Podem ler a primeira parte aqui:
A Ficção das “Famílias de Homossexuais” – Parte 1
Quanto à noção de “género” (se por tal entendermos construção social e cultural autónoma, totalmente independente das diferenças biológicas) lamento informar que tal conceito, em rigor, não existe. Trata-se simplesmente de uma noção errada, resultante de um sociologismo redutor e extremo, que gradativamente vem separando cada vez mais a dimensão biológica (agora, pelos vistos, também ela cirurgicamente removível) das outras dimensões (psicológica, social, cultural), anarquizando estas num “vale-tudo”, ou num igualitarismo louco do tipo 50%/50%, designado actualmente por “ ‘mainstreaming’ de género”, que se pretende agora impor à sociedade inteira. Até estou a pensar naquela velha afirmação estupida de Simone de Beauvoir, tantas vezes divulgada com fumos de intelectualidade, de que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Errado: nasce-se mulher, sim! Até um pastor de cabras analfabeto, observando o sexo de um bebé feminino, refuta esta afirmação, uma vez que sabe que aquele indicador físico do bebé transmite a mensagem de que, potencialmente, teremos um dia uma mulher no sentido global da polaridade sexual (não só “física” evidentemente).
As posições erradas, como as deste sociólogo e desta psicóloga, têm ampla difusão em programas governamentais, até porque, em rigor, não são propriamente “cientistas sociais” que os elaboram, mas sim técnicos e engenheiros da mudança comportamental, divulgadores de uma “novilíngua”. Senão, vejamos. Já é de 2003 um texto governamental de formação intitulado “Manual de Formação de Formadores/as em Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens”, publicado pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), elaborado por uma série de técnicos de diversas áreas, entre os quais se contam, por exemplo, Virgínia Ferreira (Sociologia), Maria das Dores Guerreiro (Sociologia), Fernanda Henriques (Filosofia), Irene Pimentel (História). Neste manual, no Capítulo I intitulado “Conhecer a situação”, incluído no “Enquadramento teórico”, está escrito: “As dificuldades em definir ‘família’ e construir tipologias de família com base num critério são cada vez maiores. O que é uma ‘família’? O casal com filhos? E o casal sem filhos? E o pai da madrasta é família? E os avós, tios, primos, os parentes do marido/mulher são família? E o que dizer dos casais homossexuais? E da mulher lésbica que engravidou por inseminação artificial?”. E, logo a seguir, diz-se no documento: “Não há respostas definitivas” (Op. cit.,pp. 40.41).
Na verdade (pode parecer estranho, mas preciso dizê-lo), o que falta a estes técnicos é um critério de reconhecimento do que seja uma ‘família’. Em vez de utilizarem a definição padrão fundamental e estruturante, o que fazem é diluir o conceito, transformando-o num “constructo” moldável e “líquido”, onde cabe (quase) tudo. Assim, é claro, com esta obnubilação conceptual, nem dá para perceber a crise da família, porque agora, pelos vistos, tudo (ou quase tudo) é “família”. E até embelezam essa indefinição com um relativismo afectado, dizendo que “não há respostas definitivas”.
Ora, aqui vão as respostas: família é um casal, com ou sem filhos. Consequentemente, estão já dadas imediatamente as respostas à segunda e à terceira perguntas colocadas. Quanto ao pai da madrasta, ele não pertence à família (que neste caso é de supor “reconstruída”), ainda que possa pertencer ao mesmo agregado familiar (alguns sociólogos e psicólogos confundem uma coisa com outra). Os avós, tios, primos, ou parentes do marido ou da mulher não pertencem à família, mas sim ao parentesco (a resposta só seria afirmativa se empregássemos o termo “família” como figura de linguagem). Quanto à pergunta seguinte, cabe dizer que, definitivamente, os chamados “casais homossexuais” não constituem de modo algum uma família (este assunto, aliás, é o eixo do presente artigo). Por último, uma mulher lésbica que engravidou por inseminação artificial também não constitui uma “família”, uma vez que não existe casal, mas sim, futuramente, quanto muito, um simples núcleo de parentesco filial (que os sociólogos designam erradamente por “família monoparental”). Além disso, neste caso está presente também a intervenção das tecnologias da reprodução humana, cuja aplicação trará sempre problemas muito graves, uma vez que separa processos naturais (neste caso, a gestação é separada da fecundação). A regulamentação jurídica destas questões só conseguirá fazer uma gestão precária de uma aplicação tecnológica, diabólica na origem. E é fácil perceber a relação de reforço mútuo entre o aumento das tais “famílias de homossexuais” e a escalada desta engenharia diabólica e intrusiva da reprodução humana.
