Noutras palavras, esquece tudo o que diz respeito à livre troca de ideias: a ONU considera que os seus “valores” estão a ser ameaçados e aqueles que criticam esses valores devem ser silenciados.
Como não podia deixar de ser, a ONU assegura a todos que “abordar o discurso de ódio não significa limitar ou proibir a liberdade de expressão. Significa impedir que o discurso de ódio se transforme em algo mais perigoso, particularmente o incitamento à discriminação, hostilidade e violência, o que é proibido pela lei internacional”.
Só que a ONU, sem a menor sombra de dúvida, procura sim, proibir a liberdade de expressão, em especial aquela que diverge das suas agendas. Isso ficou evidente no Pacto Global de Migração da ONU no qual está explicitamente proclamado que sejam bloqueados os recursos públicos destinados aos “meios de comunicação que promovem sistematicamente a intolerância, xenofobia, racismo e outras formas de discriminação contra os migrantes”.
O plano de acção da ONU contra o discurso de ódio contém uma definição do que a ONU considera como “ódio” e acontece que ela é a mais vaga e genérica possível: “qualquer tipo de comunicação feita por intermédio da fala, escrita ou de comportamento que ataque ou use linguagem pejorativa ou discriminatória em relação a uma pessoa ou a um grupo de pessoas com base em quem elas são, ou seja, com base na sua religião, etnia, nacionalidade, raça, cor, descendência, género ou outro factor de identidade “. Com uma definição tão ampla quanto essa, qualquer frase poder ser considerada de “ódio”.

Em Janeiro o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres encarregou o seu Assessor Especial para a Prevenção de Genocídio, Adama Dieng, a “apresentar um plano de acção global contra o discurso de incitamento ao ódio e crimes de ódio em ritmo acelerado”. Numa entrevista colectiva à imprensa sobre os desafios da ONU para 2019, Guterres adiantou que “o maior desafio que os governos e instituições enfrentam hoje é mostrar que nos importamos e encontrar soluções que respondam às apreensões e ansiedades das pessoas…”
Uma das respostas que Guterres aparentemente sugeriu, é acabar com a liberdade de expressão.
“Precisamos incentivar todo e qualquer segmento da sociedade na batalha pelos valores que o mundo se depara hoje e, em particular, lidar com a ascensão do discurso de incitamento ao ódio, xenofobia e intolerância. Ouvimos ecos angustiantes e abomináveis de eras passadas” destacou Guterres, “concepções venenosas estão a penetrar nos debates políticos e a poluir as correntes predominantes. Não nos esqueçamos nunca das lições da década de 1930. O discurso de incitamento ao ódio e os crimes de ódio são ameaças directas aos direitos humanos…”
Guterres ressaltou: “palavras não bastam. Precisamos de afirmar com propriedade tanto os nossos valores universais quanto tratar as principais causas do medo, desconfiança, ansiedade e ódio. Esta é a chave para congregar as pessoas em defesa desses valores que estão hoje sob grave ameaça”.
Noutras palavras, esquece tudo que diz respeito à livre troca de ideias: a ONU considera que os seus “valores” estão a ser ameaçados e aqueles que criticam esses valores devem ser silenciados. Como se isso não bastasse, a ONU, dissimuladamente, compara a dissidência em relação às suas agendas com a ascensão do fascismo e do nazismo na década de 1930.
Agora o plano de acção ao qual Guterres se referiu em Janeiro está pronto. Em 18 de Junho, Guterres apresentou a Estratégia e Plano de Acção das Nações Unidas contra o Discurso de Ódio:
“O discurso de incitamento ao ódio é… um ataque à tolerância, inclusão, diversidade e à própria essência das nossas normas e princípios dos direitos humanos”, salientou Guterres. Ele também escreveu o seguinte num artigo sobre o assunto: “para aqueles que insistem em usar o medo para dividir as comunidades, devemos dizer: a diversidade é uma riqueza, jamais uma ameaça… Nós nunca devemos esquecer, afinal de contas, que cada um de nós é um ‘outro’ para alguém, em algum lugar”.
Segundo o plano de acção, “o ódio está a inserir-se no contexto da maioria, tanto nas democracias liberais quanto nos sistemas autoritários. E a cada quebra de norma, os pilares da nossa humanidade são sacudidos”. A ONU vê para si um papel crucial: “por uma questão de princípios, as Nações Unidas devem confrontar o discurso de ódio a todo e qualquer momento. O silêncio pode sinalizar indiferença ao fanatismo e à intolerância…”
Como não podia deixar de ser, a ONU assegura a todos que “abordar o discurso de ódio não significa limitar ou proibir a liberdade de expressão. Significa impedir que o discurso de ódio se transforme em algo mais perigoso, particularmente o incitamento à discriminação, hostilidade e violência, o que é proibido pela lei internacional”.

A ONU deixa claro no plano que “implementará acções nas esferas global e nacional, bem como aumentará a cooperação interna entre entidades relevantes da ONU” para combater o discurso de ódio. Considera que “combater o discurso de incitamento ao ódio é responsabilidade de todos: governos, sociedades, sector privado” e prevê “uma nova geração de cidadãos digitais em condições de reconhecer, rejeitar e atacar o discurso de ódio”. Que admirável mundo novo.
