Regra geral, os nativos não tendem a cair no goto dos expats (expatriados), culpando-os por mais um dia de merda ou pela infindável frustração. É, de resto, transversal na espécie humana, a propensão de culpar o outro e atribuir a responsabilidade ao alheio. Dói menos, logo é melhor. Ainda que, à falta de terapias ou exorcismos afins, a dor(zinha) se aninhe e prolongue.

Na Hungria não é exceção. Os expats simplesmente detestam os magiares, confirmando a fama dos mesmos, reconhecida na primeira pessoa, de povo que reclama por reclamar, como passatempo, sem pensar em soluções ou num plano para superar o problema.

Duvido, no entanto, que os Húngaros sejam campeões nos queixumes. Creio até que os expats podem entrar na competição, elevá-la ao mais alto nível, disputando, no mínimo, o empate. Numa partida que se adivinha renhida.

Senão vejamos. Os expats abominam a gastronomia local. Vomitam nas sopas frias, acham o Schnitzel igual em todo o sítio, estão pelos cabelos com a omnipresença da paprika, fazem chacota dum prato composto de massa doce, etc.

Outro costumeiro queixume é o clima. Um frio de arrepiar no Inverno e um calor seco, insuportável no Verão. Mas não será abençoada a sequência de noites a beber numa esplanada? Não será aconchegante, ver a neve cair nos mercados de Natal? Não será este discurso, um sintoma de queixismo crónico? De estarem mal-informados, certamente. O clima Húngaro não mudou assim tanto nos últimos milénios. Nem com o chamado câmbio climático. Ou terão perguntando pelas temperaturas à Greta, antes de se mudarem para terras magiares e da dita ter embarcado no “seu impoluto veleiro”?

O Governo Húngaro é outro alvo preferencial dos expats. O Fidesz está no poder há quase dez anos, qual é a surpresa? Não concordando com a maior parte das posições políticas dos expats, reconheço-lhes o direito às suas convicções e ideias. Mas ninguém os obriga a viver aqui, a continuar por cá. Se o ambiente é como dizem, péssimo, se se sentem amordaçados, pirem-se. Se estão casados, negoceiem a saída, a duas ou a quatro patas, tanto faz – mas, lembrem-se, a porta está aberta.

Não me parece que hajam muitos expats por estas bandas presos a motivos financeiros. Florins não são propriamente Francos Suiços. Nem os salários Húngaros se podem comparar ao dinheiro que se pode ganhar em Dublin, onde o chorudo orçamento justifica a compra de casacos de Estio e a incontornável despesa de fim-de-semana no pub.

Os expats em Budapeste estão em condições de se equiparar aos Húngaros, no que às queixinhas concerne. Não me venham dizer que é resultado do contato com os nativos (lá está, sacudir o raio da culpa), uma vez que isso se trata de algo intermitente. Alguns dos expats sofrerão, isso sim, de eterna insatisfação. Para certas pessoas, não existe puzzle a que não falte uma peça. (Talvez precisem dum coaching de gratidão, o sentimento mais hashtagizado à face das redes sociais. Mas esse é outro assunto.)

29 de Agosto de 2019

Vítor Vicente