Foi com gosto e pelo reconhecimento do trabalho do António Abreu à frente do Noticias Viriato que resolvi aceitar o convite para, quinzenalmente, alimentar uma coluna de opinião neste jornal. Neste tempo de restrições graves à liberdade, o António mostrou coragem; neste tempo em que qualquer pensamento fora do “mainstream” é catalogado de extrema-direita e/ou fascista, o António não se deixou pressionar nem ameaçar e mostrou independência, algo tão raro nos meios de comunicação nacionais hoje em dia. É por isso que eu, como amante da liberdade e admirador daqueles que pensam pela sua própria cabeça, não poderia recusar este convite.

Este primeiro artigo serve também para me apresentar, sou licenciado em Fisioterapia e Medicina, e despertei para a política activa pela mão do Carlos Guimarães Pinto quando este me convidou para ser cabeça-de-lista pelo distrito de Setúbal pela Iniciativa Liberal, eleições onde atingimos o terceiro melhor resultado para a IL, apenas superado por Lisboa e Porto. Mantenho-me ligado ao partido, sendo coordenador-geral do núcleo territorial de Almada, estando agora a preparar as eleições autárquicas.

O exercício a que me proponho com este primeiro artigo é simples, pode um liberal como eu, defender aquilo que estamos a viver no que diz respeito às restrições de liberdade em nome do controlo de uma pandemia? São estas medidas, atentatórias da liberdade, legitimas e absolutamente fundamentais para controlar a pandemia? Claramente a resposta é não. Fomos longe de mais, ultrapassamos todas as linhas vermelhas. O que hoje vivemos já não tem nada que ver com o controlo de uma doença infecciosa ou com um problema de saúde pública, tem muito mais que ver com o controlo de pessoas, como pensam e como se comportam. Existem vários exemplos do que atrás escrevi, mas estes dois parecem-me paradigmáticos: o homem multado por comer uma sandes no carro e aquele outro multado por comer gomas na rua. A nossa primeira reacção poderá ser sorrir e desvalorizar, mas se ficarmos a pensar por um minuto no assunto, uma inquietação deve apoderar-se de nós, isto se ainda não perdemos totalmente a capacidade de nos espantar com o que está a acontecer. Aquilo que nos devemos perguntar é: como foi possível chegarmos a este ponto? Quando é que aqueles nos governam perderam o respeito por nós, agindo agora com total sobranceria e impunidade?

A resposta não é fácil, mas eu arrisco uma, o actual governo percebeu que não tem oposição, podendo sempre contar com os partidos à sua esquerda, PCP e BE e com o PSD sempre que estiver em problemas, e aqui a responsabilidade é de Rui Rio. O líder do PSD, perdido que anda a tentar controlar a oposição interna no seu partido, deixou de fazer aquilo que os portugueses esperam que faça, oposição ao governo e acima de tudo perdeu a oportunidade de se apresentar como alternativa. Ao votarem sucessivamente ao lado do PS, PSD, CDS e mesmo o Chega, que muitas vezes permitiu que o Estado de Emergência fosse aprovado com a sua abstenção, não poderão vir depois dizer que a desgraça social que se abaterá sobre nós não é também da sua responsabilidade. 

A Iniciativa Liberal foi o primeiro partido a votar contra o Estado de Emergência, logo na segunda vez que este foi apresentado, e esse é um capital político do qual não prescindimos nem abrimos mão, estivemos do lado certo da História, do lado da liberdade com responsabilidade. Os portugueses podem contar com o nosso contributo para resolver a grave crise económica, mas não deixaremos de pedir responsabilidades no futuro.

Diogo Prates, Médico e
Coordenador da Iniciativa Liberal de Setúbal.