Primeiro Artigo da Série “Verdade VS Polígrafo”
Análise céptica à emissão do dia 22. 04. 2019 do Polígrafo SIC intitulada “Três mentiras de Jair Bolsonaro”: https://sicnoticias.pt/programas/poligrafo/2019-04-22-Tres-mentiras-flagrantes-de-Jair-Bolsonaro
-Segundo alegação do Polígrafo SIC, à data de então;
“Desde que tomou posse o Presidente brasileiro fez 149 declarações passíveis de verificação. Oitenta e duas eram comprovadamente falsas ou imprecisas. Vejamos três casos flagrantes.”
1. O Polígrafo SIC não menciona fontes nem referências onde se mostrem, especifiquem e possam ser verificadas as alegadas 149 declarações passíveis de verificação, das quais, supostamente, oitenta e duas eram comprovadamente falsas ou imprecisas.
2. “Comprovadamente falsas” e “imprecisas” não são expressões sinónimas; uma imprecisão não é necessariamente uma (comprovada) falsidade. Assim, das oitenta e duas declarações, quais eram comprovadamente falsas e quais eram apenas imprecisas?
3. O Polígrafo SIC não esclarece se os alegados “três casos flagrantes” que irá apresentar se referem a falsidades comprovadas ou a meras imprecisões. Em suma, “Vejamos três casos… “”flagrantes”” – claros e evidentes – …do quê?
4. Apenas afirmar que alguém fez “oitenta e duas declarações comprovadamente falsas ou imprecisas” não é verificação de factos. Não temos como saber se esta alegação do Polígrafo SIC é comprovadamente falsa – o ónus de a provar verdadeira é de quem a fez… – mas, no mínimo, podemos concluir ter sido bastante gratuita, vaga e imprecisa.
-Segundo alegação do Polígrafo SIC,
“O Nazismo é de Esquerda”… é uma mentira de Bolsonaro. Esta acusação tem três problemas:
1. O Polígrafo SIC não demonstrou, verificando factos, que o Nazismo não é de Esquerda. Na realidade, o Polígrafo SIC apenas passou a declaração de Bolsonaro e, sem mais, classificou-a como mentira.
2. Uma pessoa manifestar uma convicção não significa que esteja a mentir, pode simplesmente estar errada (ou certa). O Polígrafo SIC provou que Bolsonaro disse que o Nazismo é de Esquerda, e só. Para comprovar que Bolsonaro mentiu, o Polígrafo SIC teria de estar dentro da cabeça de Bolsonaro e atestar que o actual Presidente do Brasil não acredita que o Nazismo é de Esquerda.
3. “O Nazismo é de Esquerda” não é factualmente uma mentira. A orientação política da ideologia nacional socialista alemã ainda hoje é livremente debatida em todo o mundo por historiadores, filósofos, cientistas políticos e demais académicos. No máximo, o Polígrafo SIC poderia ter alegado que a maioria dos estudiosos e especialistas considera o Nazismo um movimento de Direita. Contudo, afirmar ou defender que o Nazismo é de Esquerda não é o mesmo que mentir: apelar à maioria para chamar mentira a uma tese ou opinião divergente seria cometer uma falácia ad populum. Na verdade, há bons argumentos e quem defenda que o Nazismo foi um movimento de Esquerda, Revolucionário, Gnóstico, Anticristão, etc. A definição do que é Esquerda e Direita irá determinar o curso da argumentação dos dois lados. Liberais, por exemplo, ao constatarem que o Nazismo foi um movimento Anticapitalista e Estatista, irão associá-lo à Esquerda. Seja como for, o debate existe e em momento algum o Polígrafo SIC provou que Bolsonaro mentiu ao manifestar a sua posição sobre o assunto. O Polígrafo SIC propõe-se verificar factos mas, inevitavelmente, de maneira irresponsável, parece servir para censurar meras opiniões, crenças e convicções como “Mentira”, iludindo os leitores e espectadores com aquilo que determina ser a Verdade Oficial.
-Segundo alegação do Polígrafo SIC,
“Jair Bolsonaro também disse que não é homofóbico mas não faltam exemplos que provam o contrário” . Os exemplos mostrados pelo Polígrafo SIC foram três declarações de Bolsonaro:
a) “Eu preferia ter um filho viciado a ter um filho homossexual ”
b) “Nem passa pela minha cabeça, se eu der uma boa educação e for um pai presente não corro esse risco [de ter um filho gay]”
c) “Eu tenho imunidade [parlamentar] para falar que que sou homofóbico, sim, com muito orgulho se for para defender as crianças nas escolas”
Relativamente às alíneas a) e b), como o Polígrafo não definiu o que entende por Homofobia, e sendo hoje Homofobia um conceito político enviesado que pode abranger desde a simples aversão e repulsa por actos homossexuais até à violência física contra homossexuais, não ficou provada nenhuma mentira de Bolsonaro.
Em primeiro lugar, quando, onde, como e por que motivo Bolsonaro disse que não era homofóbico? Qual foi o contexto? O Polígrafo SIC foi omisso e não apresentou os factos.
Depois, quem definiu cientificamente que é Homofobia não desejar ter um filho homossexual ?É Homofobia um indivíduo querer ter netos, bisnetos e, enfim, morrer vendo replicados os seus genes? É Homofobia um indivíduo considerar que a presença da figura paterna é importante para um desenvolvimento normal da personalidade e da sexualidade dos meninos? O Polígrafo SIC foi omisso e não verificou tais factos da natureza.
Relativamente à alínea c), Bolsonaro declarou-se “homofóbico sim” (…) “se for para defender as crianças nas escolas”. É sabido que há uns anos o então deputado federal Bolsonaro travou uma luta política contra a doutrinação lgbt nas escolas do Brasil. Também é sabido que a militância lgbt tem por hábito acusar de “homofóbicos” todos os que não alinham nas suas originais ideias para educar sexualmente os filhos dos outros. Esta frase de Bolsonaro é obviamente retórica, ataca a linguagem dos activistas lgbt e contextualiza o âmbito da Homofobia – se for para defender as crianças…
Portanto, tal frase não demonstra que Bolsonaro tenha mentido ao dizer ( quando? ) não ser homofóbico ( em que contexto ou definição de homofobia? )
Por exemplo, será que um homossexual também “mente” se disser que Bolsonaro não é homofóbico? Pesquisar Aqui
Conclusão: o conceito de Homofobia é vago e indefinido. O próprio Bolsonaro, sem mentir, em diferentes situações, pode dizer ser e não ser homofóbico. Tudo depende do significado da expressão, no devido contexto. Neste ponto, o Polígrafo SIC não demonstrou onde está a mentira.
-Segundo alegação do Polígrafo SIC, Bolsonaro também faltou à verdade quando disse nada ter contra pessoas negras. A “prova” do Polígrafo SIC foi esta:
À pergunta de Preta Gil,
“Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”
Bolsonaro respondeu:
“Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja, não corro esse risco e os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”
Mais uma vez, o Polígrafo SIC não teve o mínimo critério nem interesse em verificar factos. