Além da falta de apoio institucional, Bari Weiss aponta o dedo à hostilidade dos próprios colegas jornalistas e à “guerra civil” que se vive nas redacções.

Demitiu-se esta Terça-feira, 14 de Julho, a editora de opinião do New York Times. Ao longo da sua carreira, Bari Weiss passou por diversos jornais históricos, como é o caso de Haaretz, o mais antigo jornal israelita ainda em actividade (desde 1918), e do Wall Street Journal, fundado em 1889. Descrita por si mesma como de centro-esquerda, e pela Vanity Fair como uma “provocateur” e uma “humanista liberal”, foi contratada pelo New York Times em 2017, com a missão de enriquecer o jornal com “vozes que de outra forma não apareceriam nas suas páginas: escritores iniciantes, centristas (moderados), conservadores e outros”.  Na sua carta de demissão, ela dá alguns exemplos da diversidade de perspectivas que trouxe ao “The Times”, desde “o dissidente venezuelano Wuilly Arteaga; o campeão iraniano de xadrez Dorsa Derakhshani; ao democrata cristão de Hong Kong, Derek Lam”.

Porém, segundo a agora ex-editora, desde as eleições de 2016 que a imprensa tem abdicado da “livre troca de ideias numa sociedade democrática” para dar lugar a um “novo consenso”, no qual a verdade já não é “um processo de descoberta coletiva, mas uma ortodoxia presumida por alguns iluminados cujo trabalho é informar todos os outros”. Mas o mais grave é o ambiente de perseguição interna em que Weiss passou a viver, só por divergir desse “consenso” ou pensamento único; tendo sido objecto de constante bullying por parte de colegas, por causa das suas opiniões – “Chamaram-me nazi e racista”, “o meu trabalho é abertamente desprezado”, “aqueles colegas vistos como amigáveis comigo são enxovalhados pelos outros”, e enquanto  uns “insistem que eu preciso de ser ‘eliminada’ para que a empresa possa ser ‘inclusiva’, outros postam emojis de machados ao lado do meu nome”.

Recusando-se a ficar em silêncio, Weiss ainda acusa o jornal de submeter a sua linha editorial ao “veneno online” do Twitter, segundo a ética e costumes dessa rede social. E acrescenta que a melhor forma de garantir a segurança no emprego, não é ser um jornalista ou editor ousado, que desafia a inteligência dos leitores, mas, ao invés, escrever mais um dos “4000 artigos sobre Donald Trump ser um perigo único para o país e para o mundo”. Em suma, “a auto-censura tornou-se a norma”.

Já no passado mês de Junho, também o responsável pela página editorial do mesmo jornal, James Bennet, se viu forçado a apresentar a demissão por pressão dos colegas; após ter sugerido o apoio militar à polícia para conter a anarquia provocada pelas manifestações organizadas pelo Black Lives Matter. Na altura, Weiss descreveu o ambiente do New York Times como uma contínua “guerra civil” entre jornalistas “wokes” (guerreiros da justiça social) e os que ainda defendem um jornalismo livre – uma guerra que também se viveria nas redações de outras “publicações e empresas”. E ao ver pela sequência de demissões, parece que os adeptos da liberdade jornalística estão a perder. Pois, para já, têm perdido o emprego.