Naturalmente, o Jornal Polígrafo tomou partido pelo Governo e respectivo Secretário de Estado da Educação no caso dos Alunos de Excelência de uma escola de Famalicão punidos e chumbados administrativamente, com retrocesso de dois anos, por não terem frequentado aulas de doutrinação sexual e ideológica conhecidas como “de cidadania”.

Em pelo menos dois artigos, escribas do Polígrafo deram e contorceram opinião vendida como “fact checking” e carimbada como verdade oficial. Duas perguntas às quais este alegado jornalismo de verificação de factos tentou responder foram:

Nuno Melo: “Alunos chumbam porque não frequentam aulas de ‘Sexualidade, Género e Interculturalidade'”. Confirma-se?

Escola do Porto questiona alunos do 5.º ano sobre a sua orientação sexual e a identidade de género?

Em resumo,

-No primeiro caso o Polígrafo classificou como Pimenta na Língua a declaração de Nuno Melo. “Pimenta na Língua” é uma consideração subjectiva e sem qualquer valor de discussão. O que distingue para o Polígrafo uma declaração falsa de uma declaração “Pimenta na Língua”? Trata-se de um artifício retórico para o qual uma resposta possível será dizer que o Polígrafo enquanto projecto jornalístico é Massa de Pimentão nas Amígdalas. Os factos podem ser falsos ou verdadeiros. Os divulgadores de factos falsos podem mentir ou estar equivocados. E factos imprecisos não são necessariamente falsos. Encerrar temerariamente questões com expressões infantis do tipo “Pimenta na Língua” não é uma maneira séria de verificar e classificar factos.

Nuno Melo podia ter-se equivocado e publicado factos inexistentes ou imprecisos. Provar que não se equivocou mas mentiu consciente e descaradamente, “Pimenta na Língua”, exigiria mais responsabilidade e método do que um simples carimbo à fact checking polígrafo. Na verdade, Nuno Melo não mentiu na publicação que fez no twitter. Foi, na pior das hipóteses, impreciso e não detalhou todo o programa das tais aulas de cidadania. No entanto, como confirma o próprio Polígrafo na sua verificação desastrada, Sexualidade, (Igualdade de) Género e Interculturalidade fazem parte do programa da cidadania. Assim, de facto, os alunos chumbaram por não terem frequentado aulas de Sexualidade, Género e Interculturalidade ( e restantes conteúdos da disciplina). Confirma-se a declaração de Nuno Melo como Verdadeira, provavelmente imprecisa, quase de certeza resumida para as limitações de caracteres nas publicações do twitter e focada naquilo que o eurodeputado achou mais importante destacar: é uma vergonha que se chumbem alunos de excelência por não frequentarem aulas de Sexualidade, Género e Interculturalidade.

– No segundo caso, a resposta factual é e deveria ter sido Sim: uma Escola do Porto questionou alunos do 5º Ano sobre a sua orientação sexual e identidade de género. O Polígrafo confirmou o documento distribuído a crianças e no qual elas deveriam responder às perguntas:

Namoras actualmente? Sim. Não.

Já namoraste anteriormente? Sim. Não.

Sinto-me atraído por: homens. mulheres. ambos.

Além disto, no preenchimento dos dados de identificação as crianças tinham como opção de resposta em “Sexo / Identidade de Género”:

– Homem. Mulher. Outro.

O jornalista Emanuel Monteiro podia ter-se poupado a uma vergonha e à desonra da sua profissão. Em vez de classificar a verificação como factualmente correcta e fechar o artigo (aquilo que um verificador de factos faria), decidiu justificar estas perguntas aberrantes com um Verdadeiro Mas…

É factualmente verídico que crianças ( 9/10 anos) foram questionadas sobre se namoram, já namoraram e se se sentem “atraídas” por homens, mulheres ou ambos ( adultos?) mas, Emanuel Monteiro justifica, tratou-se de uma “intervenção já habitual junto da escola, relacionada com a “prevenção da violência no namoro”. Ou seja, é Verdadeiro que alguém andou a fazer perguntas incómodas e absurdas a estas crianças mas podemos todos dormir descansados porque o senhor doutor Emanuel Monteiro informa que a Associação responsável pelo inquérito “é uma organização não governamental que procura dar respostas a questões sociais como a desigualdade, a discriminação, a violência e a pobreza”.

Com que direito questões sociais tão vagas e indefinidas capacitam uma associação para entrar numa escola e recolher informação sexual escrita sobre menores ? Como se previne violência no namoro perguntando a crianças de 10 anos se se identificam como Homem, Mulher ou Outro (Extraterrestre? Vegetal?). Não interessa, o documento é Verdadeiro mas Emanuel Monteiro achou-o bonito e razoável! Além do mais, como escreveu o reputado jornalista, a tal associação responsável pelo inquérito sexual a menores ” esclareceu ainda que as fichas, que não recolhiam dados que permitissem identificar os alunos”. Por “esclareceu” entenda-se: disse!

A partir do momento em que adultos distribuem inquéritos sexuais a crianças, passa a ser opção pessoal de cada um acreditar se essa recolha de dados foi feita de modo a permitir ou não identificar alunos. Nada foi verificado por Emanuel Monteiro que possa levar-nos a dizer que não houve essa recolha. Por exemplo, o grau de parentesco, idade, nacionalidade e escolaridade do encarregado de educação dos alunos constam como campos de preenchimento do documento. Um inquérito verdadeiramente anónimo não abriria hipótese para cruzamento de informação deste tipo. Mas o mais extraordinário é saber por que motivo Emanuel Monteiro achou importante sublinhar esse ponto. Alguém acusou a associação do contrário? O fact checking não deveria ser apenas sobre a falsidade ou veracidade do documento? Se as perguntas feitas às crianças não têm mal nenhum e a associação que as fez e recolheu é tão humanitária e credível, como é opinião implícita do Polígrafo neste falso fact checking, para quê tentar-nos convencer que nenhum aluno foi identificado ?

Bruno Filipe

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