A confiança nos media anda cada vez mais baixa – e é por uma boa razão. Os jornalistas cada vez mais estão se a isentar de regras que usavam para se orientar e por isso, os tipos de erros mais escandalosos estão se a tornar cada vez mais comuns.

Organizações de imprensa antes respeitadas e repórteres nacionais experientes estão a cometer erros que não seriam tolerados nem na faculdade. Quando esses são os erros menos corrigidos, não é mostrado o devido arrependimento. Para não falar que as correções nunca têm nem de perto o mesmo destaque que as narrativas originais – e incorrectas.

Como é que chegámos aqui? Simples.

Primeiro, as barreiras que antes separavam claramente a notícias de uma opinião têm sido substituídas por linhas ténues. Práticas que antes era proibidas, tal como editoriais dentro de reportagens e a inclusão de opiniões como factos, não apenas são toleradas – elas são encorajadas. Resultado: Nunca foi tão difícil para os Portugueses separarem notícias reais das que não são.

O exemplo disso foi quando a 14 de Maio de 2016, 10 dias após o Trump ter-se tornado candidato à Presidência, o New York Times publicou uma notícias chamado “Cruzando a linha: Como é que Donald Trump lida com as mulheres em privado”. Os autores desta notícias, Michael Barbaro e Megan Twohey, entrevistaram Rowanne Lane, ex-namorada de Trump. As suas palavras fizeram parecer Trump um monstro autêntico, até que os jornalistas chegaram a meter as suas próprias citações, apresentando os seus comentários pessoais como se fossem um facto estabelecido, escrevendo que o tratamento das mulheres por parte do Trump era degradante, impessoal, falso. A própria ex-namorada chegou a dizer que o que o New York Times escreveu não tinha sido o que ela havia dito aos jornalistas.

Era de se esperar que algo assim agitasse todas as organizações de imprensa e que fossem desencadeadas investigações e uma revisão de políticas, mas nada disso aconteceu. Nem o New York Times e nem os jornalistas vieram a público pedir desculpas.

Segundo, embora os jornalistas possam gostar ou não de um político, os jornalistas são obrigados a trata-los da mesma forma. Muitas das vezes, esse não é o caso. Com isto, os jornalistas permitem passar a ser uma ferramenta para políticos e manipuladores – que frequentemente querem sempre algo em troca. Isto acontece sempre quando vemos estes jornalistas a fazerem militância política ao invés de jornalismo. Por exemplo: Quando um político que é à direita do PSD e do CDS diz que as fronteiras devem ser fechadas, ele é automaticamente rotulado de extrema-direita, mas quando as irmãs Mortáguas desejaram a morte do Presidente eleito do Brasil Jair Bolsonaro, elas não foram rotuladas de extrema-esquerda. Na verdade, mal se falou do assunto.

Acho que os Portugueses gostariam de acreditar que as notícias que leem são reais, bem pesquisadas e sem opinião. Colocando de outra maneira, eles querem que as notícias sejam puras. Mas, muitas das vezes, não é isso que que recebem, e sabem disso. Será que o jornalismo pode ser consertado? Pode! Mas, o primeiro passo para consertar o problema, é admitir que temos um. Até que façamos isso, nada pode mudar.

Tiago Cerejo de Andrade

12 de Agosto de 2019