“Budapeste não é um circo”, lê-se no cartaz do Fidelitas, a juventude do Fidesz. Não é preciso ser-se letrado em Húngaro para se decifrar a mensagem. Basta prestar atenção ao trio, todos sujeitos bem apetrechados para disputar a competição “Quem parece saído do circo”?

A política contemporânea não cessa de nos surpreender. Em vez de concorrer a um lugar no circo, os ditos apresentaram-se às próximas eleições para a câmara municipal de Budapeste. Inacreditável. Após lerem o parágrafo que vos preparei sobre cada um dos candidatos, aposto, o pasmo será ainda maior.

A primeira vez que deparei com uma foto de Gergely Karácsony, dada a sua expressão facial e a ideologia vincadamente inclusiva do partido de que é líder, pensei tratar-se dum doente mental. Juro que não estou a ser sarcástico – com os problemas de saúde, não se brinca. Piada parece a carreira política de Gergely. Atual presidente da junta de Zuglo, bairro de Budapeste de que único digno registo é o nascimento do meu gato, cabeça de lista pelo MSP às Legislativas do ano transato com um resultado bastante abaixo das expetativas, suficiente, no entanto, para lhe assegurar um lugar no parlamento e dar voz aos néscios que nele depositaram confiança e que – esperemos – terão ficado irados por o ver renunciar ao posto, de modo a poder apresentar-se às presentes Municipais. Gergely é, nada mais, nada menos, do que o típico político à procura de poleiro e privilégios. Com a agravante de se cobrir de pele de cordeiro e de andar de bicicleta, atraindo assim os votos de patetas e otários.

Acreditar em Gergely Karácsony, cujo apelido significa literalmente Natal, equivale a acreditar no Pai Natal, em plena idade adulta. Senão vejamos outro episódio e que atesta a sua insaciável fome de poder. Alguns meses atrás, antes da recolha das assinaturas, Gergely e outros camaradas de esquerda levaram a cabo uma separada eleição entre todos os partidos da oposição, tentando incluir no pacote Jobbik, a infame extrema-direita Húngara, conhecida por bonitos atos cívicos, como cuspir nos “Sapatos no Danúbio”, um dos mais importantes memoriais ao Holocausto.

Devo dizer que tenho um certo apreço por Róbert Puszér, o homem do megafone. Partilhamos um par de opiniões-chave, no que a Israel toca e no asco para com o choradinho dos progressistas em relação à imprensa, tão detentora dos media quanto a direita. Dá-me até alguma pena ver o rapaz – de quem, diga-se, também discordo nuns quantos tópicos – nesta embrulhada. Puszér deu-se a conhecer ao mundo magiar, através de comentários duros e brutos aos concorrentes dum programa de televisão. Tal estilo pode, no entanto, combinar com as atuais tendências da política mundial. Contudo, Puszér peca por excesso de intelectualidade, por se revelar uma criatura das cavernas. Devia voltar à gruta o quanto antes. Não é a este campeonato chamado.

Falando em campeonato, Krisztián Berki é um ex. jogador de futebol, tornado celebridade pública pela personalidade provocadora. Contrariamente ao preconizado pelas Gretas deste planeta, usa uma camisa diferente todos os dias. Tal como a ativista sueca, não lava o cabelo, sendo distinto o motivo: não tem. Perdoem-me a graçola fácil, mas Berki não passa dum entertainer na campanha.

O atual presidente da câmara, István Tarlós, no posto há três mandatos, apoiado pelo Fidesz, tem acompanhado ativamente o crescente desenvolvimento de Budapeste, tornando, ano após ano, a cidade num polo de eventos de diversos quadrantes, invulgarmente segura no contexto europeia, dinâmica e divertida, atraindo turistas de toda a parte do mundo. Acrescente-se um encómio aos transportes públicos, na mão duma empresa estatal: no centro da cidade, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, um elétrico move os cidadãos de e para o trabalho, de e para a farra noturna. Em Setembro passado, durante a rodagem dum filme em Budapeste, Scarlett Johansson expressou a sua admiração com o esbelto aspeto de Budapeste e com a presença massiva de mulheres, sozinhas ou acompanhadas de crianças, na rua, algo ímpar na nossa Europa ocupada.

Budapeste certamente não será um circo a partir do dia das eleições, 13 de Outubro, Domingo. Continuará, sim, a ser a cidade em que a Europa ainda se pode permitir a ser ela própria: Europeia.    

Vítor Vicente