Inquietação“, a rubrica semanal de Sandra Santos, jovem escritora, professora e tradutora, todas as Sextas-Feiras no Notícias Viriato, onde os desassossegos e as inquietações da juventude (e não só) são transformadas em escrita e partilhadas livremente com os leitores.


Há coisas que preciso de dizer que já não têm que ver comigo.

Durante a minha vida inteira enviei centenas, senão milhares, de CV’s; fiz auto-propostas de estágios de todo o tipo; falei com A, B, C, D das empresas Y, W, Z; desdobrei-me em pesquisas, emails, contactos, estratégias; imaginei, tentei, desisti, voltei a tentar, imaginei, fracassei nas tentativas – e, sobretudo, cansei-me.

Estou Cansada.

Ninguém nos prepara para este mundo do faz-de-conta que todos vivemos à espera que passe, que amanhã seja melhor, que haverá de surgir a oportunidade, que pode ser que as coisas mudem, blá, blá, blá.

É cansativo. É tudo em esforço. É um mundo de LOUCURA consentida. Mas não é uma loucura salutar (essa, sim, é maravilhosa), é uma loucura de sprint diário para se enquadrar nesta sociedade a braços com a sua auto-suficiência. Como correr num piso de areias movediças?

A educação que recebemos é uma farsa. Induz-nos na máquina opressora que nos amarfanha para cabermos no molde que é “suposto”, “necessário”, “conveniente”. Dizem eles: “Tudo em nome de um futuro melhor”. Pois bem, tudo uma valente treta.

É preciso FALAR BEM ALTO:

Jovem, o que te ensinaram na escola, em casa, na vida, é produto de um sistema altamente viciado, programado, invertido e subvertido. E foi passado de geração em geração em modo repeat ad aeternum.

NÓS NÃO SOMOS MÁQUINAS. NÓS SOMOS HUMANOS.

Parece evidente, não é? Mas atenta à tua vida até ao dia de hoje – faz uma retrospectiva aos momentos mais marcantes da tua vida, o que vês nesses fragmentos? Que memórias te ficaram gravadas? Que sensações te fazem espoletar?

“Estuda, estuda, para dares gente na vida.” “Se tirares um curso superior, terás mais oportunidades.” “Aquele só fez o 12º?” “O que estás a fazer?” “Estás a trabalhar? “Estás parado?” “Há muito trabalho, mas há muitos malandros!” “São os pais que o sustentam.” “Nem para trabalhar serve.” “Estes jovens de hoje em dia só sabem é mexer no computador e pouco mais.” “Estes jovens gostam é da boa vida. Trabalhar que é bom, ‘tá quieto.”

Quantas destas frases não ouvem os jovens diariamente? Quantas destas frases não são respondidas com um acenar de cabeça, com um “pois é”, com um “é verdade”, com um “que sabe ele da minha vida, mas lá terei de responder para não me chatear nem julgar”.

Pois é, parecemos que temos sempre algo a provar ao outro. NÃO, NÃO TEMOS. O outro é o outro, com uma história diferente, com valores diferentes, com formas de interpretar a vida diferentes, e, sobretudo, com formas de estar, de pensar, de se expressar bem diferentes. Chega de anuir com um “sim sim” “não não” que só minoram o nosso poder pessoal.

É preciso chamar a atenção, expressar a nossa Verdade, doa a quem doer. Obviamente, com assertividade e convicção. Não é preciso agredir ninguém. É preciso explicar às gerações mais velhas que os tempos são outros assim como as vontades. É preciso recorrer à lírica camoniana, se for preciso (estou a brincar! era preciso aligeirar um pouco isto!) Há muita gente que ainda está sintonizada com as frequências salazarentas da “Paz e Pão”, seja a que custo for. Venha de lá a porrada da vida para endireitar a postura e o caminhar. Nada disso.

A vida não precisa de ser um calvário nem um vale de lágrimas. Menos, muito menos. A Vida é para se Viver. Se for com qualidade, integridade, amor, crescimento, alegria, felicidade, evolução, tanto melhor.

Se o ser humano se religar, de novo, ao seu Espírito, entenderá que tudo o que nos contaram foram narrativas sem ponta por onde se lhe pegue.

NÓS SOMOS PARA ALÉM DAS NARRATIVAS.

As narrativas são constructo humano. Já a verdade do nosso ser, embora invisível aos olhos, é visível ao coração. E, portanto, integrada na nossa vida através da matéria, da nossa existência terrena. O espírito manifesta-se na carne através do Homem – canal do divino.

Sim, somos um canal do divino. Ninguém na escola ou em casa ou no trabalho no lo disse, pois não? Como haveriam de o dizer se tampouco eles puderam aceder a essa Verdade-do-seu-Coração?

O que é que te chega através do divino que queiras partilhar com os demais? É toda essa informação mágica que te distingue, que te diferencia, que te singulariza.

Essa mensagem (mens agitat molem = o espírito agita a matéria) é a tua senha de libertação. Essa mensagem é uma energia que percorre o infinito até chegar até ti. E atenção que é um infinito acessível a qualquer um, não tem truques nem técnicas nem requisitos.

É um infinito que te acompanha desde sempre. É aquele sopro da deusa de que falam os poetas. É aquela respiração primeira. É aquela emanação através das malhas do grande-mistério. É aquele silêncio que tanto te diz. É aquela alegria que tremeluz no teu coração. É, por fim, aquela-coisa-que-ainda-não-tem-nome.

É esse o teu CV. Haverá alguma empresa que entenda que o nosso curriculum vitae (trajecto de vida) não se resume a 1 ou a 2 páginas, mas à Infinitude de todo o SER?

Haja Coração, haja Verdade. É preciso dar corda, é preciso re(a)cordar toda a Humanidade! 

Sandra Santos, jovem poeta e “artivista”, questiona o (seu) mundo a cada dia, sendo outra constantemente. Amante das artes, do humor, das viagens, das paisagens, dos mistérios, da magia do real, continua a deslumbrar-se com o visível e com o invisível.

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