George Orwell escreveu que, ao alterar o passado e ao retratar qualquer História lembrada como maléfica, os regimes socialistas poderiam tornar textos clássicos como a Declaração de Independência dos EUA incompreensíveis no seu contexto original, e então a população seria incapaz de compreender as intenções originais por trás desses textos.

E como que para demonstrar quão próxima está a sociedade actual daquilo para que Orwell alertou, a Declaração de Independência, ainda hoje, foi enquadrada com a nova ideia de “discurso de ódio”, os censores do Facebook assinalaram a Declaração de Independência como contendo linguagem ofensiva.

Para demonstrar toda a escala da ironia, vejamos o que Orwell previu no seu romance “1984”:

“Na prática, isto significava que nenhum livro escrito antes de aproximadamente 1960 podia ser traduzido como um todo. A literatura pré-revolucionária só podia ser sujeita a tradução ideológica – isto é, alteração no sentido e na linguagem. Tomemos, por exemplo, a conhecida passagem da Declaração da Independência”.

Orwell cita então a passagem: “Consideramos que estas verdades são óbvias, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo seu criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade.”

“Que para garantir esses direitos, os governos são instituídos entre os homens, derivando os seus poderes do consentimento dos governados.”

Com essa declaração, os Pais Fundadores dos Estados Unidos descreveram verdades que acreditavam serem óbvias: que os direitos dos homens e a igualdade de oportunidades no mundo são dados pelo criador divino. E que entre esses direitos naturais estão o direito à vida, o direito à liberdade e o direito de procurar a felicidade.

Os Pais Fundadores afirmam que os homens instituem o governo para garantir esses direitos naturais e que o governo deriva o seu poder do consentimento daqueles que governa. Este conceito, em si mesmo, vai contra a trindade totalitária do socialismo, do fascismo e do comunismo que tomou conta do mundo no século XX.

Subvertendo o Totalitarismo

Nos sistemas totalitários modernos, os direitos do povo são concedidos pelo governo

e não o contrário. Nesses sistemas, não há direitos naturais e não há Criador além do governo; a felicidade está no dinheiro e na indulgência imoral, e não na virtude; e o homem comum é visto como demasiado burro para receber as liberdades da Liberdade.

Orwell viu que isto ia acontecer. O seu regime totalitário fictício era especificamente um regime socialista, sendo “INGSOC” o acrónimo de “English Socialism”.

Orwell continua a citar a Declaração de Independência, anotando a linha seguinte: “Sempre que qualquer forma de governo se torna destrutiva para esses fins, o povo tem o direito de O alterar ou de o abolir e de instituir um novo governo.”

Por outras palavras, se um regime se opõe aos direitos naturais que descreve, e vai contra a ideia de que o governo surge do “consentimento do governado”, especificamente para defender esses direitos naturais, então o povo desse país tem o direito de alterar ou abolir esse governo, e construir um novo governo.

Com essa ideia em vigor, nenhum dos regimes totalitários do século XX poderia subsistir por muito tempo.

Novilíngua

Compreendendo isto, Orwell imaginou como um regime socialista lidaria com tais valores subversivos. A resposta de Orwell foi a ideia de uma linguagem modificada pelo governo e de um sistema de valores distorcido que poderia alterar a forma como as pessoas interpretam a informação. E isso também não é puramente ficção, pois alterar a forma como as pessoas interpretam a informação é o objetivo da guerra psicológica.

Orwell chamou esta forma de linguagem alterada e o método de percepção adulterado de Novilíngua (Newspeak).

Para ilustrar como o sistema funciona, Orwell explicou que seria aplicado pelo socialismo para alterar a forma como as pessoas interpretam a Declaração da Independência. Ele disse que, com um documento como este, os próprios conceitos teriam de ser considerados criminosos, e “uma tradução completa só poderia ser uma tradução ideológica, pela qual as palavras de Jefferson seriam transformadas em um panegírico sobre o governo absoluto”.

Ele explicou que a frase “todos os homens são criados iguais” poderia ser uma frase usada pelo regime, mas mudaria para “todos os homens [sic] são iguais”, e o seu significado seria interpretado de forma diferente para expressar uma “verdade palpável”, como a ideia de que “todos os homens são de igual tamanho, peso ou força”.

