“Inquietação“, a nova rubrica semanal de Sandra Santos, jovem escritora, professora e tradutora, todas as Sextas-Feiras no Notícias Viriato, onde os desassossegos e as inquietações da juventude (e não só) são transformadas em escrita e partilhadas livremente com os leitores.
Eis-me aqui de novo. Fresca e airosa, após ter estado uns dias na gruta. Estive a fazer reflexão pré-eleitoral, pois claro. Isto de se ter de fazer escolhas na vida, baseada nas minhas próprias escolhas (o que pressupõe por si só que é um sistema altamente viciado e nada isento), tem muito que se lhe diga! Ah, e a isso se soma o facto de ter a lua e o ascendente em Balança. Ah, pois. Isto não é para meninos. Nem para meninas. Nem para… continuar, porque tenho assuntos sérios aqui a tratar. Ah, bom.
Quando saí do Secundário, senti-me no apogeu do meu poder pessoal: Finalmente, vou ter a vida de uma pessoa adulta. Vou para a universidade, vou viver fora da casa dos meus pais, vou experienciar uma nova realidade, vou conhecer o mundo como nunca antes. Tantas ilusões. Tantas desilusões.
Para início de conversa, escolhi um curso totalmente às cegas, achando que “era o melhor para mim”. Somos sempre tão inocentes com nós mesmos. Ou, então, totalmente demolidores. Isto dos meios-termos não é coisa que se nos assista…
Pois bem, já no “curso superior”, superei-me para concluir com sucesso aquela cordilheira bem acidentada. E o que suei! Pois bem, ninguém precisa de saber mais nada: apenas que terminei tudo a tempo e horas e, logo que possível, zarpei dali para fora para, CLARO, me meter noutra querida, e fofa, trapalhada.
Salvo raras e sábias exceções, isto é a cronologia dos eventos de qualquer jovem da minha geração.
A seguir vem o afamado mundo do trabalho. (Mas que grande trabalheira me vai dar só de falar neste tema.) Achávamos nós que, após concluirmos um “curso superior” (muito me rio com esta designação), estaria à nossa espera o emprego dos nossos sonhos, “o tal”. Somos românticos em tudo, é impressionante. Alma lusa enamorada. Ou é amor ou não é nada.
Neste país de trovas ao vento, dei-me conta de que precisaria de rumar a outras pátrias à conquista de um lugar ao sol. Mas, como há mar e mar, há ir e voltar. E, atenção, é no cerne de todas as experiências que assoma a sabedoria. Portanto, emigrar é bom. Regressar é ainda melhor.
O leitmotiv destas escolhas, curiosamente, é sempre moldado pelo que a Sociedade (*inserir os vários intervenientes*) espera de nós. Somos tão condicionados pelas expectativas dos outros que nos pressionamos a corresponder escrupulosamente a elas. Somos tão fofinhos e clementes: para que o outro não sofra com as nossas escolhas, preferimos sofrer nós. E o outro também somos nós. E assim perpetuamos a cruz do sofrimento em nome do bem do próximo. Ai, que sina esta tão fadada ao fracasso.
E o que é que acontece? Ficamos todos frustrados, todos recalcados, furibundos – tudo para dentro, tudo para dentro – e há um dia que vem um Grande Evento e rev(b)elamo-nos. Mas ó que grande desilusão! Afinal vamos todos falecer! Até lá, somos todos eternos, né?
É tudo tão precário, meus caros. Deixemo-nos de coisas tão vis e vãs.
A errância é tão necessária quanto a militância por um mundo melhor. Eu cá estarei, conto com todos vós. A liberdade de SER não se pede, exerce-se.

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“Activista”? que palavra da moda tão feia… Escritora, poeta, sim!
Sandra, você ao menos pode regressar… eu saí daqui com três anos e quando regressei não foi à minha terra, mas sim à pátria (terra dos meus pais), a minha terra, essa não existe… as províncias ultramarinas são hoje independentes.
Durante anos sofri com isso, também sofri pelos meus conterrâneos e o que eles passavam por lá (e passam ainda).
Vi sempre Portugal continental como um país falhado, apostado em politicas ultrapassadas e retrógradas e sempre com a mania de copiar os outros;
enfim não vi que houvesse grande futuro por cá, nem empregos, nem oportunidades para os mais jovens, o que me roía por dentro, sabendo que os meus filhos nunca teriam a vida que eu tive…
Depois temos a UE, qual tábua de salvação que não fará milagres nem durará; para piorar a situação, veio a “pandemia” a “globalização” confundir ainda mais os jovens…
O que fica disto tudo é que pelo trabalho árduo e a honestidade, simplicidade e respeito pelos outros, se pode singrar na vida, mas tudo está mais difícil.
Antigamente o serviço militar obrigatório dava aos jovens uma experiência inicial para enfrentar a sociedade e o mercado de trabalho… hoje ouço que há vagas nas Forças Armadas e que os jovens não se interessam… que pena; Portugal há só um e o que nos resta são 98 mil quilômetros quadrados, por sinal muito mal regidos…
Os jovens devem de fazer um esforço por melhorar este que é o vosso país e não acreditar nas balelas de “União Europeia” e “Globalizações” que são modas que vão passar…