Parece que a jovem Greta anda pelos EUA, já deu autógrafos, já se manifestou em frente à Casa Branca e já deu um grande raspanete emotivo nas Nações Unidas, onde disse mais uma vez, à ordem política e ao comum dos mortais, quão despreocupados, mauzinhos e egoístas somos, por conseguirmos dormir à noite sem estarmos constantemente a viver em pânico com as alterações climáticas. Façamos todos o acto de contrição, segundo as palavras da jovem na cimeira do clima da ONU, roubamos-lhe a infância e o futuro.

Parece que ouvir a jovem Greta é boa ideia; afinal, a melhor forma de se debater sobre políticas públicas ambientais é dar voz a uma criança de 16 anos. Graças à Greta fiquei a saber por exemplo, que há meios de transportes alternativos mais amigos do ambiente. Se o comum dos mortais, quiser locomover-se até aos EUA sem emitir CO2, pode simplesmente arranjar um milionário que lhe empreste um iate de luxo movido a energia solar. O comum dos mortais, banana como é, não deve saber que só demorará cerca de duas semanas a chegar ao destino, isso, e bastante dinheiro; mas, é precisamente aí que está a questão: Dinheiro! O que a jovem Greta e os seus co-religionários eco-activistas, se esquecem, é que o comum dos mortais não tem os meios, os contactos, o tempo ou o dinheiro, para velejar para qualquer lado num iate de luxo movido a energia solar. Ao contrário dos activistas e de algumas das elites políticas, o comum dos mortais, não tem tempo nem dinheiro para “salvar o mundo” do modo simplista, demagogo e revolucionário como estes sugerem ou exigem. Enquanto estes activistas “pensam” e vivem um “pânico incontrolável” e congeminam sobre formas “revolucionárias” para evitar o “fim do mundo”, o comum dos mortais vive preocupado, a pensar que tem de fazer contas para chegar ao final do mês e pagar a renda da casa.

Neste mundo de activismos de esquerda e respetiva apropriação de causas, olhar com pragmatismo para reações meramente emocionais direcionadas para problemas complexos, tornou-se polémico e condenável ao ponto de se ser chamado de “negacionista das alterações climáticas” ou ser-se acusado de despreocupação com o ambiente e com as gerações futuras; Emitir frases feitas: “Não há planeta B” e exibir cartazes em manifestações activistas tornou-se virtude das massas. É verdade não há planeta B nem C, nem D, é verdade o planeta é de todos, e é mentira que estou a ser mau com as criancinhas e com a jovem Greta em particular. A razão pela qual não estou a ser mau com a Greta é a seguinte: a jovem tem sido alvo de uma mediatização e adulação exacerbada e pior, tem sido alvo de uma instrumentalização por parte do lobby ecologista de esquerda. Tudo isto, não só é prejudicial para a jovem Greta, como para a credibilização da causa ambiental e das restantes crianças, que são levadas de arrasto para este activismo simplista de “slogans” para problemas complexos.

Esta é apenas uma demonstração de quão sociopata, incoerente e oportunista, o movimento ecologista se tornou: se por um lado, dizem estar muito preocupados com as crianças, por outro, instrumentalizam-nas, acendem nelas a faísca messiânica e revolucionária inerente à juventude, usando-as como ferramenta para uma agenda política e ideológica; Se por um lado, dizem que estão preocupados com as gerações futuras, por outro dizem ao “Zé-Povinho” que devia pensar em não ter mais do que um filho ou até nenhum, devido à pegada ecológica que estes acarretarão no futuro do planeta e que, até devemos festejar um País com baixa natalidade.

Cartaz em Sintra a Celebrar o Declínio Populacional

De todo o modo, desde a sua chegada a jovem Greta já deixou um recado para o Presidente dos EUA, por algum motivo, quando se trata deste assunto em específico, os activistas nem ousam mencionar Países como a Índia e a China, que são dos que mais emitem Co2. Este apontar de dedos selectivo não só é incoerente como conveniente.

Greta Thurnberg é o instrumento perfeito para os eco-activistas. Sendo a Greta uma criança/adolescente, este movimento tem os benefícios que estão acarretados a ter uma miúda inteligente e que fala bem, como figura principal do seu movimento; em última instância, a carta da moralidade identitária (a favorita dos movimentos de esquerda), pode ser sempre atirada a quem critique a Jovem Greta. Afinal, quem é que gostaria de ser acusado de “ser mauzinho e insensível” com uma simples e inocente criança?

