O Notícias Viriato inspirou-se num herói que não conheceu Portugal mas que Portugal conheceu. No sol temporal do século II a.C, Viriato, líder lusitano, ergueu o punhal resistente contra a soberba águia dos lábaros romanos e fez da humildade do seu sangue pastor um escudo contra invasões inimigas! Antes de tudo, a pátria é pertença, os lusitanos sentiam-se em casa no ventre do futuro Portugal, como se fosse um castro montanhoso, belo e forte. O seu pranto inaugural lá para as encostas da Serra da Estrela foi o primeiro hino português, uma profecia celtibera contada aos ouvidos rochosos da paisagem. 

Caio Vetílio, Cláudio Uninamo e Caio Nígidio, homens sobre sandálias elevadas, pereceram ao fio da espada lusitana. Roma, império bíblico profetizado por Daniel, tremia com o nome de Viriato.  Quando Fábio Máximo rendeu-se aos pés do génio militar de pedra e músculo, com 3000 mil romanos ceifados pelo fulgor da pertença. Sim, porque a pertença é a primeira forma de patriotismo, antes da bandeira, do hino ou do idioma. “Esta terra é nossa!” A poderosa águia romana humilhada por um pequeno e lobo!

Em 139 a.C, Roma enviou o general Servílio Cipião, que aumentou o charco de sangue romano. Viriato envia Ditalco, Minuros e Audas até Cipião para que a alva bandeira da paz se hasteasse entre os povos. A altivez romana, de peito de aço projectado, não consentiria a amargura da derrota. Cipião subornou os enviados de Viriato para que retirassem a vida do General Pastor. Enquanto dormia, foi-lhe acrescentado o sono sem regresso.

É hoje homenageado com o ferro ibérico das cidades de Viseu e Zamora, estátuas onde estende o braço para a imortalidade. Viriato semeou pelas terras do Portugal que não conhecia mas já amava, como um pai que ama o filho no ventre, o valor lusitano da resistência. Assim nos confirma a história em Aljubarrota, no Cabo das Tormentas, nas Invasões Francesas.

Obrigado, General Pastor!

Viriato

Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.

Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste —
Assim se Portugal formou.

Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.

(FERNANDO PESSOA)

Francisco Paixão