Todos os erros e desvarios (de Fausto Amaro, de Madalena Alarcão, dos técnicos do Manual do CITE etc.) têm respaldo em autores estrangeiros de leitura aconselhada nas nossas universidades. Uma das obras estrangeiras muito seguidas em Portugal é a de Chiara Saraceno e Manuela Naldini (“Sociologia da Família”, 2.ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 2003), revista e actualizada para o nosso país por uma especialista da matéria, Maria das Dores Guerreiro. Aí, Chiara Saraceno também fala em “casais homossexuais”, dizendo que (imagine-se!) estes são “um desafio à ideia tradicional de família” (?) (p. 78). E, esquivando-se à biologia, à realidade genética e a dimensões filosóficas e religiosas, a autora avança, num reducionismo sociologista mutilador, ao escrever que, relativamente aos tais “casais”, “é precisamente o tipo de sexualidade que propõem que contrasta com qualquer ideia de família, porque não heterossexual e não potencialmente procriativa. De facto, é a relação homossexual que desafia radicalmente a ideia de família simultaneamente como pacto de solidariedade entre gerações e de procriação” (sic) (ibidem).
Vem a propósito algumas palavras lúcidas e muito acertadas de Evelyne Sullerot, quando afirma: “Fala-se dos ‘novos casais’, das sexualidades, dos direitos da mulher, das procriações assistidas (…). Nos institutos de pesquisa e nos meios de comunicação social os seus ‘especialistas’ deixam de falar da família para se centrar exclusivamente as atenções nos casais, nos ‘novos casais’ (…) A família tornou-se ‘de direita’, ao passo que ‘as novas famílias’ (…) são ‘de esquerda’ ” (Op. cit., pp. 123, 141).
Toda uma série de publicações académicas introduzem nas universidades um vocabulário corrompido. É o caso, por exemplo, do “Dicionário Enciclopédico de Psicologia” (Lisboa, Edições Texto & Grafia, 2008), escrito por uma série de autores, quase todos franceses. Encontramos aí verbetes do tipo “casal homossexual”, com a habitual vandalização da noção própria de “casal”, e termos do “politicamente correcto” do esquerdismo “agitprop”, como sejam “contexto homofóbico”, “preconceitos”, “discriminações” etc. (cf. pp. 164-166). É o caso também da Enciclopédia Internacional do Casamento e da Família (Editor James Ponzetti, “International Encyclopedia of Marriage and Family”, New York, Macmillan, 2003), um calhamaço norte-americano em que se faz descaradamente a apologia do “gayzismo”. E outros exemplos poderia indicar.
Cabe referir aqui que toda a terminologia errada ou equivocada no domínio da família está sendo divulgada também há anos nas escolas do ensino secundário. Para só referir dois exemplos: no livro de Sociologia do 12.º ano, do ano de 2006, de Maria da Luz Oliveira, Maria João Pais, Maria Manuela Góis e Belmiro Gil Cabrito, podemos ler: “De facto, os grupos domésticos conheceram profundas alterações nos últimos 40 anos, dando origem a novas formas de famílias – é o caso das famílias nucleares sem vínculo matrimonial, das famílias recompostas e das famílias homossexuais” (p. 192). E noutro manual semelhante dos mesmos autores, publicado em 2009, repete-se o mesmo erro (p. 208). É assim que as nossas escolas vão-se impregnando desta terminologia. E, é claro, a implementação da ideologia de género, pelo governo socialista da nova geringonça (agora, pelos vistos, oficiosa), só pode acelerar este processo.
Aliás, a propósito da ideologia de género, convido o leitor a dar uma olhada pelo quinto “Guião de Educação”, intitulado “Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário”, publicado pela chamada “Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género” (Lisboa, 2017). Trata-se fundamentalmente de 515 páginas de imposição “soft” da ideologia de género, em que “especialistas”, sobretudo da área das chamadas “ciências sociais”, numa prosa emaranhada e equivocada, às vezes até errada, pretendem a implementação nacional da Nova Ordem (Sexual) Mundial, sob a direcção da ONU. Ironicamente, dos 15 autores do documento (incluindo a coordenadora), paladinos da tal “igualdade de género”, podem contar-se 14 mulheres… e só um homem!
