pecado de Job é grave, se bem que por ser diáfano, quase que invisível, raramente se nota. A indiferença de milhões de bons alemães à perversidade ativa do nacional-socialismo quase não se viu mas o desastre que causou foi imenso. A passividade de milhões de russos, bons e piedosos cristãos, à depravação socialista de Lenine & Estaline não foi noticiada mas a mortandade que se lhe seguiu é dificilmente estimável. E o alheamento de milhões de cidadãos, com elevada consciência ética e social e participação democrática, à malvadez do aborto e da eutanásia não é noticiada nem criticada, mas na sua omissão é um pecado no tipo do de Job. Que, note-se bem, é praticado por nós todos os dias em casa, no emprego e na rua sempre que não nos opomos ao que está mal. No entanto, tanto quanto é possível perceber, não será um pecado do Notícias Viriato.
José Miguel Pinto dos Santos
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