A censura de artigos e conteúdos desfavoráveis a Joe Biden atingiu o jornalista e Prémo Pullizer 2014, Glenn Greenwald, levando-o a demitir-se do jornal The Intercept, que ele mesmo fundou.

Na sua carta de demissão, as palavras de Greenwald são esclarecedoras quanto às suas razões: “as mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que assolam a imprensa nacional tomaram conta do meio de comunicação que eu co-fundei, culminando na censura dos meus próprios artigos.”.

O jornalista acusa os editores de violar o seu direito contratual de liberdade editorial: “censuraram o artigo que eu escrevi nesta semana, recusando a sua publicação a não ser que eu removesse todas as passagens críticas ao candidato à presidência pelo Partido Democrata, Joe Biden, o candidato fervorosamente apoiado por todos os editores do Intercept sediados em Nova Iorque”. Como se tal não bastasse, os editores levaram mais longe a sua “tentativa de silenciamento”, ameaçando o jornalista para não exceder os direitos do seu contrato para que não publicasse o artigo em qualquer outro jornal.

Nas palavras de Greenwald, a censura da imprensa, em particular, a artigos desfavoráveis a Joe Biden é como um vírus que “contaminou todas as organizações políticas convencionais de centro-esquerda, instituições académicas e redações. Eu comecei a escrever sobre política há 15 anos, com o objetivo de combater a propaganda e a repressão praticadas pela imprensa, e — independentemente dos riscos — simplesmente não posso aceitar qualquer situação, não importa o quão segura ou lucrativa, que me force a submeter meu jornalismo e minha liberdade de expressão aos seus sufocantes limites e a suas ordens dogmáticas.”.

Recentemente, também um artigo publicado pelo New York Post sobre a alegada rede de corrupção envolvendo Hunter Biden, valeu o bloqueio do histórico jornal por parte do Twitter; e vários jornalistas foram impedidos de entrar nas suas contas após o terem partilhado. Já no Youtube, os vídeos sobre o comportamento impróprio do candidato democrata com jovens adolescentes, e que lhe valeram a alcunha de “Creepy Biden“, têm igualmente sido frequentemente retirados – embora possam ainda ser visualizados em plataformas alternativas.

Tendo trabalhados em jornais prestigiados (Salon, The Guardian), Greenwald notabilizou-se pelas suas célebres reportagens sobre vigilância global, com base em documentos secretos revelados por Edward Snowden; as quais deram lugar ao livro No Place to Hide e ao documentário Citizenfour. Em 2014, cofundou o The Intercept com Laura Poitras e Jeremy Scahill, no qual veio a publicar o também célebre o caso das escutas de Sérgio Moro. Agora, resta-lhe assistir ao “espectáculo bizarro de ser censurado pelo meu próprio jornal”.

O artigo em questão acabou por ser publicado na íntegra no site pessoal do jornalista.