Mas voltemos mais propriamente ao tema do “gayzismo”. Se deslocarmos agora a nossa atenção para os “media” portugueses, inventariar os textos, programas e documentários onde se induz à homossexualidade (ou, talvez mais precisamente, ao “gayzismo”) seria acumular uma longa lista de referências da imprensa, da televisão e da filmografia, de tal modo que se pode assim constatar que a “homossexualização” da sociedade portuguesa atinge hoje a dimensão de uma pandemia. Cito apenas, a título de ilustração, dois casos da imprensa. Um é o do bem conhecido jornal diário “Correio da Manhã” (CM), quase omnipresente nas pastelarias por esse país fora. Com efeito, no CM, já há alguns anos transformado em jornal semi-erótico, é vulgar lerem-se expressões do tipo “marido do Goucha”. Ora, é importante darmo-nos conta do óbvio: não existem maridos de homens! No entanto, expressões corrompidas como esta vão-se disseminando no universo da linguagem, com a boleia de alguns “media”. Outro exemplo é o da revista “Cristina”, da conhecida apresentadora Cristina Ferreira, uma vedeta tagarela da televisão, à qual, como é sabido, até se prostram conhecidos políticos e governantes. No número 4 da “Cristina” vem uma reportagem dum suposto “casal”, Bruno e Ricardo, numa apologia descarada do “gayzismo”. A situação hoje está, assim, pior do que na viragem do século quando, no longínquo “Público” de 2 de Julho de 2000, o título de um artigo noticiava: “Primeiros ‘casamentos’ homossexuais nos EUA”.
Por vezes a devastação terminológica vem de longe, e de onde menos se esperava (ou talvez até se esperasse, sei lá!). É assim que, já em 1995, foi editada a obra de John J. McNeill, “Os excluídos da Igreja” (Círculo de Leitores, colecção “Nova Consciência”). No prefácio, o conhecido teólogo progressista Frei Bento Domingues vem com esta prosa: “Nesta nova obra, o autor (…) tenta fazer uma teologia da experiência dos homossexuais cristãos que mostre a dimensão espiritual da libertação ‘gay’ e lésbica” (?). Mais adiante, Bento Domingues acrescentou: “Em vários países foram já reconhecidos os direitos de casais homossexuais com os mesmos direitos e obrigações de uniões heterossexuais”. E sublinhou ainda, em jeito de lamentação: “o Catecismo não abre nenhuma hipótese de relações homossexuais que possam ser vividas em castidade” (sic). Com estas palavras do angélico Frei Bento, até sou capaz de imaginá-lo por aí à frente de uma “parada gay”, vociferando contra o “preconceito” e a “discriminação”, comandando hordas de histéricos erotizados que debocham o espaço público em “acção afirmativa” (“affirmative action”), para a obtenção do “direito”… à “castidade”!
De onde vem toda a terminologia “gayzista”? Ou o “movimento LGBT” (ou LGBTQI, para aumentar ainda mais o desatino)? É dificílimo responder a esta pergunta, e este artigo não pode dar uma resposta cabal. Porém, ao nosso alcance temos, por exemplo, as obras do brasileiro Júlio Severo, “O Movimento Homossexual” (Belo Horizonte, Editora Betânia, 1998), do espanhol Rafael Palacios, “La Conspiración del Movimento Gay” (Madrid, Mandala Ediciones, 2011), e da dupla argentina Nicolás Márquez e Augustín Lage (“El Libro Negro de la Nueva Izquierda”, Buenos Aires, Unión Editorial, s. d.) que são um bom começo, ainda que modesto, para um melhor conhecimento deste processo gigantesco de “homossexualização” da sociedade, do qual a corrupção “gayzista” da linguagem e o fantasmático “direito a casar” das “pessoas do mesmo sexo” são apenas tentáculos.
Pelas três obras referidas, podemos perceber o braço mundial das Fundações Rockfeller e Ford; da acção do multimilionário Georges Soros; do mundo diabólico (homossexual e pedófilo) que se esconde por detrás das vedetas de Hollywood; da acção de engenheiros sociais comportamentais do Instituto Tavistock de Londres; das políticas de inverno demográfico para a destruição do Ocidente Cristão (ou do que dele resta); ou da dominação das universidades americanas pela Nova Esquerda (“New Left”) Norte-Americana (neo-comunista, “desconstrucionista”, dissolvente e niilista) onde se forjam os “constructos” do marxismo cultural de devastação linguística, filosófica e sociológica, que depois são espalhados pelo mundo académico e pelos “media”, turvando o mais elementar bom senso e a lucidez epistemológica e heurística.
