Há quem os designe por “certificados Covid”, “passaportes de vacinação” ou mesmo “licenças de liberdade” (freedom passes), e têm sido alvo de duras críticas contando com a oposição de mais de 70 membros do Parlamento Britânico. Agora, são os líderes cristãos que manifestam a sua indignação contra a medida em preparação pelo Governo.
Numa carta aberta ao Primeiro-Ministro Boris Johnson, os diversos representantes de Igrejas Cristãs no Reino Unido apontam os três motivos essenciais porque a ideia deve ser rejeitada.
Em primeiro lugar, porque “se as vacinas são altamente eficazes (…) então aqueles que foram vacinados já receberam protecção”. Por outro lado, se os vacinados podem à mesma transportar e transmitir o vírus, ninguém pode ser considerado um “não-disseminador seguro”, o que torna inútil qualquer certificado.
Em segundo lugar, “a introdução de passaportes de vacinas constituiria uma forma pouco ética de coerção e violação do princípio do consentimento informado”. Além disso, a medida iria possivelmente estabelecer um “apartheid médico, em que uma classe inferior de pessoas que rejeitam a vacinação são excluídas de áreas significativas da vida pública”. Todos estes factores poderão, consequentemente, resultar no “fim da democracia liberal tal como a conhecemos e criar um estado de vigilância”.

Por último, as instituições cristãs nunca poderiam obedecer a esse decreto do Governo, na medida em que “para a Igreja de Jesus Cristo, fechar as portas àqueles considerados pelo Estado como indesejáveis seria um anátema para nós e uma negação da verdade do Evangelho”.
Entre os assinantes da carta estão vários ministros eclesiásticos, vigários e pastores das diferentes Igrejas britânicas, desde a Anglicana, à Presbiteriana, Baptista, Metodista, entre outras.
Por cá, uma das vozes liberais em Portugal, o colunista do blogue Blasfémias, Telmo Azevedo Fernandes, deixou o desafio à Igreja Católica Portuguesa: “Se a hierarquia da Igreja Católica Portuguesa quiser ainda mostrar alguma dignidade e fidelidade a Deus e não ao Estado, não seria indiferente a esta tomada de posição dos seus irmãos britânicos, pelo que aqui fica o apelo”.
Falsos argumentos q.b.
«se as vacinas são altamente eficazes (…) então aqueles que foram vacinados já receberam protecção». Não considera os que ainda não foram vacinados. A principal regra (desde logo, antes das vacinas) é separação física, para que pessoas infectadas sem disso terem conhecimento não contactem com pessoas não protegidas. Não é honesto olhar só para os vacinados e ignorar os ainda não vacionados.
«Por outro lado, se os vacinados podem à mesma transportar e transmitir o vírus, ninguém pode ser considerado um “não-disseminador seguro”, o que torna inútil qualquer certificado.» Põe no mesmo plano vacinados e não vacinados, no que respeita ao potencial de disseminação, sem considerar a abissal diferença de probabilidades de transmissão do virus entre as duas situações, agarrando-se ao pormenor de não haver garantia de que os vacinados sejam todos não-disseminadores. Não é honesto tratar probabilidades imensamente diferentes como se fossem semelhantes.
«constituiria uma forma pouco ética de coerção e violação do princípio do consentimento informado» Extrapolação abusiva. É um argumento semelhante ao que usam as testemunhas de jeová para impedirem os seus filhos de serem sujeitos a cirurgias, mesmo que tal conduza à sua morte.
«negação da verdade do Evangelho» é uma opiniãp religiosa que tem variantes entre os próprios religiosos. A sociedade não pode estar sugeita às «verdades» não consensuais. Nem queremos as nossas sociedades regidas por convicções religiosas. Disso já há por outros sítios e sabemos os problemas que trazem.