Todos os homens têm a sua fase de ignorância (nem todos conseguem ultrapassá-la) e alguns a têm com bastante fervor e entusiasmo. O meu texto de hoje visa confessar que também eu a tive e graças a Deus saí dela. A minha fase de ignorância foi bastante política e bastante polémica. E de nada me adianta continuar com rodeios, na minha pré-adolescência desenvolvi um perturbado, mas fervoroso fascínio pelo nacional socialismo alemão e pelo trotskismo português. Ao mesmo tempo que erguia o punho ao ouvir os sermões de Francisco Louçã também ler Hitler e Goebbels me deixava deliciado. Que diabo estou eu a dizer? Como é possível? O nazismo assassinou milhões! Bem, o Holocausto não me fascinava, acreditava e acredito que foi um inferno na terra e cujos autores arderão eternamente no lago de fogo. O que me fazia aproximar do nazismo (e do trotskismo) era a luta… a luta, a mesma luta, de classes. Sei que as mentes bem-pensantes de hoje colocam uns na extrema direita e outros na extrema esquerda, mas eu não via a coisa dessa forma (sinceramente ainda não vejo). Ambas as ideologias (tendo certamente as suas diferenças na praxis aqui e ali) falavam intimamente ao meu coração, o coração de um jovem portador de deficiência motora, nada popular, pobre, com bastantes problemas em casa e sem um grande futuro pela frente. Ambas colocavam as culpas no Sistema, no Capitalismo, nas Elites, nunca em mim, nunca em alguém que eu conhecesse. A luta de ambas as ideologias era a mesma no sentido em que ambas dividiam e dividem a sociedade no “nós contra eles” e “bons contra maus,” eu sabia muito bem que existem consequências para todos os atos, eu apenas não estava preparado a admitir que esses atos não haviam sido praticados por nenhum “branco, rico, fascista e elitista” mas sim por mim ou pelos meus pais. O velho comunismo divide a sociedade em “proletariado vs patronato”, mas o novo comunismo reinventa e reinterpreta essa luta de tempos em tempos e assim é fácil seduzir as tais minorias em que eu me enquadrava. Porquê é que eu haveria de me dar ao trabalho de construir o meu futuro se eu poderia simplesmente erguer o punho e a voz exigindo qualquer tipo de “retribuição”? Era mais fácil. É mais fácil. Quando eu coloco a minha identidade na minha classe social ou na cor da minha pele eu não preciso treinar para ser um herói, existe um sistema que já recompensa muito bem as suas “vitimas.”
“A burguesia está prestes a deixar o palco da história. No seu lugar entrará a classe dos trabalhadores produtivos, a classe operária, que tem sido até os dias de hoje oprimida: está começando a cumprir a sua missão política; está engajada numa luta dura e amarga para tornar-se parte do organismo nacional. A batalha começou no campo económico; e terminará no político.“ Poderia ter sido dito por Louça há 13 anos ou por Catarina Martins ou Jerónimo de Sousa nos dias de hoje, mas foi dito por Goebbels em 1932 e por burguesia eu entendia todos aqueles que tinham uma vida melhor do que a minha, famílias não monoparentais por exemplo, os “grandes capitalistas” da televisão ou os mais pequenos capitalistas das esmolas que a minha família e as famílias do meu bairro recebiam frequentemente. Sim, esmolas era como eu via já que não via a solidariedade como uma virtude, mas como uma dívida, alguém me devia alguma coisa por eu ser pobre. Era assim para mim, sei que muitos ainda pensam desta forma. Nada mais errado.
É claro, existe de facto uma elite lá em cima, ela é composta por gente tão corrupta e tão gananciosa quanto os mais corruptos e mais gananciosos nos estágios mais abaixo. Ela é em larga medida composta por gente com uma ideologia semelhante aquela que eu tinha em vários pontos:
- Sou eu contra os outros.
- Eles estão em divida para comigo.
- A culpa é sempre do capitalismo.
- A culpa é sempre do outro.
- Tudo o que eu fizer “cá em cima” será uma retribuição justa por tudo o que eu sofri “lá em baixo.”
- Não existe lógica, moral, ética ou verdade acima ou além daquilo que são as minhas convicções.
Digam-me, estes pontos não vos relembram algo? Não é assim que as elites dos 50 tons de esquerda operam neste país há quase 50 anos? Eles gananciosamente usam a ganância do seu eleitorado. Eles, políticos e eleitores, dizem odiar a burguesia, mas… ou já pertencem a ela ou estão a lutar por pertencer.
Hoje, 13 anos depois quero pedir desculpa (não, não é por ser homem, essa conversa fica para uma próxima publicação). Quero pedir desculpa porque movido pelo ódio extremista e fanático destas lutas eu vi o meu próximo como o alvo a abater e acreditei que estava no centro do mundo. Errado. Basta destas lutas, de alemães contra judeus, de pobres contra capitalistas, pretos contra brancos, ricos contra pobres, isto não nos leva a lado nenhum e é nos dias que correm, dias de “Black (Some/Algumas?) Lives Matter”, ainda mais pertinente alertar para isto, o tribalismo político está em marcha nas ruas e pode destruir um mundo que é de todos nós. Nenhuma forma de coletivismo tribalista (e.g.: um pobre que só vota em partidos que a opinião publica lhe faz acreditar que o representam) faz prosperar um país.
Precisamos de um novo rumo, centrado na pessoa humana, na sua dignidade e na sua liberdade. Precisamos de união, de comunhão, não de coletivismo forçado, mas de cooperação dinâmica e livre. Precisamos de liberdade, principalmente de liberdade económica. Não podemos continuar a cair nos contos do vigário (que por acaso parece ter abandonado a semântica do “socialismo revolucionário” e é hoje conselheiro engravatado no banco de Portugal), não podemos continuar a depositar confiança em ideologias estatizantes e miseráveis criadas, idolatradas e fracassadas no século 20, não existem ditaduras ou genocídios desculpáveis. Trotski, Hitler, Lenine, Mussolini, Estaline e outros camaradas vermelhos com suas ideologias vermelhas inundaram países inteiros com o vermelho do sangue das suas vítimas incontáveis e todos eles começaram da mesma forma, colocando “nós contra eles” e prometendo que a mão do estado seria a mão do próprio Deus corrigindo as trapaças do diabo capitalista e burguês. Foi um inferno, será assim sempre que assim tentarem. Não deixemos que se tente de novo. Acabemos com a luta, acabemos com os divisionismos radicais, basta de ver “minorias” sendo usadas como peões neste xadrez sem fim. Olhemos para aquilo que é a imago Dei dentro de cada um de nós, dentro de todos os outros, pretos, brancos, amarelos, ricos, pobres, gordos, sportinguistas, homens ou mulheres.
Portugal terá futuro quando cada um de nós desejar o melhor para todos dando o seu livre e singular contributo, por si, pelos seus, por nós.
Ângelo Lima, 26 anos
Administrativo na Área da Saúde
Parabéns ao site e ao Ângelo pelo belo texto. Passei por cada uma dessas etapas tbm. Peço perdão a Deus e tbm agradeço todos os dias por ter plantado no meu coração o desejo de conhecer a verdade e conheço-lo como a substância desse mundo. Grande abraço aqui do Brasil