O motivo pelo qual a Greta é um mau exemplo a seguir para os jovens não é pessoal, a jovem Greta é inteligente, fala bem para uma criança da sua idade e as suas intenções serão genuinamente boas. Porém, como diz o velho ditado: “De boas intenções está o inferno cheio”. A razão pela qual esta é um mau exemplo para os jovens, é o facto da sua percepção pessoal acerca das alterações climáticas ser binária e revolucionária. A realidade absurda do terror constante, que representa um mundo fantasioso e que, encoraja os restantes jovens a viverem em conjunto um activismo ressentido, meramente emocional (como se pode ver no seu discurso) que não só é prejudicial para a Greta como para os restantes jovens.

Não é segredo nenhum que Greta Thurnberg sofre de síndrome de Asperger, que este síndrome faz parte do grupo de doenças que integram o autismo e que, uma das manifestações deste síndrome é a obsessão por um ou dois temas muito específicos e a ansiedade; Greta sofre ainda de obsessão compulsiva e distúrbios alimentares. Não quer isto dizer, que pessoas que sofram deste tipo de síndrome não possam ser exemplos inspiradores a seguir! Não faltam exemplos de líderes que tiveram que lidar com problemas do foro mental, como depressão, ansiedade, etc. Contudo, os distúrbios dos quais a jovem Greta Thunberg padece e as suas manifestações, estados de medo e stress inescapável, depressão etc., numa jovem em crescimento, que ainda não tem o cérebro totalmente desenvolvido ou a experiência de vida suficiente para racionalizar e mitigar as suas próprias ansiedades, não lhe permitem crescer numa paz mental e de espírito adequadas, longe de ideologias e de aproveitamentos políticos. Neste caso, a sua ascensão ao estrelato mundial e a sua envolvência no alarmismo apocalíptico das alterações climáticas. Porquê?

A primeira vez que a Greta ouviu falar das alterações climáticas tinha apenas 8 anos de idade. Desde então ficou de tal modo preocupada que a levou a ter uma depressão. Parou de ir à escola, não se alimentou corretamente durante dois meses, chegou até a mostrar sinais de subnutrição e recusou-se a falar com quem quer que fosse que não os seus próprios pais e irmã. Aparentemente, o que fez a Greta sentir-se melhor foi envolver-se nesta “aventura ecológica” na qual as massas, (com influência dos meios de comunicação) embarcaram sem pensar duas vezes. A Greta como criança inocente que é, não só não se apercebe disso, como acha que a sua condição lhe permite olhar e refletir sobre este assunto com mais acutilância e preocupação arrogante que as restantes pessoas.

Talvez, seja por isso que a Greta é capaz de ver este assunto de forma tão binária, tão simplista, tão a preto e branco; se calhar, é isto que lhe confere a legitimidade para dar uns bons sermões.

Conforme foi dito pela jovem no seu discurso no World Economic Forum a 25 de Janeiro 2019 , que a catapultou para o mediatismo mundial: “Temos que parar as emissões, ou paramos as emissões ou não, vocês dizem que nada na vida é preto e branco, mas isso é mentira, uma mentira perigosa, ou prevenimos o aumento de 1.5 graus de aquecimento ou não, ou evitamos essa reacção em cadeia irreversível ou não, ou escolhemos continuar a civilização ou não, não há mais preto e branco que isto”.

Por muito espetacular e inspirador que a história da Greta possa parecer à primeira vista, a Greta é uma miúda com condições neurológicas graves que a tem feito sofrer. O dever dos adultos, em crianças que sofrem deste tipo de problemas, deveria ser de amenizar a sensação de paranóia e medo, não fomentá-la. Uma miúda nestas condições devia ser ajudada e acompanhada, a viver dentro do possível longe deste estado de constante medo. Contrariamente, a Greta não só está a ser adulada e levada a sério, como é até encorajada e encaminhada a carregar a cruz da humanidade, sem sequer se pensar acerca dos efeitos psicológicos que isto pode causar na jovem e até na procura de uma solução séria e realista para este tema. Quer isto dizer, a boa vontade da jovem não devia ser explorada e instrumentalizada para o bem estar da própria e para um debate racional acerca das políticas ambientais adequadas e exequíveis, sem frases feitas e sem discursos meramente emocionais.

Embora os eco-ativistas, digam que esta causa não está instrumentalizada, que é de todos e que estes é que estão preocupados com as gerações futuras, não é bem assim. Porque outro motivo é que se veem nas manifestações anarquistas do movimentos ecologista “Extinction Rebellion” a associação deste com movimentos radicais socialista e o hastear da bandeira comunista, com o martelo e a foice?

No discurso de Janeiro que tornou a Greta uma “super estrela” em Katowice, a jovem disse: “O meu nome é Greta, tenho 15 anos , sou natural da Suécia e falo em nome da Climate Justice Now.”

Ora, o “Climate Justice Now” é um grupo de organizações que procura lutar pela justiça social, climática e igualdade de gênero. A organização acredita que atendendo que o hemisfério norte causou as emissões elevadas de CO2, este deve pagar pelas asneiras do hemisfério sul.

