Testes de laboratório realizados em riachos em redor de plantações de abacate, no Algarve, mostram leituras de glifosato – o pesticida ligado a cancros em humanos – 50 vezes superiores aos níveis recomendados pela União Europeia.
Esta é a terrível notícia que nos chega da luta do grupo cívico Terra Saudável, que se reuniu há mais de dois anos devido à preocupação com as consequências da proliferação de plantações de abacate em torno da aldeia rural do Barão de São João.
Desde essa altura, a Terra Saudável tem tentado – em vão – conseguir o que chama de uma “mesa redonda” entre todas as entidades envolvidas, “tentar encontrar soluções que não comprometam a saúde das pessoas, a água nos seus furos, o ar que respiram e a sustentabilidade da terra”.
Diante da aparente apatia das autoridades, o grupo está agora mobilizado.
Contratou um advogado ambientalista, está a estabelecer-se com estatutos e a cingir-se para novas batalhas. Porquê? Os militantes explicam:
“Chegamos ao ponto em que estamos cercados. Temos duas plantações de abacate com um total de quase 200 hectares e um campo de golfe de cerca de 70 hectares a retirar água do solo nesta zona, numa altura em que a pluviosidade é mais baixa do que nunca”.
“Os poços e rios à volta do Barão estão a secar. Isto nunca tinha acontecido antes.”
“Pela segunda vez, amostras de água retiradas de uma das plantações mostraram níveis alarmantes de glifosato, 50 vezes mais do que as directrizes recomendadas pela UE!”
“Temos de tentar forçar os responsáveis por estas plantações a iniciar relatórios ambientais. Eles devem parar de envenenar o nosso solo e a nossa água – e depois há o grave problema do consumo de água. Os abacateiros podem necessitar de mais de 60 litros de água por dia. Esta área tem agora mais de 50.000 árvores plantadas! Está além do ridículo: as implicações são aterrorizantes”.
Com a Câmara Municipal de Lagos ainda a realizar conferências sobre “como poupar água”, o grupo diz que se trata de expor o paradoxo, se não as irregularidades, que têm permitido que uma zona rural com “pomares secos” (árvores endémicas como a cortiça, alfarroba e oliveira, que não requerem irrigação) seja radicalmente transformada por monoculturas que já comprometeram a vida dos habitantes locais e que, sem dúvida, continuarão a fazê-lo, a menos que se estabeleçam controlos e equilíbrios.
Data do Artigo: 21 de Janeiro de 2020
Tradução: 5 de Fevereiro de 2020
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