Publicamos em Exclusivo para o Notícias Viriato um Testemunho Escrito e Fotográfico, em Primeira Pessoa, da Escravidão Infantil em África, provocada pela Indústria “Verde”.

Algumas ONG´s internacionais, como é o caso da insuspeita Anti-Slavery Society, fundada em 1839, apontam para a existência actual de cerca de 5 milhões de crianças em situação de escravatura no mundo inteiro. São números que, à primeira vista, poderão parecer exagerados na visão de um cidadão ocidental, que dificilmente estabelece contacto directo com esta realidade trágica. No entanto, os números pecarão por defeito. É uma realidade que conheço bem desde há muito, tendo participado em várias acções internacionais de salvamento de crianças nesta situação, nomeadamente no Nepal, nos últimos anos, situação que ainda acompanho.  

Em 2013, colaborei com algumas agências Americanas que promovem o desenvolvimento dos cuidados de saúde em países de África, e viajei pelo Ghana, pelo Uganda, Rwanda, Togo e outros países africanos. Além de documentar a rede de cuidados de saúde, sistemas hospitalares e distribuição farmacêutica às populações, tudo isto subsidiado pelo Governo dos EUA através da USAID e de outras organizações, era importante fazer um estudo do impacto dessas acções nas populações locais. Visitei famílias nas suas casas particulares, escolas, centros de produção agrícola e fabril, e centros culturais.  

No Ghana, uma das fontes de rendimento da população agrícola é o óleo de palma. São inúmeras as explorações por todo o interior do país, tendo visitado algumas delas e tendo-me deparado com a brutal realidade da escravidão e dos trabalhos forçados a crianças de tenra idade, algumas nem sequer com idade para começar a frequentar a escola. Imensas multinacionais, como a Colgate-Palmolive, a Procter&Gamble, a Unilever e muitas outras, utilizam o óleo de palma na produção de cosméticos. Também é utilizado na indústria alimentar, e ultimamente como substituto dos combustíveis fósseis, por exemplo na produção de gasóleo ou biodiesel.  

Segundo o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, em 2018 foram incorporados 38 milhões de litros de óleo de palma no gasóleo produzido em Portugal, sendo a maior consumidora a própria GALP, ajudada por estas medidas legais “verdes” impostas pelos nossos “brilhantes” políticos ecológicos, como medidas de combate à poluição dos combustíveis ditos fósseis.   Sendo a produção global de óleo de palma causadora de enorme destruição da floresta, com o desaparecimento de muitas espécies vegetais, esta produção está também na base de uma das maiores infâmias da humanidade, a escravidão, nomeadamente a escravidão infantil e os trabalhos forçados.  

Milhares de crianças, muitas em idade pré-escolar, são forçadas a trabalhar nas produções de óleo de palma, fazendo esforços que não se coadunam com a constituição de uma criança em crescimento, estando mal alimentadas, algumas mesmo sub-nutridas, sendo por vezes vendidas pelas próprias famílias aos proprietários destas fábricas, outras sendo obrigadas a trabalhar de manhã à noite, em detrimento de estarem na escola, o local natural para uma criança em crescimento.  

Quando abastecermos o carro de combustível ecológico, ou quando comprarmos produtos cosméticos, não nos esqueçamos disto, a hipocrisia que está por detrás de muita desta indústria verde, dos eco-políticos e de muita demagogia hipócrita com que somos bombardeados todos os dias.   Deixo o meu testemunho fotográfico de várias explorações de óleo de palma no Ghana.    

Rui Pires, Fotógrafo