A verdade realmente existe? Ou tudo, incluindo a verdade, é uma afirmação de opinião pessoal ou preferência? Em outras palavras: será que a verdade é relativa?

Para entenderem melhor, vamos por de lado o ponto-de-vista científico.

Sim, você pode estar sentado no sofá e ter a percepção de que não se está a mover, mas já que o Planeta Terra na linha do equador está a rodar a 1800Km/hora, você está, nesta perspectiva, movendo-se e bem depressa.

Mas eu não estou a falar dessa relatividade. Vamos nos focar em questões mais quotidianas da verdade, tais como:

Será que a verdade existe?

Em tempos, a resposta para esta pergunta era bem óbvia – geralmente reservadas a discussões bem profundas nos dormitórios das faculdades, mas já não é bem assim. A verdade está a passar por momentos bem difíceis.

Uma mulher branca identifica-se como uma mulher negra e representa-se como tal. Ela começa a subir nos rankings das associações de pessoas afro-americanas até que a sua “ficção” é exposta. Porém, passivamente, ela recusa-se a desistir. Ela sente-se negra e, por isso, ela só pode ser negra.

Um homem de 69 anos da Holanda faz petições para poder levar a tribunal a mudança de idade para 49 anos porque é assim que ele se sente. Começamos a ter cada vez mais homens (e cada vez mais rapazes), com todos os cromossomas e com as partes corporais que os fazem ser claramente homens identificando-se como mulheres, assim como começamos a ter cada vez mais mulheres (e cada vez mais raparigas) a identificando-se como homens. Eles sentem que são de um sexo ou do outro. Portanto, são daquele sexo e nós só temos que aceitar, independentemente do que seja a verdade. Num vídeo viral, um homem branco de 1,73m, americano, pede aos estudantes universitários de Washigton D.C. para lhe reconheceram como um Chinês, que tem 1,90m ou que é uma mulher. Alguns hesitam, mas ninguém lhe que o que ele está a dizer é mentira – que ele não é o que ele diz ser, pois isso seria “maldade” e “intolerância”.

Este relativismo de “verdade para si, mas não para mim” é desconcertante porque requer a aceitação de contradições óbvias, rejeição da realidade e do bom senso. Ao invés de ajustar as nossas vidas à realidade, a verdade é que tem de se ajustar a nós. Porém, é muito difícil de viver desta maneira, sem mencionar que é altamente impraticável. Nós confiamos em verdades universais independentes com o propósito de pensar claramente na condução da vida. Caso contrário, nós perdemo-nos muito rapidamente. Tem que existir coisas que simplesmente são – coisas que são verdade.

Então, o que é a verdade?

Em essência, a verdade é um casamento perfeito com a realidade. Uma estória, uma afirmação ou um credo é somente verdade se estiver alinhado com a realidade. É como uma chave de bocas ajustando-se perfeitamente em um parafuso sextavado. A realidade é o tecido da verdade; a realidade faz algo ser verdade. Dizer coisas como “a terra é plana” ou “a lua é feita de queijo verde” é algo falso. Porquê? Porque não se encaixa na realidade.

Até recentemente, o propósito de toda a educação em grande parte era da busca pela verdade. O lema da universidade de Harvard, por exemplo, é “Veritas”, latim para “verdade”.

Mas já não é mais assim.

Qualquer pessoa que diga que a educação deveria ser para a busca da verdade é imediatamente questionado com a pergunta: “verdade de quem?”

Vê-se constantemente pessoas a dizer “minha verdade” ou “é verdade para mim” ou “a sua realidade”, como se a verdade fosse uma mera opinião ou uma perspectiva. Nos Globos de Ouro de 2018, Oprah Winfrey disse a famosa frase “Falar a sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos”. Você poderá ter a sua experiência ou a sua perspectiva, mas não existe tal coisa como “sua verdade” ou “minha verdade”. Existe somente a verdade – que é a verdade para qualquer pessoa.

E existe um problema com “sua verdade”: Se “sua verdade” é verdade, qualquer pessoa que não concorda com aquela verdade deve estar errado. Isto para além de ser bullying intelectual, soa muito a narcisismo. “Acredite na ‘minha verdade’ – senão…”

Não é exactamente a melhor mensagem positiva.

Sim… a verdade está a passar por momentos difíceis.

Por tanto meta isto na sua cabeça: A verdade não pode ser relativa. Se ela for relativa, não é verdade. Dizer que “não há verdade para todos”, é declarar uma verdade para todos. A verdade não é uma opinião ou uma preferência. Não é subjectiva ou relativa. Ela é inescapável porque a realidade é inescapável. E essa é a verdade.

13 de Outubro de 2019

Tiago Cerejo Andrade