Beatriz Dias, a Senegalesa de 47 anos que concorre pelo Bloco de Esquerda pelo círculo de Lisboa volta de novo a atacar os Portugueses em campanha pelo seu partido. Neste artigo iremos analisar a sua mais recente entrevista.

À pergunta: Porque aceitaste estar na lista do Bloco?

“Aceitei integrar a lista do Bloco para poder participar numa transformação social que está em curso em Portugal. Vivemos num momento em que o movimento negro em Portugal conseguiu amplificar as suas demandas e as suas reivindicações e colocá-las com mais capacidade no espaço público e acompanhar este momento histórico, estas reivindicações, estando num espaço onde possa haver proposta política e colocando uma agenda ‘anti-racista’ no parlamento é algo muito relevante. Nesse sentido, achei que integrar a lista do Bloco de Esquerda por Lisboa poderia criar um espaço para esta reivindicação, para que houvesse um deputado com uma agenda ‘anti-racista’ que pudesse amplificar o que são as reivindicações das negras e dos negros em Portugal.”

Nesta resposta vemos uma clara afirmação de Dias a afirmar e reconhecer que Portugal está a passar por uma profunda transformação social e como a própria afirma, basta andar um pouco nas ruas de Lisboa e arredores para reconhecer isto, demonstrando-se a si mesmo como a candidata pelos Africanos a viver em Portugal e por uma agenda que dita como ‘anti-racista’ mas que na realidade apenas beneficia o seu grupo étnico.

Numa perspectiva emancipatória, qual a importância da recolha de dados étnico-raciais?

“Portugal precisa de conhecer qual é a sua composição étnico-racial. Nós vivemos numa sociedade diversa, essa sociedade é facilmente verificada no espaço público, existem várias pessoas com diferenças fenotípicas marcadas, várias formas de falar Português, existe uma diversidade enorme na sociedade Portuguesa, e essa diversidade é uma grande riqueza. No entanto, esta diversidade não é reconhecida. Existe uma hegemonia branca, uma ideia de uma homogeneidade Portuguesa que se pensa, interpreta e se projecta como sendo uma sociedade essencialmente ou exclusivamente branca. Todas as outras pessoas que vivem em Portugal que pertencem às comunidades racializadas, são consideradas como sendo estrangeiras, isto é muito mais evidente para os Afro-descendentes e para os imigrantes que também adquiriram a nacionalidade Portuguesa, portanto Afro-descedentes querendo dizer negros e negras Portugueses e Afro-descendentes que tenham vindo para Portugal e tenham adquirido a nacionalidade Portuguesa. Há uma dissonância entre o que é a realidade social Portuguesa e a forma como ela é interpretada e percepcionada. Nós precisamos de reconhecer essa diversidade, precisamos de recolher estes dados, ou seja, a pergunta sobre a origem étnico-racial deve ser incluída nos censos, precisamente para nós conhecermos a diversidade e termos uma fotografia muito mais ampla do que é a sociedade Portuguesa. A segunda parte desta necessidade é a necessidade de termos políticas públicas que corrijam as desigualdades.”

Dias, nesta resposta desconstrói a nacionalidade Portuguesa, diz que os Portugueses também são negros e que a sociedade Portuguesa não é exclusivamente branca, acusa os Portugueses de percepcionar os negros a viver em Portugal como estrangeiros. Para dissonância cognitiva da mesma, a própria faz de bandeira de campanha, a atribuição de nacionalidade a todos os que nasceram em Portugal. O que faz da sua afirmação verdade, os Portugueses olham para Africanos ou negros como estrangeiros porque uma grande parcela o são. Portugal tem um sistema misto pelo que Dias ao afirmar que portugueses podem ter ascendência africana não é totalmente incorrecta, contudo nem todos eles são portugueses por força da lei, daí Dias a querer ver alterada.

És professora no ensino secundário, o que é preciso mudar na escola?

“As escolas são um campo, um território de disputas muito importante e é também um campo de transformação. É na escola onde estão todos os jovens, independentemente da sua proveniência étnico-racial, da sua classe social, portanto todos os jovens estão na escola. A escola na minha opinião é um lugar privilegiado para a intervenção, para a transformação social ou para a transição para uma sociedade ‘anti-racista’. Nesse sentido, nós precisamos de fazer, de implementar um conjunto de medidas que vão potenciar essa transformação na minha opinião. Primeiro passa por fazer uma revisão do modo como a história e a memória é construído. Ou seja, nós precisamos de alargar o âmbito de análise e das narrativas que são veiculadas na escola. Ou seja o que é que nós aprendemos na escola, como é que nós aprendemos, que histórias são contadas, que memórias são construídas e é aí que nós temos de alargar o âmbito da nossa intervenção. É preciso desconstruir alguns mitos. Mitos que são construídos e ramificados na escola, nomeadamente o mito do colonialismo brando e suave de que foi o colonialismo Português, o mito de que a expansão marítima foi um empreendimento benigno que ampliou o conhecimento do Mundo que foi eminentemente científico, uma capacidade tecnológica que os Portugueses desenvolveram e a partir dessa actividade conseguiram chegar a outros territórios, portanto é preciso mostrar o avesso dessa história. Contar o que é que este empreendimento imperialista, esta actividade económica e este desenvolvimento tecnológico, sobre os ombros das civilizações, sobre que civilizações é que este empreendimento é construído. Foi com o comércio de pessoas escravizadas, foi com a destruição ou com o não reconhecimento da importância de civilização de territórios que eram ocupados, portanto que tinham a sua população, a sua cultura, a sua mundivisão, a sua cosmologia, formas de interpretar o Mundo, portanto essa história precisa de ser contada. É preciso contar o que existia nos locais a onde os Portugueses chegaram.”

Esta última resposta do pequeno vídeo do Bloco de Esquerda é bastante curiosa. Tirando o ódio subjacente ao país que quer representar, como os exemplos de ‘Portugal ter destruído civilizações’, fica a questão: Se a Beatriz e todos os Africanos que diz representar são tão Portugueses quanto os ‘Portugueses Caucasianos’, então certamente a Beatriz que se sente tão fortemente contra este assunto não se irá certamente de pedir desculpa pela escravização e colonização que o seu país fez aos povos ou civilizações Africanas ou mesmo pensar em começar a atribuir pessoalmente reparações a esses povos o que o país e nação dela fez no passado, afinal de contas, é tão Portuguesa quanto quem já cá estava antes.

Beirão

O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico

5 de Outubro de 2019