“Inquietação“, a nova rubrica semanal de Sandra Santos, jovem escritora, professora e tradutora, todas as Sextas-Feiras no Notícias Viriato, onde os desassossegos e as inquietações da juventude (e não só) são transformadas em escrita e partilhadas livremente com os leitores.
Portugal, eu tenho 27 anos, mas tu às vezes fazes-me sentir como se eu tivesse 800.
Esta adaptação do verso inaugural do poema “Portugal” de Jorge Sousa Braga, para mim, descreve uma geração que vive uma contradição entre o real e o expectável, entre a conjuntura e a aspiração; uma juventude fissurada entre a construção e a precariedade.
Por onde começar mesmo?
Falemos de mim, já que se é para dar o corpo ao manifesto que assim seja. Sem colete antibalas, porque, caramba, são demasiadas as proteções (e as restrições e as insatisfações e as indagações…).
Cumpri o serviço militar obrigatório até aos 18 anos. Perdão, reformulo: cumpri o serviço escolar obrigatório até estar apta a ser uma Adulta, bela, recatada e do lar (estou a brincar, tá?). Durante esses maravilhosos anos… recebi um treinamento em áreas diversas, com sistemas de avaliação multicolores e conhecimentos altamente inquietantes. Em suma, tudo uma valente salganhada de formatação e instrução.
Não vou entrar em detalhes nem tampouco destecer impropérios aos intervenientes desta história, porque, no final das contas, somos todos responsáveis pelo Estado em que o Estado está.
Avante, pois: andamos, então, durante 12 anos (in)úteis a ser instruídos sobre como foram, como são e como serão as coisas e, para isso, são usadas ferramentas várias, desde números, letras, elementos, datas, equações, tabelas periódicas de autênticos nadas…
A História é toda mal contada, mas convenhamos, durante 12 anos, qualquer mentira se converte em verdade.
A linha de montagem é engenhosa e o que interessa, em qualquer situação enfileirada, é ir para a frente. Então? Claro! “Nós temos é que ir para a frente!” “Se isto não vai para a frente…!”
O ser humano é adorável, não é? E eu cá tenho uma preferenciazinha pelo típico português. Adoro! Simplesmente, adotável!
Realmente, se eu quero ter melhores oportunidades, estudar é a solução. É. Mas estudar o que o Regime quer. Porque, se é para ser carne para canhão, convém me ir ambientando. É como a história do sapo. Mas que grande caldeirada.
Não me meto nessa. Descobri muito mais tarde, quando já estava eu para lá de enrascada. Isto de se despertar maior de idade, tem as suas vantagens. Descobre-se afinal que o que dá (mais) pena de prisão é ter consciência de que sempre se viveu numa. Olha que descoberta. Agora a vigilância é cada vez menos à paisana, agora a caça já não é às bruxas, mas sim às claras.
Já me precipitei – como a chuva após dias inteiros de sol; já para o finalzinho meio estranhos… É de bradar aos céus: – Mas que tempo é este?
Não sei. Entre instrução encartada e vigilância apertada, há pouca margem para o questionamento. Porque TUDO DEVE SER QUESTIONADO. E não tenhamos ilusões, o que agora dou por garantido, se dissolve daqui a um bocado. Tudo tem o seu tempo neste grande emaranhado de Ser e Existir.
Eu sei que é muita a informação e, antes, antes não foi? E, desde sempre, desde sempre não foi? É preciso voltar ao ESSENCIAL. Como dizia Pessoa, “O que há em mim é sobretudo cansaço”.
É preciso destralhar até a/à alma. É hora de desligar a televisão e sintonizar o coração.
Sem clichés nem com licenças. Viver é Maior que sobreviver.
Para me despedir, apresento eu um “com licença” e assim me ausento. Será breve, prometo. Enquanto isso, Vou Viver mais um poucochinho. “Nunca se sabe o dia de amanhã…”

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Cara Escrava Tuga…
depois do que li, espero que a Sandra não seja professora Estatal.
Aliás tenho de declarar que não entendo como é que “escolheu livremente” ser esse tipo de carne… para canhão!