Nasceu pobre com mais 10 irmãos e sem pai e à custa de trabalho árduo chegou a empresário de sucesso com um património de mais de 8 milhões de euros e sem qualquer dívida. O azar deste homem foi ter cruzado com o Estado Português que depois de o lesar, o deixou na completa miséria.
Foi o maior construtor e detentor de área urbana de Abrantes. Mas uma ilegalidade cometida pela Câmara Municipal haveria de o transformar num pastor (emprestaram-lhe um terreno e trata de 120 ovelhas, 18 burros e uma égua) a sobreviver com 300 euros de Rendimento Social de Inserção, venda de lenha e biscates por via de uma insolvência forçada que lhe levou também a casa, recomprada em leilão por amigos, para que pudesse regressar àquele que era seu lar mediante o pagamento de uma renda.
Este lesado do Estado com 10 anos já guardava gado e tal como muitos da sua época, concluiu apenas a 4 classe por ter de trabalhar para o sustento dos seus na agricultura. Aos 12 já era dono de porcos e ovelhas para mais tarde trabalhar numa fábrica de malas. Aos 16 passou a caixeiro viajante mas o 25 Abril de 74 havia de determinar a sua saída pois a revolução fechou metade das fábricas com as quais trabalhavam o que o obrigou a regressar à agricultura. Empreendeu depois na área da pecuária com um negócio de criação de gado e venda porta a porta dos produtos derivados, abastecendo todas as pessoas da zona. Começou em simultâneo a trabalhar como servente numa empresa de construção civil de Abrantes para mais tarde criar sua própria empresa de construção: a Construções Jorge Ferreira & Dias, Lda., uma empresa que o fez ganhar a alcunha do “Belmiro de Abrantes”.
Mas o destino haveria de o trair. Em 2000 é confrontado com um pedido de pagamento de uma espécie de “dízimo” à Câmara quando lhe fazem chegar uma factura de milhares de euros dizendo que “era normal pagar alguma coisa” caso quisesse que as suas urbanizações fossem aprovadas. Desde esse dia viu todas as suas autorizações de construção negadas: o projecto Urbanização Encosta Norte foi aprovado mas nunca obteve alvará ficando impedido de vender por falta de licença de habitabilidade; noutro pagou durante 7 anos a água aos inquilinos com água fornecida em contador de obras. Pelo meio, a descoberta de falsificação de documentos pelos serviços autárquicos e tentativas de corrupção para que os projectos seguissem aprovados e que apesar da sua queixa na PJ, foram arquivados. Quando surgiu a hipótese de vender por 2,5 milhões um terreno para a Ofélia Clube, acaba por ver o negócio perdido por desistência do Grupo de investidores porque o projecto pura e simplesmente não avançava.
Mas o pior estava para vir: o processo nº 1148/09, uma acção interposta pela Câmara Municipal de Abrantes em 2009, que acusava a empresa de Jorge Ferreira de apropriação de uma parcela de terreno no Olival do Barata, na Encosta Norte da cidade, uma acção fixada em 118 mil euros, um “erro” que não era erro nenhum da Câmara, que haveria de o precipitar para uma insolvência completamente desnecessária uma vez que à data tinha imóveis avaliados em 2,7 vezes o valor dos créditos a liquidar. Mais: tinha um pedido de indemnização de 6 milhões de euros à Câmara de Abrantes a decorrer no Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria já depois dos tribunais de Évora, Abrantes e Supremo Tribunal de Justiça o terem absolvido. Acabou aqui o inferno? Não. A Câmara de Abrantes continuou a insistir em tirar à força o terreno e interpôs novo processo desta vez para reclamar a separação da parcela à massa insolvente da empresa de Jorge alegando usucapião, também este negado pelo tribunal.
E que “erro” foi esse que deu origem a este maldito processo nº 1148/09? Uma empresa de automóveis vendeu à Câmara um terreno que não era seu mas sim de Jorge com hipoteca à CGD. Apesar do alerta nos serviços da câmara, de o mesmo ter provado ser o proprietário legítimo com documentos, foi totalmente ignorado. Em 2016 outro caso estranho: Jorge Dias havia assinado um contrato de promessa de compra e venda de um terreno seu para construção de uma ETAR com a Abrantáqua, uma empresa municipal, mas o contrato nunca foi cumprido e mesmo assim foi construída a dita ETAR sem autorização de Jorge.
Com a vida feita em cacos, este sobrevivente lesado do Estado que possuía uma empresa sólida e conceituada, espera agora na miséria absoluta, que a Justiça lhe reconheça o direito a uma indemnização de mais de 6 milhões de euros.
Ficou chocado com esta história? Saiba que por todo o país abundam testemunhos destes, presentes e passados, que apenas não foram notícia. Lembro-me de um construtor civil da minha terra ter-se suicidado por causa da Câmara Municipal de Viana do Castelo que o sufocou em dívidas e matou a sua empresa. Deixou carta a explicar. Outros não se mataram mas ficaram literalmente sem nada por culpa exclusiva de um Estado caloteiro, criminoso e desumano que os obrigou a recomeçar a vida do zero.
Porque o Estado não é nem nunca foi pessoa de bem. É um conjunto de escroques que servem o “amo” em Lisboa e servem-se a eles próprios pouco se importando com o rasto de destruição que deixam.
É este o Estado que temos. Resta-nos rezar para que tal como o Jorge, não se atravesse nas nossas vidas porque do Estado, meus caros, ninguém nos defende
Cristina Miranda
3 de Junho de 2019
Fonte:
https://blasfemias.net/2019/06/03/quem-nos-defende-do-estado/