Porém, convenientemente ou inconvenientemente, esquecem-se que para as emissões descerem, países em desenvolvimento como a Índia tem que fazer a sua parte, caso contrário as políticas que os Países desenvolvidos apliquem para a redução de CO2 tem pouca relevância a nível global.

Dos países que mais emitem CO2 – Estados Unidos, Índia, China, Russia, Japão, e Países da UE— apenas as emissões da Índia e da China continuam a crescer sem abrandamento.

Greta Thunberg, que ganhou mediatismo e reconhecimento internacional como jovem ativista (já recebeu prémio de Goldene KameraPrêmio Rachel CarsonPrémio Embaixador de Consciência da ONU e elogios acríticos de figuras como a Chanceler da Alemanha Angla Merkel, O Senador Socialista dos EUA Bernie Sanders e até do Papa Francisco), representou o grupo de organizações na conferência climática da COP24 em Katowice, na Polónia. Após as ondas de calor e incêndios florestais na Suécia, Greta protestou contra o governo sueco para forçar este, a lidar com questões ambientais. Antes de falar na conferência da COP24 da ONU, falou numa Ted Talk em Estocolmo.

Nesta Tedtalk, Greta refere a manifestação acima mencionada contra o governo sueco, em que como forma de protesto não foi à escola, sentou-se do lado de fora do parlamento sueco com uma placa dizendo “Greve da escola pelo clima”. Em consequência, inspirou protestos semelhantes noutros países, Portugal incluído, envolvendo mais de 20.000 estudantes.

Greta, no seu discurso em Katowice, explicou que os políticos costumam usar uma linguagem “verde”, progressista e amiga do ambiente, apenas para ganhar popularidade. Usualmente, uma mudança de linguagem no debate político gera mudanças nas políticas, devido à consequente percepção alterada da população sobre uma determinada questão. Assim sendo, a Greta ao usar uma linguagem simples e eficaz, está a explicar e a posicionar-se de um determinado modo relativamente a uma questão debatida na política ambiental global. De facto, existem duas posições principais no debate ambiental: um ambientalismo “verde progressista de esquerda”, (que tem mais mediatismo) com um lado obscuro e anti-humano, que teoriza acerca da sobrepopulação mundial e como o progresso tecnológico deve ser responsabilizado pelas mudanças ambientais. Do outro lado, um ambientalismo pragmático e realista quanto a medidas realistas e exequíveis, no qual a tecnologia é vista como uma ferramenta potencial para reverter os efeitos antrópicos das mudanças climáticas. De acordo com esta segunda visão, a sobrepopulação não é um problema por si só, mas a raiz do problema são as condições de pobreza e desigualdade difundidas pelo mundo e a ausência de tecnologia.

No seu discurso em Katowice Greta disse de forma directa e frontal: “We need to pull the emergency brake”“Precisamos de puxar o travão de emergência”, o que por outras palavras significa, que devemos parar imediatamente de fazer qualquer tipo de emissões de CO2, independentemente dos constrangimentos sociais e económicos que estes provocariam; ao invés de se debater e procurar políticas exequíveis de minimizar a emissão de gases de efeito de estufa.

Um exemplo: as mudanças climáticas estão a causar um aumento do nível do mar, levando uma maior concentração de sais nos campos costeiros usados ​​para agricultura, esse problema é uma realidade em países subdesenvolvidos como o Bangladesh.

Enquanto na visão de Thunberg e dos seus correligionários deveríamos interromper imediatamente a libertação de CO2 no meio ambiente, na visão de ambientalistas credibilizados, devemos desenvolver tecnologias que ajudem a manter a salinidade do solo em níveis que permitam o uso de terras costeiras para fins agrícolas.

Mas, a posição de Greta é obsoleta e utópica por causa do custo económico incrivelmente alto que a sua implementação acarretaria como os custos sociais e autoritários que implicariam. A própria Greta no seu discurso em Katowice, admite que a sua solução ideal não é politicamente possível, mas que isso levou-a a concluir e afirmar que: “we need to change the system – precisamos de mudar o sistema”, as suas ideias vão de encontro com aquilo que é uma visão radical de um ambientalismo ideológico, alinhado com a esquerda anti capitalista revolucionária; tanto, que algumas partes do seu discurso em Katowice mais parecem tiradas de um manifesto revolucionário: “We have come here, to let you know that change is coming, whether you like it or not. The real power belongs to the people. – Viemos aqui para vos dizer que a mudança está a caminho, quer queiram quer não, o verdadeiro poder pertence ao povo”. Além de revolucionária, a Greta partilha de uma visão ultrapessimista, no seu famoso discurso viral, Greta prossegue do seguinte modo: “Our civilisation is being sacrificed for the opportunity of a very small number of people to continue making enormous amounts of money. It is the sufferings of the many which pay for the luxuries of the few – A nossa civilização está a ser sacrificada por oportunismo de um pequeno número de pessoas continuarem a fazer uma quantidade exagerada de dinheiro, é o sofrimento de muitos que paga o luxo de poucos.” O paralelismo do discurso demagógico, simplista e utópico para um problema complexo, com as narrativas de movimentos ecologistas aninhados na extrema esquerda, leva a concluir que a apropriação das alterações climáticas e instrumentalização desta criança em particular, é simultaneamente, um meio e um peão para um fim político. Neste caso, para os movimentos radicais de esquerda implementarem a sua agenda: a limitação da iniciativa privada, aumento da carga fiscal, aumento do aparelho do estado, socialização dos meios de produção, em suma: a implementação do Socialismo.

