Estávamos a 16 de Dezembro de 2001. O PS de António Guterres governava em minoria à semelhança do actual PS de António Costa, mas ao contrário deste, Guterres não teve a “habilidade política” para formar uma “geringonça” à esquerda, e só viu o Orçamento de Estado desse ano aprovado porque o então deputado do CDS-PP, Daniel Campelo, se absteve em troca da aprovação por parte do Governo de uma série de projectos para a região do Alto Minho. Naturalmente, isto deixava o Governo numa situação extremamente difícil, sem o apoio da esquerda de então, Guterres sabia que o seu governo tinha os dias contados.
Esse dia chegou a 16 de Abril de 2001, dia de eleições autárquicas em que o PS foi copiosamente derrotado, perdendo Municípios como Lisboa, Porto, Sintra, Setúbal, Coimbra e Faro. Guterres percebeu imediatamente que não tinha condições para continuar, e proferiu a frase que lhe ficará para sempre colada: “Com inteira lucidez devo reconhecer que se nada fizesse (…) o país cairia inevitavelmente num pântano político».
Vinte anos depois o “pântano” socialista está de volta. Agora o que está em causa não é a solidez da maioria que suporta o governo, mas o que o governo faz com essa maioria, o que está em causa é o regular funcionamento das instituições públicas.
Os exemplos são muitos, escolho apenas dois, que pela sua gravidade ilustram a desresponsabilização do actual governo: o caso do cidadão ucraniano morto nas instalações do SEF no aeroporto e o caso do Procurador José Guerra, escolhido pelo governo para Procurador europeu em detrimento de Ana Carla Almeida, Procuradora escolhida pelas instituições Europeias.
No caso de Ihor Omenyuk, o Estado português permitiu que representantes seus, os agentes do SEF, alegadamente, assassinassem, um cidadão estrangeiro ao seu cuidado. O médico legista que fez a autópsia e permitiu encontrar os presumíveis culpados foi despedido e o ministro mantém-se em funções. No caso do procurador europeu, sabemos agora, graças a Miguel Romão, ex-Director Geral da Política de Justiça, que a carta entregue pelo governo português às instituições europeias continha dados falsos e que estes eram do conhecimento do gabinete Ministra da Justiça.
O pântano que agora enfrentamos não é político, mas de valores, de ética, responsabilidade e de respeito pelas instituições. Temos um governo em roda livre, sem escrutínio do Presidente da República e com os “media” praticamente silenciados (salvo raras excepções). Portugal chega assim a esta nova década numa encruzilhada; por um lado o governo está refém da esquerda populista e radical e por outro, o maior partido da oposição perdido em guerras internas, tendo à frente um líder incapaz de apontar o caminho.
Neste cenário, a Iniciativa Liberal, apesar de recente, é capaz de apresentar uma via alternativa, votando sistematicamente contra o estado de emergência mostra coragem, ao apresentar propostas na área da saúde como a implementação as USF modelo C, que permitiriam atribuir mais médicos de família àqueles que não o têm, mostra capacidade técnica e consciência social, e ao ser contra a intervenção do Estado na economia, nomeadamente na TAP marca a diferença à direita.
Ventura desafiou várias vezes Mayan no debate entre os dois, dizendo que a IL não é um partido de direita. De facto, não pertencemos à mesma direita, não estamos do lado daqueles que prometem tudo a todos, como a progressão das carreiras dos militares à custa do sector privado já esmagado com impostos, nem estamos do lado daqueles como André Ventura e Pedro Nuno Santos que pretendem enterrar mais milhares de milhões de euros numa companhia aérea que nunca devia ter sido nacionalizada.
Há um caminho à direita, esse caminho é liberal.

Coordenador da Iniciativa Liberal de Almada.
É que o IL é mais um partido de esquerda. Até se quer juntar aos comunistas e socialistas na manif do 25 de abril.
O IL é um partido equivalente ao PFL do Brasil. Um partido que serve como referência do que é direita aceitável. Adopta timidamente o liberalismo económico, mas, para que não sejam acusados de ser demasiado de direita, abraça uma porção significativa da visão esquerdista do mundo e da sua agenda cultural.
Se tem a noção de que Portugal precisa de uma governação sã e economicamente viável terá também a noção de que, sem uma coligação de direita nunca mais lá chegarão, não ?