A política portuguesa mudou drasticamente após as eleições legislativas de 2015, a partir desse momento, o partido mais votado já não seria o partido que formaria necessariamente governo, algo que não sendo critério obrigatório, era prática recorrente em Democracia. Este acontecimento, poderá indiciar o princípio do fim de um ciclo político que dura praticamente desde 1974.
A partir de 2015 e doravante, governará em Portugal quem conseguir reunir uma maioria parlamentar ora à Esquerda, ora à Direita. (Duvidando que Rui Rio alicerce um bloco central com o PS, porque seria o enterro do PSD) Esse facto poderá pôr em causa uma questão quase dogmática na nossa Democracia – a sociedade portuguesa é tradicionalmente mais de esquerda do que de direita.
Até aqui, isso nunca foi posto em causa, porque não estava em perigo a rotatividade democrática e a alternância de poderes, que foi mais ou menos regra na terceira república.
A maior lição que a direita poderá tirar será: os princípios não se alteram na busca dos votos, provou-se que adulterar valores basilares não cativa novos eleitorados, quando muito desmobiliza as bases fiéis de um partido político. A Direita não pode continuar a descaracterizar-se, terá de ser Direita e só assim poderá travar a batalha cultural fortíssima e dar assim azo a um novo ciclo político.
Acreditando nas sondagens, é praticamente um dado certo a derrota nas legislativas da Direita em Portugal, restará saber se será também um resultado histórico para a Esquerda conseguindo os tais dois terços de representação parlamentar. Aguardar que depois o povo português compreenda o enorme fosso no atual sistema democrático e que este possa ser reequilibrado. Serão necessários daqui para a frente jogos de poder e movimentações nunca antes vistas na nossa Democracia, porque nunca como hoje, o sistema esteve realmente ameaçado e basta para isso fazer contas- à Direita temos PSD e CDS, à Esquerda temos PS, Bloco, CDU e acrescentarei o PAN. Os novos protagonistas políticos serão por isso decisivos na forma como responderão aos desafios. O risco do insucesso será ter Portugal refém da esquerda durante largas gerações, no limite estaremos a pôr em causa a própria sobrevivência democrática, compreendendo por exemplo, que tanto Bloco de Esquerda, como PCP têm inclinações totalitárias.
Como lia esta semana, é importante compreender que, o que uniu António Costa às extremas esquerdas foi acima de tudo um projeto de poder, assente num ódio comum a Pedro Passos Coelho e ao que ele representa. Os resultados desse ódio são manifestamente insuficientes, pois António Costa não tem uma visão para o país e continua precisamente com as mesmas motivações de 2015.
O motor para uma nova aragem na Democracia portuguesa será uma visão de um Portugal mais moderno e desenvolvido, a médio prazo, uma visão de um País que possa unir as diferentes sensibilidades à direita. Por um lado, um País que seja capaz de competir de igual para igual com os parceiros europeus, deixando de ser o parente pobre da UE, por outro, que saiba estreitar as relações com os países de Língua Portuguesa, compreendendo que a hora de África está a chegar e que mais cedo ou mais tarde, o Brasil afirmar-se-á como uma das grandes potências mundiais que desde sempre esteve destinada a ser. Só à Direita se podem construir estas metas para Portugal.
As Legislativas em Outubro podem trazer novos partidos de direita ao parlamento e isso poderia motivar o início de um novo ciclo político. Destaco aqueles que acredito que possam acrescentar mais valias para o debate político.
O Aliança traz consigo a visão de Santana Lopes do que seria o seu PSD – um partido mais conservador nos costumes do que o do Rui Rio e mais liberal na economia. A elegerem deputados penso que condicionariam a visão do próprio PSD no parlamento e poderia afastar a tentação de blocos centrais.
O Chega é um partido antissistema, ou seja, combate o Estado que está corrompido na sua execução pelo bipartidarismo e pelo socialismo nepotista. É um erro classifica-lo de extrema direita, mas eleito no parlamento, poderá ser um farol no combate ao establishment. Tem certamente margem para progredir.
Acrescentaria o Partido Portugal Pró Vida- Cidadania e Democracia Cristã, a eleição de um deputado, traria consigo um fôlego muito grande a eleitorados que há demasiado tempo não se sentem verdadeiramente representados por nenhum dos partidos com assento parlamentar. O eleitorado cristão é seguramente aquele que mais tem sido prejudicado com a tentativa dos partidos agradarem a gregos e troianos, e por isso, um daqueles que está mais desmobilizado na hora de votar.
Por último, apesar de pessoalmente discordar nos seus valores, penso que o Iniciativa Liberal traz consigo uma visão económica que falta na nossa Assembleia, com ideias inovadoras e uma comunicação extremamente eficaz, a eleição de um deputado em 2019 seria por certo uma mais valia no parlamento.
Todos estes partidos podem e devem ter como referência o PAN que surge em circunstâncias muito próprias e que, de acordo com algumas projeções, irá passar de 1 deputado na atual legislatura para 8 já em Outubro.
A consequência final de 2015 e da formação da gerigonça foi o fim do voto útil, em 2019 o critério será um voto com utilidade e nesse sentido, será mais importante eleger o 15° deputado do PSD pelo Porto, ou trazer um destes novos partidos para o parlamento? Cada voto contará e contando com uma campanha séria e debates com conteúdo, as legislativas de 2019 serão seguramente mais participadas que as de 2015.
José Maria Matias