Os tempos em que as decisões políticas eram tomadas, ou pelo menos justificadas, baseadas em factos e em raciocínios com alguma plausabilidade lógica e causal, são há muito passados. Hoje, os políticos vivem dos sentimentos mesmo quando estes não fazem sentido.

Um exemplo: Mr. Andrew Cuomo, u sr. eng. Costa do estado de NY, para justificar um conjunto de medidas restritivas das liberdades individuais e coletivas consagradas na lei, terá declarado, numa conferência de imprensa a 20 de Março, que “se tudo o que fizermos salvar uma só vida ficarei contente.” A mesma rima tinha já sido antes rimada pelo sr. eng. Costa, u Mr. Cuomo cá do sítio, mas em português, quando uns dias antes tinha dito numa entrevista que “temos de dar tudo para salvar vidas”.

Salvar vidas é fantástico. É aliás esse o objetivo de inúmeras associações e movimentos pró-vida. Os movimentos pró-vida são baseados na sua grande maioria, não em sentimentalismo barato, mas num princípio básico e nas consequências lógicas desse princípio. O princípio básico é ‘não matarás’. A consequência lógica é que todos os atos que tiram a vida a um ser humano inocente, seja através do aborto, da violência do aparato policial, da cacotanásia, da guerra de agressão, da eugenia, da “justiça popular”, ou de qualquer outro tipo de assassínio, são ilegítimos e violadores da dignidade humana. Mas os movimentos pró-vida não são, na sua razoabilidade, uma batalha quixotesca contra a finitude natural da vida humana. Aceitam que a morte é uma realidade inescapável. O que defendem é que deve ser uma realidade natural—não um produto artificial.

Então qual é o problema de “fazer tudo” para salvar vidas? Um primeiro problema é ético. Por muito importante que seja uma vida, não é mais importante que a justiça. Ou a verdade. Ou a liberdade, ou a solidariedade que os homens devem uns aos outros, ou qualquer outra virtude. Frases que dantes pessoas comuns diziam como “antes morrer que mentir” ou “liberdade ou morte” têm por base a ideia de que uma vida tem valor na medida em que é bem vivida—no sentido de que é orientada para o bem. É lamentável, porque espelha a degradação sentimentalista atual, que haja muitos que já as não compreendam. Com Mr. Costa. Ou o sr. eng. Cuomo.

Um segundo problema é prático ou, para dar um tom nauseante ao tema, económico. A prudência nas decisões políticas e pessoais requer que se ponderem os custos com os benefícios. Nunca u sr. eng. Costa, nem Mr. Cuomo, quer antes quer depois da pandemia, dedicaram alguma vez 100% do orçamento dos seus governos a “salvar vidas”. Um deles é aliás mais conhecido pelas “cativações” que fazia ao que os seus orçamentos tinham dedicado a salvar vidas, nomeadamente ao serviço nacional de saúde, aos serviços de proteção civil e à segurança do aparato de armazenamento de armamentos bélicos. Há outros objetivos políticos e pessoais, para além de “salvar vidas”, que também necessitam e legitimamente merecem recursos económicos.

Se Mr. Costa e u sr. eng. Cuomo estivessem, de facto, empenhados a “fazer tudo” para salvar vidas podiam fazer duas coisas muito simples que salvariam milhares de vidas humanas inocentes. Uma era proibir o assassínio químico ou cirúrgico dos bebés antes do parto. Só em NY mais de cem mil pessoas seriam salvas por ano com uma medida legislativa muito simples. Não quer “fazer tudo” para salvar a vida a um bebé, Mr. Cuomo? Outra era impor um limite de velocidade de 5 km/h dentro das cidades, 10km/h na estrada e 30km/h nas autoestradas a todas a viaturas motoras. Só em Portugal centenas de mortos e dezenas de milhares de feridos seriam certamente evitados através da redução drástica de números de acidentes rodoviários, e da diminuição da gravidade dos restantes, que resultaria desta medida. Com certeza que não vai contabilizar os custos, económicos & políticos, de uma medida destas para salvar vidas, pois não sr. eng. Costa?

Os princípios éticos são facilmente demonstráveis racionalmente. Como aquele que diz que nunca é legítimo fazer o mal. Nunca. Em circunstância alguma. Ou aquele outro que postula que cada pessoa deve ser livre em escolher o bem que quer fazer e como o quer fazer. Todas as pessoas. Sempre. Dois princípios incompreensíveis para os sentimentalistas que tomaram conta de nós. Não apenas Mr. Costa. Nem u sr. eng. Cuomo.

José Miguel Pinto dos Santos

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece.