No passado dia 29 de Outubro, Simone Barreto Silva, de 44 anos, Vincent Loquès, de 55 anos, e Nadine Devillers, de 60 anos, foram degolados e esfaqueados dentro de um templo católico pelo sr. Brahim al-Aouissaoui, um tunisino de 21 anos, que proclamava a altos brados a sua fé berrando ‘Allahu akbar’. Que as suas almas se possam regozijar no seu encontro com o Senhor do Universo.
Este triste acontecimento deu azo a vários comentários, e este é um comentário a um desses comentários. Àquele que provavelmente é um dos mais tristes e feios dos que foram produzidos nesta periferia em que vivemos, revelador da miséria moral que as nossas elites políticas, desportivas, religiosas e artísticas gostam de exibir, e que foi feito pelo ainda sr. bispo[1] do Porto, o sr. Manuel Linda.
O que mais chama a atenção, não só na sua primeira reação pública, através do agora canónico twitter, mas também na ‘explicação’ que lhe seguiu, é a abundância do espírito de caridade que habita neste sucessor dos apóstolos S. Pedro e S. João. Nem uma expressão de compaixão para com as vítimas, nem uma palavra de consolo para com as suas famílias, nem uma reflecção escatológica que pudesse ajudar quer crentes, quer incréus, a perceber o significado profundo desta desgraça e a dar-lhes a esperança que Deus Nosso Senhor consegue obrar o bem até por cima do mal. ‘Consolar os tristes’, que era considerada uma das obras de misericórdia, não parece ser uma prioridade pastoral de sua eminência.
O que se nota a seguir, na sua declaração, é o negacionismo em que vive. Lemos logo na primeira frase: “O atentado de ontem, na catedral de Nice, não é luta do Islão contra o Cristianismo.” O sr. bispo parece não perceber que o clima religioso no mundo se tem vindo a alterar profundamente nos últimos quarenta ou cinquenta anos com a renovação e expansão Wahhabista por quase todo o mundo islâmico, e a proliferação de movimentos Corânicos por ela inspirados, espalhados de Mindanau a Manchester, do Peshawar a Perth, e do que isso implica não só em termos religiosos e culturais, políticos e militares, mas também para a vida diária dos habitantes de Nice ou Makassar. Assim parece pertinente perguntar: para que serve um pastor que não vê? Jesus respondeu: “Deixai-os: são cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova.” (Mt 15, 14)
Também é aparente, nesta frase do sr. Manuel Linda, o paternalismo cultural que impregna a mentalidade dominadora do hétero-patriarcado europeu branco que parece ainda perdurar na chancelaria da diocese do Porto, totalmente desajustada à nossa realidade sociopolítica: o sr. bispo alvora-se como porta-voz do islão sem que ninguém, que se saiba, lhe tenha passado procuração. Sendo um bispo católico, quanto muito, o sr. Manuel Linda poderia afirmar que ‘o cristianismo não está em luta contra o islão’. Agora, se o islão está em luta contra o cristianismo ou contra qualquer outra coisa, isso compete aos legítimos representantes do islão dizer, não a um clérigo budista ou hinduísta.
É certo que não existe na ulama uma autoridade humana suprema que possa falar por toda a comunidade islâmica, o que dificulta para os infiéis, como será o sr. bispo, perceber se o islão está em luta contra alguém. Mas isto não dá o direito a nenhum bispo católico de se imiscuir na vida da comunidade islâmica, de definir o que é haram ou que não é haram, quem são os amigos Allah e quem os seus inimigos. No islão, a autoridade suprema é a palavra de Allah, tal como transmitida fielmente pelo Corão, nomeadamente na surah 9:29: “Lutai contra os que não acreditam nem em Allah nem no Último Dia, nem obedecem às proibições de Allah e do seu mensageiro, e contra aqueles que, tendo-lhes sido dada a escritura, não tenham abraçado a religião verdadeira, até ao dia em que paguem o imposto, submetendo-se voluntariamente, totalmente humilhados.” É verdade que entre os crentes muçulmanos existem autoridades humanas importantes, reconhecidas pela sua interpretação autêntica do Corão, entre as quais estará o antigo primeiro ministro da Malásia e ex-líder do seu mais importante partido islâmico, o Dr. Mahathir bin Mohamad, que também por twitter (será que existe algo de infernal nesta coisa?), quase que em uníssono com o sr. Manuel Linda, declarou que os muçulmanos “têm direito a matar milhões de franceses”.
Explica o sr. bispo na mesma mensagem urbi et orbi que o atentado na catedral de Nice “é resultado dos preconceitos daqueles europeus que, não só não fomentam o diálogo intercultural e inter-religioso, como até estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões.” Portanto o culpado não é o tunisino sr. Brahim al-Aouissaoui, o que usou da faca, porque não cumpre nenhuma das três condições definidas pela cátedra episcopal da cidade do Porto, não só porque: 1) não é europeu, mas também porque 2) estava a tentar estabelecer um diálogo intercultural e, possivelmente, inter-religioso, da melhor maneira que sabia e podia e, finalmente porque 3) não se lhe conhece nenhuma acusação às religiões, pública ou privada, feita de dedo em riste, algo que, aliás, seria altamente inverosímil um verdadeiro crente em Allah fazer.
E quem serão então os europeus que não fomentam o diálogo inter-religioso e estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões? Parece obvio que quem melhor se enquadra nestas três condições são os ateus[2] do velho continente: estes 1) são europeus, 2) não se preocupam em fomentar o diálogo inter-religioso e 3) estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões. Parece portanto que, para o sr. bispo, são pessoas como Richard Dawkins e Bertrand Russell, Ana Gomez e Jerónimo de Sousa que são os culpados deste crime contra a humanidade. Ou será que o sr. Manuel Linda tem em mente algum seu paroquiano em especial?
Na sua segunda mensagem via twitter, a fazer exegese da primeira, o sr. bispo acrescenta: “O que se quer afirmar na minha mensagem anterior é que um fanático não representa o Islão.” Saboreie-se primeiro o arabesco da linguagem e note-se depois a precisão matemática da explicação: não basta um fanático. Então, … dois chegam? Como três é o número de implicados no crime, segundo as suspeitas da polícia local, será que então o islão já está devidamente representado? Mas o que parece mais estranho nesta explicação do sr. bispo às suas próprias palavras, é que indicia que este eminente eclesiástico ou não saber contar, ou que considera que os sete implicados no assassinato de Samuel Patty, bem como todos os outros muçulmanos que que diariamente, todos os dias, assassinam infiéis europeus bradando “Allahu akbar”, e que agora já são legião, não são fanáticos mas muçulmanos normais & moderados. Será que temos agora, finalmente, um sr. bispo a reconhecer que muçulmanos normais & moderados se sentem legitimados por uma autoridade superior a degolar infiéis que não se submetem?
Diz, depois, o pastor da diocese nortenha que “muitos que veem neste atentado uma guerra religiosa são quem mais desvaloriza as religiões.” Aqui o sr. bispo reforça a sua ideia de que são basicamente os irreligiosos[3]—que, por natureza e instinto, são aquelas pessoas que mais desvalorizam as religiões—que acham que este atentado faz parte de uma guerra religiosa. Ideia que, provavelmente, surge de um desconhecimento profundo do seu rebanho: haverá certamente na diocese do Porto, como em todas as dioceses por esse mundo fora, sacerdotes & leigos que, valorizando muito a religião fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, também se encontram de acordo com os irreligiosos e ateus seus concidadãos—aqueles que desvalorizam as religiões—e que com eles pensam que este atentado faz de facto parte de uma guerra religiosa—algo que o sr. bispo não consegue ou não quer ver.
Aqui talvez fosse pertinente fazer uma reflecção sobre as causas que levam algumas pessoas a desvalorizar as religiões. Será o avanço da ciência o principal motivo, ou serão os comentários patetas, pedantes e sem ponta por onde se lhes pegue que alguns srs. prelados twittam? Assunto que terá de ficar para outra ocasião.
Termina o sr. Manuel Linda dizendo que “[e]videntemente, condeno o atentado.” Como bom cristão que possivelmente será, com certeza que o sr. bispo não condena pecadores, mas pecados. Não condena portanto nem o sr. Brahim al-Aouissaoui, vítima inocente deste lamentável episódio, nem os ateus e irreligiosos “europeus que, não só não fomentam o diálogo intercultural e inter-religioso, como até estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões” e que são, tudo indica, quem estará verdadeiramente na origem deste ato bárbaro.
Condenará certamente a violação do quinto mandamento. Mas será que condena também o direito que os muçulmanos “tem [de] matar milhões de franceses”, reclamado pelo Dr. Mahathir bin Mohamad e por uma multidão de sheiks e mullahs, allamahs e ayatollahs, assim como pelos seus rebentos representados no sr. Brahim al-Aouissaoui? Fica a dúvida…
Islão significa submissão. Submissão do crente aus mandamentos de Allah, tal como expressos no Corão e na surah 9:29, e dos não muçulmanos às autoridades muçulmanas. Na Alemanha nacional-nacionalista alguns srs. padres e srs. bispos resistiram e não se submeteram, e sofreram por causa disso. Outros, preferiram submeter-se, calar-se e não denunciar a perversidade que podiam observar à sua volta. Outros até apoiaram o governo naquilo que em as suas opiniões pessoais concordavam com o que o regime fazia. Este ano, em Maio, a conferência episcopal alemã veio “confessar a culpa” da igreja católica na sua cumplicidade com o nacional-nacionalismo.
Dois bispos católicos em ato de culto, com Joseph Goebbels e Whilhelm Frick, a uma Autoridade Suprema
Os tweets do sr. bispo do Porto também parecem demonstrar a sua submissão. Provavelmente será apenas submissão ao politicamente correto e ao negacionismo da realidade socio-religiosa do islamismo contemporâneo. Mal estaríamos se fosse submissão ao que mullahs e allamahs ‘moderados’ reclamam, exigem e preveem para breve, quando falam em árabe nas suas mesquitas em Londres, Madrid e Estocolmo. Mas, caso o sr. Manuel Linda não se arrependa e não mude de vida, é previsível que daqui a umas gerações a conferência episcopal portuguesa também tenha de vir confessar a culpa da igreja católica na sua cumplicidade com os crimes do islamismo.
Pelo menos, sr. bispo, deixe de ser twit e feche a sua conta no twitter.
José Miguel Pinto dos Santos
U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam
[1] Bispo: peça de xadrez, com valor aproximado ao de um cavalo, que se move obliquamente podendo, ao longo de várias jogadas, avançar e recuar aos ziguezagues; dignatário eclesiástico, com valor aproximado ao de um ministro, que se move obliquamente podendo, ao longo de várias jogadas, avançar e recuar aos ziguezagues.
[2] Ateu: pessoa que não acredita em Deus mas presta culto a demónios, tal como ti Jerónimo de Sousa na sua devoção a Cunhal e Estaline; aquele que tem fé no ateísmo.
[3] Irreligião: uma das grandes fés deste mundo; a sua expansão nas últimas décadas é um dos grandes sucessos do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Até tinha o bispo em boa conta. Desiludiu-me profundamente, não me representa minimamente como católica praticante que sou
Esta reflexão está perfeita, faz eco ao meu pensamento
Estes Lindas fazem parte do suicídio do Ocidente e da própria Santa Sé.
Como alguém disse já, a igreja católica está cheia de Linda’s, mas cada vez mais vazia de fiéis.
Um personagem que profere disparates repugnantes, este Linda …