“Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. Deem a cada um o que lhe é devido: se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra.”
(Romanos 13:3-7)
 
 
Quero começar este texto por definir conceitos, ou melhor, a minha perspetiva quanto a certos conceitos. Quero, na medida do possível e enquanto cristão protestante, responder a algumas perguntas, as quais são:
 
O que é o estado, e qual o seu papel na sociedade?
O que é ou que foi a eugenia?
Qual a relação entre a eugenia e o aborto?
Qual o papel do estado na discussão do aborto?
 
 
O que é então o estado (ou Estado, mas eu prefiro a primeira opção e talvez em um próximo artigo eu explique porquê) e qual o seu papel na sociedade? Não vou neste texto entrar em discussões ideológicas de capitalismo vs. socialismo, sou cristão protestante, conservador e capitalista, logo não creio em um estado do estilo polvo com os seus tentáculos sobre todas as esferas da vida de uma nação, não creio que o estado deva ter um papel de player na economia nem deva ser monopolista em nenhum setor da mesma. Creio sim, examinando o texto de bíblico de Romanos, uma carta do apóstolo Paulo, no capítulo 13 que o estado existe como “servo de Deus que porta a espada” para punir o culpado e proteger ou honrar o inocente. Nas palavras do apostolo Pedro em sua epistola com o seu nome, no capítulo 2 ele insta aos seus leitores: “Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem.” E se é difícil ler as palavras dos apóstolos no presente século vivendo em regimes de socialismo moderado ou mesmo em regimes de comunismo totalitário, imaginemos por um segundo quão difícil terá sido ler estas palavras no tempo de Nero, Herodes ou Agrippa. Não creio que tenha sido nada fácil entender que aqueles tiranos, três dos maiores perseguidores de cristãos da história, teriam sido na verdade colocados naquelas posições pelo próprio Deus. Talvez eles tenham pensado até nas palavras de Jesus a Pilatos, que humanamente falando era quem teria a vida de Jesus em suas mãos, “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado”. Portanto, existe sim um papel do estado e esse é o de “portar a espada” e parece-me que nem sempre o estado fará isso com sobriedade, nem sempre o fez. Não vou alongar-me neste ponto, não é o tema de hoje, mas posso tranquilamente afirmar que acima de qualquer estadista está o Senhor, e parafraseando Pedro no livro bíblico de Atos: “É necessário que primeiro obedeçamos a Deus, depois às autoridades humanas.” Se eu hoje quisesse realmente alongar-me neste ponto falaria de Daniel e seus três amigos israelitas que entre obedecer ao tirano Nabucodonosor ou a Deus escolheram a cova dos leões e uma fornalha infernal. Então, terminando, não existe nas minhas palavras nenhuma justificativa para obedecer ao estado quanto este desobedece ou nos impõe que desobedeçamos a Deus, tudo o que pode e deve ser entendido por hoje é apenas uma introdução a uma defesa bíblica da legitimidade do estado naquilo que hoje poderíamos entender como ministério da justiça e/ou ministério da proteção social. O estado é o agente colocado por Deus para “portar a espada”.
 
 
E quanto a eugenia, o que é? Ou, o que foi?
 
Parafraseando a Wikipédia (sim, eu sei que é uma fonte dúbia, mas até um relógio avariado acerta duas vezes): “o termo eugenia surge do radical grego “eu”, que significa “belo” e “génos” que significa “raça”, “estirpe”; etimologicamente significa “bom nascimento”. Essa teoria dos “belos genes” aparece no século XIX, quando o inglês Sir Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin, cunha o termo e o definiu como: “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”, portanto, afirma ser “a ciência da purificação racial”.” As ideias eugenistas fizeram sucesso entre as elites intelectuais de boa parte do Ocidente. Mas houve um país em que elas se desenvolveram primeiro, e não foi a Alemanha: foram os EUA. Não tardou até que os eugenistas de lá começassem a querer transformar suas teorias em políticas públicas. “Em suas mentes, as futuras gerações dos geneticamente incapazes deveriam ser eliminadas”, diz o jornalista americano Edwin Black, autor de A Guerra contra os Fracos. A miscigenação deveria ser proibida. Portanto, quando a Alemanha de Hitler começou a esterilizar pessoas com deficiência física e mental, em 1934, não estava a inventar nada. Só que eles foram mais longe. “Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo”, indignou-se o médico americano Joseph DeJarnette, que castrava pobres. Em 1939, os alemães começaram a matar pessoas com deficiência, em um programa de “eutanásia forçada”. Médicos usaram o gás inseticida Zyklon B para eliminar 70 mil pessoas “indignas de viver”. O programa foi suspenso após protestos, mas serviu de ensaio para os campos de concentração, onde Zyklon B exterminaria qualquer um que ameaçasse o projeto da raça pura e a consequente “melhora da humanidade”. A eugenia, portanto, foi um método de “justificativa genocida”. Existe eugenia hoje? Qual a sua relação com o aborto?
 
