Na última Segunda-feira às tantas, na RTP 2, recordação potente das profundidades em que caiu a televisão pública.

Exibe-se um documentário sobre a “arquitectura moderna” – assunto que me interessa – e a obra de João Archer, o realizador de várias das grandes barragens que o Estado Novo fez erguer na década de 50. Narração miserável de aproveitamento e manipulação, não passavam cinco minutos sem que se lembrasse que as barragens violavam, no estilo e no propósito, a mundivisão de um Estado Novo “profundamente conservador”, avesso à novidade e contrário a toda a ideia de progresso e desenvolvimento industrial. Deu vontade de parar o programa, dar um estalo aos palradores e perguntar-lhes quem foi, afinal, que encomendou, pagou e construiu as barragens.

Acaba o documentário, passa-se para o intervalo. Mas não há intervalo para a lavagem cerebral a que esta gente despudoradamente submete o país: é transmitido o reclame que pede aos portugueses que vão à varanda grandolar no dia 25.

Depois, novo documentário, este sobre os horrores do “colonialismo” português em Moçambique e as façanhas da FRELIMO, a mesma cujas purgas, massacres, perseguições e razias aniquilaram a economia e reduziram o povo moçambicano à mais indizível miséria. Eis a programação da televisão pública no ano 46º da revolução.

O modo como alguns, que não são nem foram algum dia maioritários entre nós, se apossaram dos meios do Estado, os transformaram em feudo seu e os usam para mostrar quem manda é insuportável para dois tipos de portugueses: os que não são dessa esquerda e todos os que, até o sendo, percebem que numa sociedade aberta não pode haver apenas uma narrativa, nem ela pode ser usada como garrote para todos os outros. Quando se cala a Rádio Pyongyang?

Rafael Pinto Borges, Presidente da Nova Portugalidade