Neste seguimento, recomendo aos leitores deste artigo, que percam tempo a ler resolução estapafúrdia do “Green New Deal feito no início deste ano, pela “nova estrela” da política democrata americana, a representante democrata socialista Alexandria Ocasio Cortez e a sua trupe, rejeitado pelo senado de forma unanime a 26 de Março apenas com um voto a favor.

Já neste caso, observou-se a instrumentalização de crianças e o incitamento a sentimentos de pânico e alarmismo, através da associação da representante AOC do Green New Deal ao movimento juvenil Sunrise Movement. https://www.nytimes.com/2019/08/02/the-weekly/democrats-climate-change-green-new-deal.html

Um episódio “caricato”, aconteceu no dia 25 de Fevereiro, quando as crianças do movimento Sunrise Movement encurralaram a Senadora Democrata Dianne Feinstein a exigir que esta votasse “Sim” na Resolução estapafúrdia.

Curiosamente, aquando das campanhas para as eleições europeias via-se o mesmo termo para propostas de lei do partido do ex-deputado do BE, Rui Tavares agora do Partido Livre: “Green New Deal para o planeta!”. Ainda disponível no site.

Igualmente, vê-se outras semelhanças, crescimento do Estado, redução das liberdades individuais, aumento da carga fiscal, limitação da iniciativa privada etc.

O debate das alterações climáticas, está demasiado instrumentalizado, politizado e partidariamente enraizado. A apropriação política de um tema destes, não permite um debate isento e sério, acerca das políticas públicas adequadas e razoáveis para enfrentar as alterações climáticas de forma realista. Mas essa é a ideia, a apropriação de um tema sério, ostracizar qualquer pensamento divergente do dominante e serem donos e senhores da narrativa.

A minha crítica ao ativismo de Greta e Companhia, não é uma crítica a todo o tipo de activismo. Houve de facto, movimentos activistas históricos na sociedade ocidental necessários para mudar paradigmas trágicos. O “Civil Rights Movement” nos anos 60, é apenas um dos muito exemplos de activismo benéfico e necessário. Exemplos de como a desobediência civil e a indignação moral foi mais do que acertada. Em oposição, o activismo das massas hoje em dia, aparenta ser de um interesse de demonstração gratuita, superficial, simplória; de um interesse competitivo da demonstração de pureza e integridade moral dos seus participantes; num ethos revoltado, ingrato, ressentido e ignorante com tudo que foi alcançado até hoje, pelo sistema capitalista que, com tanta leviandade criticam a partir das redes sociais nos seus Iphones. Uma multidão mimada, que toma por garantida a sua liberdade e que cospe no legado das gerações que lhes precederam. Uma multidão representada por uma miúda privilegiada que ousa dizer em lágrimas: “Roubaram os meus sonhos e a minha infância”. Alheada da realidade, esta multidão instrumentalizada aprendeu com os seus mestres, a ver a condição trágica da vida, à luz do oprimido vs. opressor. Esta multidão de revolucionários, sentindo-se em legitimidade para tal, decide incorporar esta doutrinação como absoluta e imperativa. Como é costume deste tipo de ideólogos das mais diversas causas, proclamam-se como legítimos representantes dos oprimidos de todo o mundo e das gerações futuras. Tudo isto, enquanto afirmam sentir-se vítimas sistémicas, do mesmo sistema do qual são usufrutuários; do mesmo sistema que dizem sem pensar duas vezes, que tem que ser destruído inequivocamente. Um colectivo inconsciente, que procura constantemente um opressor a quem culpabilizar por todo os males do mundo.

Quando os seus filhos lhe disserem que vão faltar às aulas para aderir a um protesto, veja qual o protesto, qual a origem do mesmo e quais as verdadeiras motivações dos organizadores. Um assunto como as alterações climáticas merece um debate e reflexão racional e moderada, não o fanatismo de ideólogos absolutistas e revolucionários.

Abel Tavares

1 de Outubro de 2019