Da mesma forma, nos nossos sistemas modernos, o significado de “todos os Homens são criados iguais” foi mudado. Alguns interpretam-no através da lente da política de identidade, que as alegadas diferenças na igualdade entre raças devem ser resolvidas pela tirania governamental para produzir resultados iguais. Em vez de terem uma oportunidade igual na vida, os totalitários modernos acreditam que a igualdade deve ser imposta para que qualquer esforço leve ao mesmo resultado.

Isso, é claro, diverge da ideia de que as pessoas são “criadas” iguais pelo divino, e que o governo não deve inibir a liberdade ou a “busca da felicidade” de um indivíduo ou grupo – especialmente não através de engenharia social em massa que categorize e regule as pessoas por raça.

Preto e Branco

Outros hoje tentam desacreditar completamente a Declaração de Independência atacando a legitimidade dos Pais Fundadores e o sistema de governo que eles criaram para os Estados Unidos.

Isto baseia-se na ideia de criticar o passado, muitas vezes através de uma lente de percepção que foi alterada pela política socialista. A principal ferramenta utilizada para isso nos académicos socialistas modernos é a “teoria crítica”, que ensina os estudantes a interpretar toda a história através da lente marxista da alegada luta entre o “opressor” e o “oprimido”.

Sob esta lente marxista, os Pais Fundadores tornam-se os “oprimidos” lutando contra os “opressores” na Grã-Bretanha, tornando-os figuras revolucionárias comunistas aos olhos das pessoas doutrinadas por esta ideologia. No entanto, eles também se tornam “opressores” porque detinham escravos, desacreditando assim qualquer das suas acções ou reivindicações aos olhos das pessoas que usam este sistema de lógica. Através deste sistema, as percepções dos Pais Fundadores podem ser usadas de diferentes maneiras, como exige o interesse político.

Orwell também explicou como isto funcionaria. Ele chamou este conceito de Preto e Branco (BlackWhite). Ele escreveu: “Como tantas palavras da Novilingua, esta palavra tem dois significados mutuamente contraditórios.” Aplicado a um inimigo, “significa o hábito de alegar que o preto é branco, em contradição com os factos claros”, e quando aplicado a um membro do partido, “significa uma vontade leal de dizer que o preto é branco quando a disciplina do partido exige isto”.

Noutras palavras, significa que as pessoas podem dizer que algo é errado quando se ajusta ao seu interesse ideológico. E dizer que a mesma coisa é boa quando se ajusta ao seu interesse ideológico. A percepção de certo e errado não é baseada num sistema de valores estabelecidos, mas sim em qualquer coisa que a política socialista exija naquele momento.

Este conceito está no cerne dos dois pesos e duas medidas na política socialista de hoje – onde algo é bom ou desculpável se feito pelo seu próprio campo, mas ainda assim mau e digno de ataque constante se feito por seus oponentes. No entanto, como Orwell explicou, não é um sistema consciente de dois pesos e duas medidas, mas sim uma crença internalizada: “Significa também a capacidade de ACREDITAR que o preto é branco, e mais, de SABER que o preto é branco, e de esquecer que alguém já acreditou no contrário.

DuploPensar

“Isto exige uma contínua alteração do passado, tornada possível pelo sistema de pensamento que realmente abrange todo o resto, e que é conhecido na Novilingua como DuploPensar (DOUBLETHINK)”, escreveu Orwell.

E Orwell explicou que alterar a forma como o passado é percebido é uma parte importante da tirania socialista. Sem conhecimento real do passado, uma pessoa irá tolerar as suas condições actuais “em parte porque não tem padrões de comparação”.

Como um meio de controlo sob o socialismo, explicou Orwell, o cidadão deve “acreditar que está melhor do que os seus antepassados e que o nível médio de conforto material está constantemente a aumentar”.

Orwell escreveu. “Mas, de longe, a razão mais importante para o reajuste do passado é a necessidade de salvaguardar a infalibilidade do Partido.”

“A mutabilidade do passado é o princípio central da INGSOC “Eventos passados não têm existência objetiva, mas sobrevivem apenas em registos escritos e em memórias humanas. O passado é o que quer que os registros e as memórias concordem.

“E uma vez que o partido está no controlo total de todos os registos e igualmente no controlo total das mentes dos seus membros, segue-se que o passado é o que o partido escolher.”

Joshua Philipp

02 de Julho de 2019

Fonte:

https://www.theepochtimes.com/orwell-explains-how-socialists-alter-language-to-alter-history_2962515.html