
É já muito velhinha a ideia de que o coração da filosofia ocidental, desde Platão (portanto, desde sempre), é como um daqueles trípticos devocionais de Hieronymus Bosch, cujo conjunto é renovadamente dedicado às ideias capitais do Verdadeiro, do Bom e do Belo. A ideia do verdadeiro escoltando a nossa busca cognitiva (interior e exterior), a ideia do bom norteando a nossa oscilação ética (privada e pública) e a ideia do belo inspirando a nossa vocação estética (natural e artística).
Farrapos de osso, oxigénio e carbono a boiar à toa num mundo sem sentido, escapulimo-nos de uma condenação irremissível ao absurdo agarrados à entrançada corda de salvação destas três ideias: sem o verdadeiro, jamais teríamos imaginado que o espaço-tempo pode ser deformado como um colchão ou que o ADN tem hélices como as videiras; sem o bom, jamais teríamos desvendado que todos os seres humanos nascem iguais em dignidade ou que a vida humana é sagrada e inviolável; sem o belo, jamais teríamos chorado diante um rosto de Rembrandt ou de rosáceas de catedral — ou do adagietto da quinta de Mahler.
O verdadeiro, o bom e o belo são o tripé em que assenta o edifício da civilização ocidental. Os dois primeiros, devorados pelo caruncho relativista, são já só o corroído esqueleto de si mesmos. O caruncho, devorador incansável, venceu e não cessa de pôr ovos: já nada é verdadeiro nem falso, já nada é bom nem mau. Tudo é relativo. O relativismo é o novo absolutismo. Mas ingurgitados os dois primeiros, o caruncho, devorador incansável mas insaciável, vai agora atrás do terceiro, o derradeiro pilar da civilização: a beleza. E a mais bela de todas: a feminina. Beleza de mulher, sem a qual jamais nos tornaríamos esta espécie singular de macacos que escrevem poemas e tocam piano.
O feminismo contemporâneo é o novo caruncho relativista, agora incumbido de devorar a beleza num festim público de celebração da fealdade onde as belas Afrodites são oferecidas em sacrifício nos altares ensanguentados das bruxas, feias e gordas, em noite de Walpurgis.
O verdadeiro, o bom e o belo, repito, são o tripé em que assenta o melhor da nossa espécie. Proibir a beleza é o triunfo das nossas invejas e a exaltação dos nossos remorsos. As feministas invejam os homens mas, pior do que isso, odeiam as próprias mulheres. O feminismo é uma forma de niilismo. O feminismo é a morte da mulher. E do belo. O moderno feminismo é o ódio ao Eterno Feminino. No novo Feministão onde imperam fanaticamente talibãs de ovários inúteis, as mulheres bonitas são os Budas de Bamiyan. Em breve as suas silhuetas serão reconhecíveis apenas a partir de escassos escombros por parte daqueles macacos que, ainda escrevendo poemas e tocando piano, guardarão memória do belo.
