No dia 6 de Novembro, Quarta-Feira, será lançado o livro “Um Século de Escombros – Pensar o futuro com os valores morais da Direita” de Gabriel Mithá Ribeiro. O lançamento da obra será na Livraria LeYa na Bucholz, em Lisboa, às 18h30 e será apresentado pela ex-Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
Gabriel Mithá Ribeiro, filho de pai católico e mãe islâmica, nasceu em Lourenço Marques em 1965. Tem ascendência africana, árabe e indiana e emigrou para Portugal, onde se licenciou em História e concluiu o mestrado e o doutoramento em Estudos Africanos. É docente, investigador e tem publicado textos científicos, ensaios, ficção e colaborado na imprensa, com destaque para as suas obras a “Estrada de Beirute” e o “Ensino da História”.
Em resposta escrita ao Notícias Viriato, o autor, relata a ocultação e “silenciamento” que o seu livro sofreu por parte da imprensa e do mundo editorial. Nenhum meio de comunicação social dominante noticiou o livro ou o seu lançamento até ao momento da publicação desta notícia. Nem o Observador, jornal onde o escritor várias vezes publicou os seus artigos, informou os leitores da sua nova obra.
Notícias Viriato (NV) – Porque é que este livro não foi noticiado pela comunicação social dominante?
Gabriel Mithá Ribeiro (GMR) – Os livros sobre pensamento social e político de esquerda – por norma de qualidade intelectual duvidosa – têm muitíssimas mais possibilidades de entrar na comunicação social dominante do que qualquer livro de Direita, salvo raríssimas exceções e de qualidade muito acima da média. Há muito que assim é em resultado do controlo ideológico radical do ensino, do superior ao básico e secundário, que com o tempo permitiu o mesmo tipo de controlo sobre a imprensa e sobre o mundo editorial. Inclusive, os critérios que têm justificado a seleção de livros para tradução, por exemplo, para a língua portuguesa obedece ao mesmo critério. Tudo isso são sintomas de uma nuvem pesada que tem afastado as sociedades, em particular as sociedades periféricas (como a portuguesa) e ultraperiféricas (como as africanas), da liberdade e do pluralismo intelectuais. Vivemos tempos de um desprezo endémico pela renovação do pensamento, tempos dominados por sintomas de regressão das mentes coletivas para um estádio tribal, mesmo no Ocidente. O mundo já foi mais civilizado. Os espaços institucional e público são hoje caracterizados pelo desinteresse de ensinar as sociedades a pensar com liberdade, e a renovar continuadamente o pensamento, estando sobretudo dominados pela pulsão da doutrinação dos ideais de esquerda que arrastou o nosso tempo para um ciclo civilizacional patológico. Qualquer livro que ameace minimamente esse ambiente não tem hoje direito a existência pública ou, no mínimo, tem de vencer muitos silenciamentos e resistências. É inevitável que aconteça o mesmo com o livro que agora publico. Apesar dos meus esforços e da editora, tem sido muito difícil dar visibilidade social à obra. Para mais trata-se de um livro que rompe ostensivamente com um consenso social negativo mentiroso em torno de Donald Trump, Jair Bolsonaro ou a Nova Direita Europeia, e fá-lo sem ambiguidades. Anoto que Um Século de Escombros foi interditado pela Livraria da Travessa, um grande grupo do Brasil que faz censura em terra própria e alheia, na sucursal que abriu em Lisboa. Se não fossem as costas quentes da imprensa e do meio intelectual e académico, ninguém se atrevia a este tipo de boçalidade. Salazar ao pé destes sujeitos era um menino de coro. Trata-se de livreiros progressistas que se escondem atrás de muito papel, das letras e da «cultura» para alimentarem a sua patetice primária anti Bolsonaro. Há, portanto, uma disputa moral que nos obriga, no domínio dos princípios, a pegar o touro incivilizado da esquerda pelos cornos. Caso contrário, continuaremos a viver em sociedades instáveis, injustas, sem prosperidade porque atoladas na falência moral e intelectual. De resto, em tempos já fui alvo de um silenciamento ostensivo na imprensa, descontados os silenciamentos dissimulados. No desaparecido jornal A Capital, o ilustre «democrata» Luís Osório afastou-me quando eu escrevia uma coluna ao lado de um outro farol da «liberdade de pensar», Daniel Sampaio, gente que se dá ao luxo de tecer considerações morais em defesa das «minorias» ou contra a Direita. Há, portanto, um lixo moral que nos atola e, na verdade, a Direita tem hoje os trunfos na mão para mudar o destino, contado que tenha consciência da necessidade de clarificar a sua ordem moral de modo que coincida com a busca de um mundo e de sociedades mais estáveis, mais justas, mais livres e muito mais prósperas. Nem sequer é difícil. O livro Um Século de Escombros – Pensar o futuro com os valores morais da Direita está aí para o comprovar.

