O Raízes de Cortiça é movido pela electricidade patriótica do meu sangue e espírito. Assumiu a
missão de uma era de descobrimentos, mas com caravelas firmes na terra e nas suas profundezas
identitárias. Vemos na pátria uma árvore da qual os filhos comem os frutos dos seus próprios rumos
e gestos, sustentada por velhas raízes tradicionais, linguísticas, históricas. A saúde da árvore está nas
raízes que se alimentam da nossa água sentimental.
Gosto particularmente da analogia escorada na relação entre as nações e a mãe natureza. A vida
selvagem nasce, cresce e desenvolve-se num habitat próprio, que influencia a formação das
características naturais de certas espécies. Muitos animais servem a vida à terra; sem ela são
deixadas à mercê da erosão, da fome e da morte. Existe um patriotismo sem bandeira na
naturalidade, o que me leva a considerar que o patriotismo é natural, é parte hereditária e genética
dos seres.
O homem vive na constante contemplação de horizontes que o definam, mas as suadas rotinas dos
ofícios, os dons que a Providência distribui, as ramagens das árvores genealógicas e as orientações
do espírito moldam-se com o mesmo barro inaugural: a pátria.
Quando escrevi o poema “Micro-Pátrias”, escalei assoalhadas da mesma casa, camadas de unidade.
Um bairro, uma cidade e uma nação são expressões distintas da comodidade caseira. Qualquer
bairrista de Alfama é, naturalmente, lisboeta e português, mas cada realidade possui uma dimensão
simbólica e vivencial única. O bairro é um baú de fotografias infantis, um “olá” ao vizinho de
sempre, um pão que ainda chega quente à mesa. No fundo, é um corredor do próprio lar. A cidade já
nos sorri com monumental passado, desde as igrejas às diabruras escolares de cada um, para além
das velhas tradições, dos sabores e dos sotaques. A nação é tocar no céu da globalidade terrestre e
local, onde os heróis e obreiros dos séculos idos (como Viriato, D. Afonso Henriques, D.Dinis,
Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama, Luís de Camões, Fernando Pessoa, Amália Rodrigues ou
Eusébio, entre outros); os extraídos da terra popular (o Galo de Barcelos, o fado, a guitarra
portuguesa, o Coração de Viana, os Santos, etc) e os rostos semi-sagrados de Portugal (língua,
hino, bandeira brasão) são aceites no reconhecimento universal do que é a pátria, maior que a nossa
região, cidade ou bairro na sua essência vital e na consciência histórica de quem somos. Nasci em
Lisboa, cresci em Marzovelos (Viseu), considero-me viseense. Acima de tudo isso, sou português.
Até a alma de cada homem regressar à sua morada do antes e do depois, a Jerusalém Celeste, a
cidade edificada sobre as 12 colunas de Israel e governada por Nosso Senhor Jesus Cristo, seremos
pertença de nós próprios, da nossa essência, tal como a árvore carece e pertence à sua própria raiz.
Cada casa tem os seus problemas. Alguns de desordem, outros de cantos poeirentos, outros de
ausência estética. Portugal terá, certamente, falhas por corrigir, mas é exactamente essa a missão do
patriota: lutar por si e pelos seus, pelo eu e pelo nós, pelo indivíduo e pela comunidade. Sem
obliterar as falências nacionais, devemos aplicar (até no nosso quotidiano) a observação das nossas
valias: o português é dos idiomas mais falados do mundo, num milagre de relação território-língua,
a Portugalidade, expressa no Quinto Império, é uma identidade multicultural e única, da Europa, às
Américas, às Áfricas e às Índias, temos uma decoração paisagística variada de Norte a Sul, que tem
correspondência com as nossas tradições, gentes e monumentos, os nossos sabores são festas em
todos os paladares. Havia ainda tanto por dizer. Não é o mau fruto que condena a boa árvore. Somos
bons, sempre seremos.
Amemos Portugal, um dia esse amor será retribuído.
Francisco Paixão