A Monsanto, a empresa agroquímica que alcançou notoriedade pelos seus pesticidas agrícolas e organismos geneticamente modificados, supostamente trabalhou horas extras para desacreditar jornalistas investigadores criticando a empresa – e até pagou à Google para encobrir as descobertas.

Carey Gillam, jornalista da Reuters, reportava sobre os efeitos dos produtos da Monsanto na saúde. Como parte de uma campanha maciça de controlo de danos, a empresa trabalhou para desacreditar o seu trabalho o máximo possível, de acordo com uma investigação do The Guardian. Talvez o mais preocupante: a empresa terá pago à Google para promover resultados de pesquisa que questionavam as descobertas de Gillam.

Enquanto Gillam se preparava para publicar o seu livro de 2017, “Whitewash: The Story of a Weed Killer, Cancer, and the Corruption of Science” (A História de um Herbicida, Cancro e a Corrupção na Ciência), a Monsanto entrou em modo defesa, relata o The Guardian.

A empresa montou um plano de 23 passos específicos para minimizar a principal descoberta da Gillam enquanto promovia o seu próprio conteúdo alegando que os seus produtos químicos eram realmente seguros.

O plano mostra como a Monsanto planeava lançar um novo site cheio de pontos de discussão e pagar para garantir que ele aparecesse quando as pessoas pesquisassem no Google o nome de Gillam.

Os documentos internos foram obtidos no contexto de processos judiciais que envolvem um herbicida chamado Roundup, o qual contém glifosato, uma substância que a Organização Mundial da Saúde considerou possivelmente cancerígena em 2015. A empresa nega que o seja, mas o ano passado dois júris nos Estados Unidos condenaram a empresa a pagar indemnizações elevadas a queixosos que tinham desenvolvido linfomas, em consequência do produto.

Em 2017, a jornalista Carey Gillam publicou um livro sobre os perigos do herbicida. Para combater as más notícias sobre o produto, a Monsanto terá criado um “fusion center” (centro de fusão), com o objectivo de desenvolver contrapropaganda. Uma das vinte acções que decidiu promover foi levar pessoas a porem críticas negativas negativas ao livro, muitas delas repetindo pontos semelhantes – sem que a intervenção da empresa fosse revelada.

Falando ao diário britânico The Guardian, Gilliam recordou que, enquanto os críticos profissionais elogiavam o livro, na Amazon ele era desancado continuamente e de forma horrível. Só o facto de calcular que era obra da empresa lhe deu alguma tranquilidade, embora sabendo que outras pessoas não estavam tão conscientes como ela.

Diz que as revelações são mais uma amostra de como a empresa tenta manipular subrrepticiamente a opinião pública. “Sempre soube que a Monsanto não gostava do meu trabalho e tentava pressionar os editores para me silenciarem”, diz. “Mas nunca imaginei que uma empresa multibilionária gastasse realmente tanto tempo e energia e pessoal comigo. É espantoso.”

A Monsanto pagou ainda para que, quando alguém fizesse buscas na internet com o seu nome e o da jornalista, os resultados obtidos destacassem críticas negativas ao livro. E também outras pessoas receberam atenção da empresa, por exemplo, o cantor Neil Young, autor de um álbum intitulado The Monsanto Years. Entre outras coisas, foram examinadas as letras do álbum, a fim de identificar pelo menos 20 tópicos a contestar, eventualmente em tribunal.

A US Right to Know (Direito a Saber), uma ONG que utiliza a lei para conseguir acesso a documentos de interesse público, foi igualmente alvo do centro, cuja função oficial era recolher e analisar informação sobre “atividades criminosas, ativistas/extremistas, geopolíticas e terroristas que afetem as operações da companhia em 160 países”, respondendo em “tempo real” a ameaças de tipo físico, cibernético ou operacional, como escreveu alguém que trabalhava lá.

As acções em questão terão acontecido entre 2015 e 2017, e a Bayer sugeriu agora que nada tinham de anormal. Um porta-voz da empresa disse que o objetivo era apenas promover um diálogo justo e combater a desinformação, incluindo a contida no livro de Gillam. A jornalista trabalhou na Reuters durante 17 anos, e a agência diz que continua a apoiar os trabalhos que ela publicou lá sobre o assunto.

Fontes:

https://futurism.com/the-byte/monsanto-google-hide-unfavorable-news

https://www.theguardian.com/business/2019/aug/07/monsanto-fusion-center-journalists-roundup-neil-young

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/mundo/monsanto-tinha-um-centro-de-informações-para-combater-críticos-e-manipular-a-opinião-pública/ar-AAFzvac