NV – Qual foi a sua inspiração para escrever este livro? Qual o seu objectivo?
GMR –Um Século de Escombros não resulta de uma inspiração circunstancial. O livro é muito mais um ponto de chegada de um longo percurso teórico e empírico, é fruto de um amadurecimento académico ao qual conferi também um cunho político. No domínio teórico, procurei articular algumas obras de diversos autores que foram marcantes no meu percurso ao longo do tempo. Destaco Freud, Max Weber, Nietzsche, Karl Popper, Serge Moscovici, Kant, Edmund Burke, Roger Scruton, António Damásio e, mais recentemente, Jordan Peterson. Não se trata de uma mera lista para ostentar, mas porque são teóricos importantes que me têm permitido perceber como as sociedades pensam. Para percebermos o mundo temos de entender as árvores (os grandes autores), mas também a floresta (o pensamento de senso comum). É como se eu pegasse nas árvores para, depois ou ao mesmo tempo, tentar perceber a floresta através de um longo trabalho empírico que realizei em Moçambique, conversando com as pessoas comuns para perceber como pensam, trabalho realizado entre 1997 e 2015. Para além disso, a minha formação tem ajudado. Parti da licenciatura em história, mas depois enveredei pela sociologia do conhecimento com recurso a teorias e conceitos de psicologia social e, aos poucos, fui selecionando Freud e alguns filósofos que me permitiram ir consolidando esse caminho, para além de algum interesse na antropologia. Beneficio ainda, por causa das minhas origens miscigenadas e por viver em Portugal e trabalhar sobre Moçambique, do constante contraponto entre a Europa e África. De algum modo calhou ser este o momento para, por um lado, sistematizar um saber que, embora sempre limitado, acaba por ser cumulativo e já era tempo de lhe dar uma forma consistente e, por outro lado, para utilizar esse mesmo acumular de conhecimentos de forma pragmática e objetiva em prol de sociedades e de um mundo mais pacífico, mais estável, mais justo, mais livre e mais próspero. À medida que redigia o livro tornou-se para mim muito óbvio que tal apenas é possível se partirmos do primado moral, o referente fundador e mais importante da dignidade humana e da vida social. Essa é a razão de ser do livro que verifiquei também ser, ao mesmo tempo, a maior garantia do poder social e político da Direita no futuro. A conclusão da escrita é ambivalente: no mesmo ciclo em que as sociedades e o mundo se debatem com a falência de uma dada orientação moral e intelectual, essas mesmas sociedades e o mundo estão a revelar uma notável capacidade reativa para se renovarem por si mesmos. É hoje claro que o último ciclo teve início na Europa de Leste logo no final do Guerra Fria (1945-1991) e, neste momento, já se estendeu pela Europa Ocidental e pelas Américas, em especial pelos Estados Unidos da América e pelo Brasil, dois gigantes do mundo ocidental não-europeu. Vivemos dias promissores.
NV – Dedica este livro a “Donald Trump, Jair Bolsonaro, a Nova Direita Europeia e ao Povo de Israel”. Porquê?
