Artur Mesquita Guimarães, casado e pai de 6 filhos, cometeu essa enorme imprudência nos dias que correm, pensou pela sua cabeça e foi ler o programa da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, tendo chegado à conclusão de que aquilo que é ensinado nessas aulas é do foro íntimo do individuo e deve ser abordado, não na escola, mas em casa, no seio familiar. Os seus filhos não frequentaram as aulas desta disciplina e correm o risco de reprovarem de ano, apesar de não terem negativas noutras disciplinas.
Os actuais dirigentes do Ministério da Educação parecem discordar, e o documento intitulado: “Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania” de 15 de Setembro de 2017 diz o seguinte: “Reconhecimento, inscrito na Lei de Bases do Sistema Educativo e no Perfil dos Alunos, de que compete à escola garantir uma preparação adequada para o exercício de uma cidadania ativa e esclarecida, bem como uma adequada formação para o cumprimento dos objetivos para o Desenvolvimento Sustentável”. No meu tempo de estudante do ensino secundário, à escola cabia ensinar Matemática, Geografia, Português ou Ciências, aquilo que parece um avanço, é na verdade um retrocesso civilizacional enorme que nos deveria fazer corar de vergonha, estamos perante a abdicação da família de um dos seus papéis mais importantes, a educação, a capacidade da mãe e do pai educarem, naturalmente segundo as suas crenças, convicções e noção do certo e do errado os seus filhos, tomarem um papel activo e não deixarem para outros essa tarefa que lhes cabe.
Aparentemente nesta disciplina abordam-se temas tão dispares como media, sexualidade, segurança rodoviária, mundo do trabalho, bem-estar animal, saúde, igualdade de género e interculturalidade, entre outros. É uma amalgama de temas sem um fio condutor e sobretudo sem especificar que aspectos são tratados em cada uma das áreas. Provavelmente, a segurança rodoviária, saúde e literacia financeira são temas que não levantam problemas, e é verdade que bem precisamos de jovens mais conhecedores nestas áreas, o que não posso aceitar é que a esquerda nos diga que quem não quiser que a escola tome para si a responsabilidade de educar as crianças em temas como a sexualidade, seja um “teimoso desmiolado” como referiu num “tweet” Pedro Filipe Soares, deputado do Bloco de Esquerda”.
Esta noção que as crianças precisam do Estado para se tornarem “bons cidadãos”, porque os pais não as conseguem “enquadrar” é perniciosa, é a assunção de que os burocratas na avenida 5 de Outubro sabem incutir melhores valores que aqueles ensinados pelos pais, e isso não é de todo verdade.
Um liberal como eu, não pode ficar satisfeito quando a liberdade na educação se fica pela dicotomia público/privado, a mais importante liberdade a ser defendida hoje é a liberdade dos pais não se limitarem a terem uma palavra a dizer na educação dos seus filhos mas sim liderarem esse processo.
Na vida, às vezes é preciso coragem para ir contra a corrente e levantarmo-nos pelo que acreditamos que é correcto. Sob a capa de “educar para a cidadania”, esta disciplina ultrapassa tudo aquilo para que uma escola deve estar vocacionada, ensinar os alunos a pensar e não pensar por eles. Artur Mesquita Guimarães, os meus parabéns.

Coordenador da Iniciativa Liberal de Setúbal