 
Agora chegamos ao ponto mais polémico do texto, a clara associação entre eugenia e aborto.
 
G. K. Chesterton começa seu livro Eugenia e Outros Males, de 1924, alertando que “o golpe de uma machadinha só pode ser contido enquanto ela estiver no ar”. Em muitas partes da Europa, incluindo o Reino Unido, a taxa de abortos após um diagnóstico pré-natal de Síndrome de Down é hoje maior que 90%. Na Islândia, onde os testes são generalizados, “basicamente erradicamos a síndrome de Down de nossa sociedade”, disse um geneticista à CBS, no ano passado. Na Dinamarca, onde todas as mulheres grávidas recebem exames de rastreamento desde 2004, o transtorno está caminhando para a “extinção”. Na Irlanda, um dos poucos países da Europa Ocidental onde ainda é comum encontrar pessoas com deficiências como síndrome de Down, os cidadãos votaram esmagadoramente ainda este ano para reverter as rígidas restrições constitucionais do país ao aborto. Como explica Jeff Jacob, entretanto, abortar um feto porque foi diagnosticado com síndrome de Down é um ato de extremo egoísmo e depravação. É a destruição de uma vida humana inocente pelos pais que querem um bebé – mas apenas se esse bebé for perfeito. Em todo o mundo, mas principalmente na China, milhões de meninas são abortadas todos os anos por pais determinados a ter um filho homem. A questão é que não há diferença moral entre abortar um bebé saudável por causa de seu sexo e abortar um bebé porque tem síndrome de Down. Ao contrário do que nos dizem os intelectuais “progressistas” não existe gente que tem mais direito ou menos direito a nascer, não existe desculpa para o genocídio, seja ele de judeus, de deficientes, de ciganos, de mulheres ou de pobres. O aborto, ou melhor, a eugenia, tem sido também uma espada, mas não punir o culpado, mas sim para punir o inocente. Multiplicam-se as ativistas dos jargões “meu corpo, minhas regras” e “eu não tenho que carregar a punição de ter sido violada.” Para o primeiro jargão basta por hoje esclarecer que durante o processo de aborto, quando o médico introduz o instrumento no útero da mulher, o bebé se afasta, fica agitado, seus batimentos cardíacos aumentam drasticamente, e ele foge desesperadamente numa tentativa inútil de preservar sua vida, a criança percebe o perigo mortal que está por vir. Quando o instrumento a pega, arranca suas pernas, seus braços, até separar todo o corpo da cabeça para destruí-la. E é assim que o útero deixa de ser um berço e se torna um túmulo. O assassinato está completo. É outro corpo que é dilacerado, não é o corpo da mulher. Quanto ao segundo jargão creio que basta explicar que a punição não está sobre a mulher, tal como eu disse acima, o estado deve sim “portar a espada” e punir…, mas quem? A mãe? Não, ela foi vítima, não deve ser punida. Então, o bebé? Qual a justificativa para desmembrar o filho de um violador? Deveríamos então passar a desmembrar as vítimas de todos os criminosos a partir de agora? Ou isso só deve ser legal quando a vítima não tem escapatória possível e procura apenas continuar a ter o abrigo seguro da mulher a quem um dia chamará ou chamaria de mãe? Confesso que não consigo escrever sobre o assunto sem virem lagrimas ao meu rosto, é genocídio, estamos a falar de genocídio. E quando os intelectuais da esquerda advogam o aborto é curioso eles usarem as “minorias étnicas e sociais”, é como se eles realmente estivessem a admitir que realmente estão a advogar pela chacina de pobres, ciganos ou deficientes. Ora, eu nasci enquadrado nesses três grupos, eu sou cigano (do lado materno), eu tenho uma deficiência motora rara e eu venho de uma família realmente pobre. A esquerda certamente usaria o meu caso como bandeira pela liberalização do aborto, e eu morreria, como tantos outros como eu têm morrido. Ainda hoje, 37% dos abortos nos EUA são praticados pelos membros da comunidade negra, que representa, porém, apenas 13% da população dos EUA. Graças a Deus a esquerda não teve papel de decisão na minha vida e então posso escrever tudo isto hoje. Nas estimativas que encontrei todos os anos cerca de 55 milhões de mulheres abortam, matam, desmembram os seus filhos. A clínica de abortos mais famosa no mundo é a norte americana Planned Parenthood (Paternidade Planeada… é um nome sarcástico, só pode) que é obviamente idolatrada e financiada pela esquerda americana, quer seja o Partido Democrata quer sejam artistas como Miley Cirus ou Ariana Grande e tem como fundadora uma eugenista racista e com ligações ao KKK.
 
