Mortalidade Materna quase duplicou em 2018 e é preciso ir aos anos 80 para ir buscar valores tão elevados. Mortalidade Infantil aumentou de 3,3 em cada mil nascimentos em 2017 para 4,2 em 2018.
No ano passado, o número óbitos perinatais (fetos mortos com 28 ou mais semanas e óbitos de nados-vivos com menos de sete dias) foi de 370, uma subida em relação aos 283 de 2017 e quase mais uma centena do que se verificou em 2013.

Dados da Pordata – Mortalidade Materna Só Esteve Tão Alta nos Anos 80
Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, em declarações à Renascença diz
“Outra situação que me preocupa, e que pode também ter algum impacto nesta situação, é a questão das dificuldades que existem neste momento no Serviço Nacional de Saúde: falta de equipas-tipo na área da obstetrícia-ginecologia, na área dos blocos de partos, também problemas com os enfermeiros e na constituição das equipas”
O Bastonário sublinha que existem “deficiências ao nível de capital humano nos serviços de saúde que têm tido uma repercussão significativa na área da obstetrícia-ginecologia” e o Governo sabe.
No ano passado, morreram 17 mulheres em Portugal devido a complicações durante a gravidez, parto e pós-parto (até 42 dias após o parto). Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados pelo Público, a taxa de mortalidade quase duplicou num ano, passando de 10,4 por cada cem mil nascimentos (nove mortes em termos absolutos) em 2017, para 19,5 mortes (17) em 2018.
Mas o que explica estes valores? Ao jornal Observador, a Directora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirma-se preocupada, mas não aponta causas. “Estamos a fazer um esforço para perceber o que aconteceu. Se isto é um valor padrão, ou se veio para ficar. Estamos preocupados, obviamente”, afirmou.

Notícia de 2015
Há uma relação directa entre esse indicador e a qualidade dos serviços obstétricos, acredita Alexandre Valentim Lourenço. “Não nos podemos esquecer que em 2018 foi quando houve a greve dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia e também quando começaram os problemas com as maternidades”, diz à Sábado o presidente da secção sul da Ordem dos Médicos.
Para o especialista, a explicação para este aumento terá a ver com uma conjugação de factores, mas pode ter na base o fato de “haver menos dinheiro e menos recursos”. A diminuição de recursos, o menor acesso ao serviço de urgência, os atrasos no diagnóstico são situações graves que precisam de ser avaliadas, considera.

Notícia de 2018
No ano 2000, a taxa foi de apenas 2,5 e, em 2005, 2,7. “Depois do 25 de Abril, e do investimento que foi feito nestes cuidados, os nossos valores foram sempre dos melhores da Europa”, diz Alexandre Valentim Lourenço. Actualmente estamos nos cinco piores. Nos últimos três anos tem havido cada vez mais mortes (em 2017, foram 9 mortes) e a tendência poderá continuar se as coisas se mantiverem tal como estão.
“Espero que este alerta seja suficiente para voltar a repor recursos e não termos este problema”, diz o profissional.
30 de Novembro de 2019