Veio-me agora à memória um interessante artigo do Prof. Doutor José de Oliveira Ascensão, intitulado “O casamento de pessoas do mesmo sexo” (“Revista da Ordem dos Advogados”, Abril/Junho de 2011, pp. 391-411), ainda acessível por meios electrónicos. O Autor, tratando a questão com perícia jurídica, assinala ainda outros tópicos que merecem atenção. Escreveu, por exemplo: “Haveria grande número de pares do mesmo sexo ansiosos por casar? Seguramente que não, como aliás já podemos comprovar pelo número de casamentos de pessoas do mesmo sexo realizados após a aprovação da lei (a que se terá seguido uma percentagem considerável de divórcios)” (p. 393). E acrescentou: “A razão é outra: não é por ser um problema fundamental, é por ser uma questão fracturante (…): é o apossamento do valor simbólico do casamento” (Op. cit.,p. 394).
E prossegue Oliveira Ascensão, numa linha de investigação muito importante, em que realça o processo de redução do valor simbólico do casamento e a subversão do sentido comum natural. Vale a pena citar mais longamente este jurista, mais lúcido que muitos dos “cientistas sociais” do “vale-tudo” e do turvamento teórico da consciência. Acerca do casamento, diz Oliveira Ascensão: “a exigência da diversidade de sexos não é arbitrária. Tem fundamentação ponderosa, é facilmente captável. O casamento supôs sempre a diversidade de sexos por se fundar na complementaridade entre homem e mulher. Homem e mulher são iguais em dignidade, mas diferentes física e psicologicamente (…). Nada disto é arbitrário. O casamento dá o enriquecimento na diferença, com a correspondência exacta à natureza. Representa o enquadramento óptimo para a procriação, criando laços estáveis para realização pessoal e para permitir o desenvolvimento normal de novos seres. A diversidade biológica e temperamental de homem e mulher, independentemente das estruturas sociais, é e sempre foi uma evidência” (Op. cit.,pp. 404-405). Com o “casamento de pessoas do mesmo sexo” reduz-se, por conseguinte, o valor simbólico do casamento, e acelera-se a destruição do sentido comum natural.
Outro ponto importante assinalado por Oliveira Ascensão é este: “o movimento tão forte na promoção da homossexualidade, cuja explicação ainda não se consegue inteiramente captar, não amainará com a emissão da lei [do “casamento de pessoas do mesmo sexo”]. Continuará a receber o mesmo influxo exterior e lançar-se-á a novos objectivos. Não se contentará com a tolerância ou a liberdade, procurará outras causas fracturantes” (Op. cit.,p. 409). Note-se que isto foi escrito em 2011, antes da aprovação da lei da adopção por “casais do mesmo sexo”. E continua válido, de tal modo que qualquer dia uma simples piadinha sobre o homossexualismo ou o “gayzismo” será logo classificada de “homofobia”, “discurso de ódio”, e talvez até criminalizada! Deste modo se percebe que os “direitos” reclamados pelo movimento LGBT são apenas etapas de um processo mais vasto cujo propósito é o da destruição cultural e civilizacional do Ocidente.
Para concluir, volto ao tema central e inicial (para que ninguém se engane buscando em vão saber a cor das meias do revisor do comboio de mercadorias): definitivamente, pois, não existem as tais “famílias de homossexuais”. Então, socialmente, o que ocorre quando existe um suposto “casamento gay” é, enquanto celebração social, uma palhaçada hilariante (sem querer ofender a profissão de palhaço, claro). Se ficasse por aí, até podia muito bem ser incluída alegremente num qualquer cortejo carnavalesco. Mas, claro está, tem implicações jurídicas. Por exemplo: segundo o INE/PORDATA, qualquer leitor pode retirar de um quadro a informação de que, no ano de 2017, ocorreram 523 “casamentos entre pessoas do mesmo sexo”. Corrijo: o que houve foi 523 vandalizações do Direito de Família, que levou séculos a construir. E que importa consertar. Caso contrário, intensifica-se ainda mais a entropia social, e seguir-se-ão novas legislações loucas e entrópicas (do tipo da “adopção gay”, em vigor desde o início da primeira “geringonça”), que provocarão ainda mais caos, que necessitarão de novas legislações loucas e assim por diante. Já lá vão 10 anos desta lei, um tumor canceroso no edifício do Direito de Família, que até já gerou uma metástase chamada “adopção gay”. É assim necessário, mais ano menos ano, revogar a alarvidade chamada “lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo” (sempre entre aspas!) e com ela a da “adopção gay”. Até lá, importa ter paciência.
Alexandre de Sousa
10 de Dezembro de 2019