Os dois colunistas Tavares, do Público, são farinha do mesmo saco. Portanto, se o Rui já pontifica na telescola, João Miguel para a telescola, já!

No Público, de 12 de Maio de 2020, João Miguel Tavares declarou: “eu assumo-me como um colunista de direita”. Mas isso não o impediu de, mais uma vez, atacar Nuno Melo, na sua polémica com Rui Tavares, também cronista habitual do Público e, este sim, assumidamente de esquerda: “de facto, não só não fiquei a assistir enquanto Nuno Melo estava a ser ‘ferido’ por causa da polémica da telescola, como fui um dos que lá foram espetar a faca. Com muito orgulho, ainda por cima” (Público, 12-5-20). 

O assumido ‘colunista de direita’ fez suas as dores do errático Rui Tavares, conhecido militante do Livre, depois de o ter sido do Bloco de Esquerda e que, portanto, deve ser um ‘democrata’ à moda de Lenin, Stalin, Mao-Tsé-Tung e da dinastia Kim. Este Tavares, ‘colunista de esquerda’, dantes intitulava-se ‘fundador do Livre’, menção que deixou de aparecer mais recentemente, talvez por ter enjeitado o partido, o que é compreensível, ou o partido a ele, o que também é explicável. Ora pode-se ser, ou deixar de ser, militante ou dirigente de um partido político, mas não fundador: se o foi, continua a sê-lo e sê-lo-á sempre, por mais que a criatura se tenha voltado contra o seu criador, ou vice-versa. Pelos vistos, este ‘colunista de esquerda’, apesar de ‘historiador’, tem uma relação difícil com o passado e com a verdade …

Os economistas dizem que não há almoços grátis. Ou seja, um colunista de direita, no Público, só se for por engano ou … por interesse, nomeadamente do próprio e do dito jornal. Um ‘colunista de direita’, num jornal de esquerda, dá sempre jeito, porque leva a crer que é um meio de comunicação social muito pluralista. Mas, neste caso, é uma aparência que ilude. Aliás, se o próprio sente necessidade de dizer que é um ‘colunista de direita’, talvez seja porque tem consciência de que não é óbvio que o seja. De facto, este cronista costuma ser, por regra, muito politicamente correcto, o que dá um jeitão à esquerda, porque divide a direita: a má direita é a do Trump, do Bolsonaro e do Ventura, enquanto a boa direita é a que é como ele, muito politicamente correcta, tanto que … quase não se distingue da esquerda! Esta, claro está, agradece muito e … paga, até porque, como se sabe, não há almoços grátis. 

A propósito da demoníaca tríade – Donald Trump, Jair Bolsonaro e André Ventura – é sabido que um bom ‘colunista de direita’, num diário da esquerda, tem que a diabolizar, página sim, página sim. 

Foi o que fez o dito ‘colunista de direita’, na sua segunda crónica contra Nuno Melo e a favor de Rui Tavares, que nada tem a ver com os presidentes dos Estados Unidos da América e do Brasil, nem com o deputado do Chega. No entanto, nesse artigo, o ‘colunista de direita’ cita a despropósito, por duas vezes, esta detestada troica. Primeiro, refere-se “à vergonhosa complacência diante de figuras como Donald Trump, Jair Bolsonaro, ou André Ventura.” E depois acrescenta uma simpática referência a “Todos os que desvalorizaram os Trumps, os Bolsonaros, ou que acharam que André Ventura, o confinador de ciganos, é que dizia ‘grandes verdades’”. 

Este seu ódio de estimação não é coisa de agora, porque já na sua crónica Resumo das comemorações do 25 de Abril, publicada três dias depois desta data, tinha atacado os mesmos três políticos que, mais uma vez, nada tinham a ver com o tema, nem com o 25 de Abril: “… políticos com a maturidade emocional de um miúdo de dez anos, como Trump, ou com a inteligência de um abacate, como Bolsonaro (…). O próprio André Ventura tem o problema de só saber papaguear duas ou três frases feitas e nenhuma delas se aplicar ao actual contexto.” Esta repetição do estafado argumento ad hominem prova que a imaginação não é o forte de João Miguel Tavares. Como se costuma dizer: uma vez tem graça, duas já maça, mas três é uma desgraça!

É curioso que estes três ‘demónios’ tenham sido todos eles eleitos democraticamente: um é o presidente da maior e mais antiga democracia mundial; o outro é presidente de uma das mais populosas nações do mundo e, o terceiro, foi eleito democraticamente para a Assembleia da República portuguesa. Deve-se então concluir que os eleitorados norte-americano, brasileiro e português são estúpidos, porque não tiveram a clarividência deste brilhante ‘colunista de direita’?! (Note-se que esta ideia, de que o povo é muito imbecil, é muito de esquerda). 

Com certeza que Donald Trump, Jair Bolsonaro e André Ventura têm muitos aspectos criticáveis, a nível pessoal e político. Não há dúvida. Mas, quem respeitasse a vontade popular, não atacaria quem goza, pelo menos, da legitimidade democrática, nem os preteriria em relação a quem, não sendo melhor, é pura e simplesmente um tirano. 

De facto, não se percebe por que carga de água este ‘colunista de direita’ só ataca líderes da direita, quando tantos há, à esquerda, que são infinitamente piores. Porque não se lembra ele de Nicolás Maduro?! Ou do Lula?! Porque não refere o querido líder norte-coreano, também ele um fervoroso democrata?! Porque não se insurge contra o todo-poderoso mandarim chinês que, expandindo um vírus, pôs o mundo de rastos?!

Se é verdade que um ‘colunista de direita’ está disponível para fazer um frete a um colunista de esquerda, o contrário já não é verdade, como acertadamente fez notar Nuno Melo, quando criticou o individualismo da direita e o corporativismo da esquerda. Alguém imagina Catarina Martins, ou Francisco Louçã, a saírem em defesa do centrista Melo, como o ‘colunista de direita’ defendeu o outro Tavares?! Cruzes, canhoto! Um colunista de esquerda pode ser estúpido, mas não tanto que elogie um adversário, ou o defenda em público! Pelo contrário, a um ‘colunista de direita’ fica muito bem louvar publicamente um comunista! Como aquelas ‘socialites’ que elogiam muito a ‘coerência’ de Cunhal que, uma vez no erro, nele perseverou obstinadamente até à morte, aliás como Adolf Hitler, que também foi muito coerente com o seu nacional-socialismo, em que acreditou até ao fim. 

Bem vistas as coisas, os dois colunistas Tavares, do Público, são, afinal, farinha do mesmo saco. Portanto, se não se devem separar os que o mesmo apelido e jornal juntou, e o Rui já pontifica na telescola, João Miguel para a telescola, já!

O ‘colunista de direita’ faz bem em ser assim: afinal de contas, é o preço que tem de pagar para continuar a escrever no Público e ser uma vedeta do comentário político nacional, que até já teve honras de orador oficial do 10 de Junho. De todos os modos, seria bom que o autoproclamado ‘colunista de direita’ vá ao médico, porque a sua coluna, de tão inclinada para a esquerda, está a perder a verticalidade, o que não é nada saudável.

Nuno da Cunha