Uma das maravilhas que derivam imediatamente da dignidade que cada ser humano tem é a liberdade. A liberdade tem muitos aspectos, e aqui vamos focar apenas alguns.
Em primeiro lugar, é fácil constatar que a liberdade não é absoluta.
Eu não consigo fazer tudo o que quiser, eu não sou um deus, eu tenho limites. Há barreiras naturais à minha liberdade. Esta afirmação, que pode parecer óbvia, não é bem aceite por muitos na prática.
A primeira limitação que têm todos os seres humanos é a sua própria natureza. Não somos pássaros e por muito que batamos com os braços não só não voaremos como não nos transformamos em pássaros; não somos peixes, e se tentarmos viver como um peixe, não só não nos transformamos num, como acabamos num cadáver afogado. Podemos fazer todo o tipo de operações cirúrgicas e transplantes, mas além de darmos cabo do nosso corpo (ou seja, de nós próprios) nunca isso nos transformará num pássaro ou num peixe.
Há coisas que não podemos mudar, por muito que o desejemos. Mas devemos desejar ser pássaro ou peixe? A nossa realização não será alcançada antes na plenitude e aceitação da nossa natureza original?
Costuma-se dizer que “a minha liberdade acaba onde começa a do outro”. Esta afirmação não trata simplesmente dos meus desejos não colidirem com os desejos dos outros; é mais profunda. Significa que o outro tem uma dignidade (que é o fundamento da liberdade, como dissemos acima) que tem de ser respeitada.
Significa que não basta um consentimento para se poder atropelar a dignidade do outro; ela tem de ser respeitada por si própria. Eu não posso tratar o outro como um objecto, mesmo que se empenhe em ser tratado assim.
Outro constrangimento da minha liberdade é que eu não posso negar a verdade. Aqui entende-se verdade em todos os sentidos, desde o que constato por observação até às verdades sobre o meu próprio ser. Negar a verdade corresponde a uma ruptura entre o nosso entendimento e a realidade, o que é autodestrutivo.
A mentira cria uma realidade alternativa, um mundo virtual, inexistente. Actuar e escolher em função dessa invenção leva aos erros mais grosseiros. E a realidade acaba sempre por vir bater à porta, pondo a descoberto todo o disparate.
A liberdade só o é na medida em que é exercitada. Uma permanente possibilidade de escolher sem escolher nunca, é uma liberdade em potência e não em acto.
Cada escolha limita, porque determina. O exercício da liberdade diminui as escolhas mas é precisamente para escolher que queremos a liberdade, e não para viver numa total indeterminação.
Mas se escolhemos podemos errar, fazer uma má escolha! Sim, claro, e poderemos também, em geral, rectificar. Temos de perder o medo a escolher mal, se esse medo nos inibir a exercer a liberdade. O que não quer dizer que não procuremos fazer boas e ponderadas escolhas.
A liberdade exige coragem, para decidirmos pela nossa cabeça e assumir as responsabilidades. Mas vale a pena.

Director do Gabinete de Estudos e Vice Presidente do partido Aliança