GMR – Donald Trump, Jair Bolsonaro, a Nova Direita Europeia e, de modo mais consistente no tempo o Povo de Israel, valem hoje como símbolos maiores de um ciclo que se está a iniciar de renovação civilizacional, que inclui a profunda renovação das nossas democracias, cujo ponto de partida simbólico está a encerrar Um Século de Escombros, o título do livro. Está em causa um século terrível, talvez o pior de sempre na opressão da complexidade da condição humana e do mundo. O ponto de partida foi o advento do ideal soviético da vitimização enquanto valor moral supremo, uma perversão da moral social iniciada em 1917 que rapidamente se propagou pelo mundo no contexto da Guerra Fria. Donald Trump, assumindo o poder exatamente um século depois, tornou-se o símbolo do encerramento desse ciclo por liderar a maior potência do mundo, os Estados Unidos da América, momento que coincidiu com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, no Brasil, um país muito influente no hemisfério sul. Se bem que esse processo tenha tido início no coração da Europa nos anos noventa, o facto de ter saído do espaço europeu passou a dar uma dimensão histórica única ao fenómeno em causa. Ele nasceu da autonomia identitária dos povos, da sua alma coletiva. Isso tem sempre um profundo sentido moral e civilizacional. Porém, os sistemas de ensino e a comunicação social subvertem a interpretação do que está em curso em nome da sua fixação esquerdista-progressista, o que os leva a imporem às sociedades leituras contrárias à realidade, uma patologia mental (moral e intelectual) que felizmente só vai agravar a crise dessas instituições, a forma de se renovarem. O facto é que a ordem moral da vitimização, a fonte do secular desastre civilizacional inventado pelos soviéticos que contaminou toda a esquerda e o mundo, Ocidente incluído, está finalmente a ceder face ao poder moral e civilizacional da autorresponsabilização (individual, familiar, social, nacional) de matriz judaico-cristã e filosófica ocidental que, por um lado, se articula com a moral dos povos ancestrais e, por outro lado, tem sido sempre indispensável à viabilidade e fertilidade (social, económica, política, cultural) dos povos. Os soviéticos introduziram uma rutura profunda nessa tradição secular por retirarem a responsabilidade pelo destino próprio do interior da consciência do sujeito individual e coletivo para a remetem, no caso dos que se tomam como oprimidos, para fora de si mesmos, para os outros. Ora, isso gera inevitavelmente identidades individuais e coletivas especialistas na externalização de responsabilidades, na vitimização, e, por isso mesmo, estéreis, instáveis, infantis, violentas. Foi essa a oferta moral da esquerda ao mundo, oferecer aos pobres e aos excluídos (de povos inteiros a minorias) a transição de uma miséria historicamente circunstancial para uma miséria moral permanente e endémica. A esquerda ficará para sempre marcada pela responsabilidade de ter cometido crimes persistentes contra a condição humana num ciclo histórico como uma extensão inigualável desde que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso. Quando, por exemplo, Donald Trump reintroduziu de forma ostensiva ideais nacionalistas como America First ou Make America Great Again estava a recolocar o sentido civilizacional de autorresponsabilidade coletiva no âmago do debate político e civilizacional, a velha tradição de matriz ocidental, e isso é fundamental. Não é só da América que estamos a falar, mas de uma reinvenção profunda do modelo moral, cívico e político depois da catástrofe soviética. O problema é que temos meios universitários e jornalísticos que sistematicamente promovem a ignorância social, em geral confundindo no espaço público o acessório com o essencial. No acessório, é claro que qualquer político ou governo é criticável, mas quando nos permitem ser minimente inteligentes e justos é fácil verificar que, no essencial para a condição humana e para os destinos do mundo, é muito difícil não encontrar virtudes raras naqueles a quem dedico o livro. E são justamente os que mais alimentam a ideologia mais devastadora para a condição humana e para as instituições sociais, a esquerda, os que insistem em impor uma visão de fim de mundo associando-a a Trump, Bolsonaro, Nova Direita Europeia ou Israel, em vez de tratarem a sua grave patologia mental, moral, intelectual. Nietzsche que considerava não existir pior do que pensar de forma abjeta, não sei o que diria do mundo atual manipulado por departamentos universitários e por redações de jornais, rádios e televisões. Claro que toda a argumentação que apresento necessita de um sólido enquadramento, mas para isso existe o livro, uma obra que gostaria que ajudasse a refundar a Direita a partir do primado moral. E não parece complicado, basta que os argumentos do livro entrem na opinião pública e, por isso, quebrar essa barreira, numa certa perspetiva, é como quebrar a barreira do som.
NV – Onde é que as pessoas podem encontrar o seu livro à venda?
GMR – Nas grandes livrarias ou nas lojas online. Basta colocar o nome do autor e o título e pesquisar na Internet. Locais de oferta não faltam.

5 de Novembro de 2019