Creio que por agora disse tudo o que deveria quanto à clara e polémica associação entre a eugenia (que não ficou no passado) e o aborto (que por estes dias é chamado de “interrupção voluntária da gravidez”, ora, a novilíngua é uma outra artimanha da esquerda, não há nenhuma interrupção, pois não há como retomar a gravidez, não há como voltar atrás, e eu garanto que o bebé não se voluntaria a nada, ele é morto antes de poder aprender as suas primeiras palavras). Passamos ao último ponto, o estado como garante da vida nesta discussão do aborto.
 
Sou fundamentalmente conservador, mas com umas pitadas de liberal, não creio que o estado deva interferir em toda e qualquer ação humana, creio no valor divino da liberdade, e creio que a liberdade não é sinónima de libertinagem. O que quero dizer com isto? Dou o exemplo do casamento homossexual (e é agora que perderei o apoio de muitos camaradas… mas caminhem comigo, estou a falar de casamento enquanto contrato civil, não como um sacramento cristão), não creio que o estado deva proibir alguém de se unir, creio enquanto cristão protestante que a relação homossexual é pecaminosa (se o homossexual não se arrepender será condenado “naquele dia”) tal como creio que o adultério é pecaminoso (se o adultero não se arrepender será condenado “naquele dia”) e no entanto o estado não policia ou criminaliza o adultério, o estado embora seja um “servo de Deus” não é um “embaixador do reino de Deus” ou seja, enquanto estivermos deste lado da eternidade o mundo sempre tolerará o pecado, não existem estados cristãos ou teocráticos cristãos, “o meu reino não é deste mundo,” disse Jesus a Pilatos. Um dia será, mas não é o tema de hoje. Hoje um dos pilares da democracia é a separação entre Igreja e Estado e isso resulta entre outras coisas em liberdade religiosa, ninguém é hoje forçado a converter-se ao cristianismo sob pena de fogueira, e ainda bem. Nenhum homossexual ou adultero é apedrejado, e ainda bem. Então embora a Igreja deva sim exortar o pecador ao arrependimento, ela não deve esperar que o estado policie a cama de alguém. No entanto creio que certos valores constitucionais só são hoje estimados porque nos foram revelados por Deus, entre os principais está o valor da vida e o direito à mesma. Diz o terceiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos que “Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” E, como já vimos anteriormente o estado tem este papel a desempenhar, o papel de proteger a vida. Quando a ideologia substitui o valor intrínseco de toda e qualquer vida humana, a despeito de etnia, religião, classe social, etc., o estado passa a punir o não nascido. É desolador pensar que ao longo da história o estado tem “portado a espada” contra o inocente, tem assassinado milhões de bebés cuja “culpa” é “terem sido concebidos fora de tempo”. Quando alguém viola, esse tal, e não o seu filho, deve ser punido. Quem deve temer a espada é o malfeitor, não o feto fruto dos seus atos. O estado, deve defender a vida, deve defender o inocente, o desprotegido. E quem pode estar mais desprotegido do que aquele que está preso ao útero daquela que o quer matar? Vou terminar com a confissão de que provavelmente haverá uma segunda parte deste texto. O estado como garante da vida é hoje uma ideia tida como retrograda neste mundo pós-moderno, os intelectuais dos nossos dias querem a interferência do estado em tudo… menos nas duas áreas para as quais o estado foi por Deus instituído. A mesma esquerda que é contra a pena capital do violador, vocifera pela destruição de cada membro do seu filho, faz sentido? Não, mas a ideologia nunca fez sentido. Defender a vida, desde a sua concepção, isso sim, faz todo o sentido.
 
Deus nos ajude.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ângelo Lima, 25 anos
Administrativo na Área da Saúde