Sabem qual foi a notícia mais partilhada da semana do Jornal de Negócios?
Esta Fake News!
E sabem que mais? Quase todos os demais jornais, incluindo o Observador a repetiram.
1 – Achei estranha a informação de que 50B€ “foram transferidos” de Portugal para offshores entre 2001-16. Com a nossa riqueza e ínfima taxa de poupança: “This smells like Fake News”.
2 – Procuro a fonte da informação no artigo e logo início temos:
“A conclusão é de um estudo da *Comissão Europeia*” que não é linkado e inclui-se foto de Pierre Moscovici, o comissário europeu dos assuntos económicos e financeiros.
3 – No final, o artigo inclui um gráfico cuja fonte é identificada como “Comissão Europeia” e com título “Transferências para offshore em % do PIB entre 2001-2016” que mostra Portugal em 3º lugar com 26%.
4 – Procuro o referido estudo e um dos citados no artigo envia-mo pelo Twitter
5 – Afinal o “estudo da Comissão Europeia” não é mais que um documento de trabalho (Working Paper 76) elaborado por consultores externos ao abrigo de contrato de apoio à Comissão com um disclaimer que “desvincula a Comissão quer das opiniões quer da correção dos próprios dados usados.”
6 – Procuram-se os dados sobre as “transferências para offshores de Portugal” do artigo e, Hélas!, afinal os dados do gráfico do artigo não são transferências mas sim riqueza detida em offshores, que em média foi 50B entre 2001-2016 e em 2016 era 47B€ (3 B€ menos).
7 – A conclusão que alguém com as sinapses funcionais tiraria é que a riqueza em offshores reduziu no período. Porém, a jornalista do Jornal de Negócios conclui que foram “transferidos” 50B€ entre 2001-16.
8 – Mais grave, ao refazer o gráfico para o formato do jornal:
a) altera o título erroneamente, e pior;
b) altera a fonte para “Comissão Europeia” violando flagrantemente os disclaimers quer dos autores quer da CE.
9 – O estudo em si comete erros de palmatória como comparar um variável de stock, como a riqueza, com uma variável de fluxo, o PIB, e usa pressupostos muito discutíveis para calcular o efeito fiscal que essa riqueza teria se não estivesse em off-shores, mas isso é discussão para outro forum.
10 – Em resumo:
a) O estudo não é da Comissão Europeia;
b) Não houve transferências de riqueza para offshores, e quando muito a riqueza que está em offshores reduziu;
c) O Jornal de Negócios e a sua jornalista manipularam informação de forma grosseira.
11 – Conclusão: Um bom exemplo de Fake News, jornalismo sem rigor e apostado em “clickbait” a promover o populismo e a ilusão de que há muitos muito ricos nesta choldra (que se tem falta de alguma coisa é de ricos).
Pedro Ramalho Carlos
26 de Outubro de 2019