No plano, a ONU conceberá inúmeras áreas consideradas prioritárias. Inicialmente a ONU “precisará saber mais para actuar de maneira eficiente”, portanto, permitirá que “entidades relevantes da ONU reconheçam, monitorizem, recolhem dados e analisem tendências de discurso de incitamento ao ódio”. Ela também procurará “adoptar o consenso sobre as causas e as razões que levam ao discurso de ódio a fim de tomar medidas necessárias para melhor resolver e/ou atenuar seu impacto”. Além disso, a ONU “identificará e apoiará os actores que procuram eliminar o discurso de ódio”.
As entidades da ONU também “implementarão medidas centradas em direitos humanos que visem combater o discurso de ódio retaliatório e a escalada da violência”, além de “promover medidas que assegurem o respeito aos direitos das vítimas e que suas necessidades sejam atendidas, inclusive suporte a recursos, acesso à justiça e aconselhamento psicológico”.
É preocupante que a ONU planeie pressionar directamente as fontes de informação e influenciar crianças por meio da educação:
“O aparelhamento da ONU deverá estabelecer e fortalecer parcerias tanto com os novos como com os tradicionais meios de comunicação no sentido de abordar as narrativas de discurso de incitamento ao ódio e promover os valores da tolerância, da rejeição à discriminação, do pluralismo e da liberdade de opinião e expressão” e “tomar medidas no tocante à educação formal e informal com o intuito de… promover os valores e práticas da Educação para a Cidadania Global e aprimorar a escrita mediática e da informação”.
A ONU está perfeitamente ciente de que precisa arranjar parcerias estratégicas com uma série de actores globais e locais, governamentais e privados, a fim de alcançar seu objectivo.
“A ONU deverá criar/fortalecer parcerias com as partes relevantes, interessadas/envolvidas, incluindo as que trabalham no segmento de tecnologia. A maioria das importantes medidas contra o discurso de ódio não será tomada apenas pela ONU e sim pelos governos, organizações regionais e multilaterais, empresas privadas, comunicação social, grupos religiosos e outros actores da sociedade civil “, segundo observa o plano de acção.” As entidades da ONU “, salienta o plano “deverão também engajar actores do sector privado, incluindo empresas que actuam no segmento de redes sociais, para tomarem parte nas medidas que possam apoiar os princípios e acções da ONU no sentido de enfrentar e combater o discurso de ódio, encorajando parcerias entre governo, segmentos de mercado e sociedade civil”. A ONU também preconiza que “fornecerá apoio aos Estados Membros no campo da capacitação e desenvolvimento de políticas para abordarem o discurso de ódio”.
O plano de acção também revela que a primeira iniciativa concreta já está programada. Trata-se de uma “conferência internacional sobre Educação para a Prevenção, com foco na abordagem e no combate ao Discurso de Ódio, que envolverá Ministros da Educação”.
O novo plano de acção promove o jogo da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), que procura há décadas proibir a crítica ao Islão. Na estreia do lançamento do plano de acção de Guterres, o Paquistão já apresentou um plano de seis pontos “para abordar as novas manifestações de racismo e ódio com base na religião, especialmente a islamofobia” na sede das Nações Unidas. A apresentação foi organizada pelo Paquistão, juntamente com a Turquia, a Santa Sé e a ONU.
Segundo os boletins de notícias, o plano foi proposto pela Representante Permanente do Paquistão na ONU, Embaixadora Maleeha Lodhi, em uma sessão intitulada “combate ao terrorismo e outros actos de violência com base na religião ou crença”.
“Um desdobramento particularmente alarmante é o surgimento da islamofobia, que representa a recente manifestação do antigo ódio que gerou o antissemitismo, racismo, apartheid e inúmeras outras formas de discriminação”, salientou a embaixadora no seu discurso. Ela ressaltou: “meu primeiro-ministro, Imran Khan, pediu recentemente, mais uma vez, uma acção urgente para combater a islamofobia, que é hoje a expressão mais predominante de racismo e ódio contra o outro”.
“Estamos totalmente comprometidos em apoiar a estratégia da ONU em relação ao discurso de incitamento ao ódio” salientou a embaixadora paquistanesa, “este é um momento para todos nós nos unirmos para reverter a onda de ódio e fanatismo que ameaça colapsar a solidariedade social e a coexistência pacífica”.
Em 2017, o vice-presidente de políticas públicas do Facebook, Joel Kaplan, segundo consta concordou com os pedidos do ministro do interior do Paquistão, Nisar Ali Khan, de “remover contas falsas e material explícito, abominável e polémico que incitem à violência e ao terrorismo” porque “toda a Ummah muçulmana ficou muito incomodada e cismada em relação ao uso indevido das plataformas de redes sociais para disseminar conteúdo blasfemo”.
Na ONU, a embaixadora paquistanesa Lodhi pediu intervenções de governos para combater o discurso de ódio, como legislações nacionais e ao que consta ela também “pediu a elaboração de uma estratégia mais focada em lidar com as inúmeras expressões da islamofobia. É necessário que haja uma abordagem ‘governamental como um todo’ e ‘da sociedade como um todo’. A esse respeito, a enviada paquistanesa exortou o secretário-geral para que ele se desse uma ampla gama de actores, incluindo governos, sociedade civil e empresas de redes sociais para tomarem providências e impedirem que os utilizadores das redes sociais sejam canalizados para fomentadores de radicalização online”.
A guerra total à liberdade de expressão da ONU avança.
31 de Julho de 2019
Fonte:
https://pt.gatestoneinstitute.org/14608/onu-liberdade-expressao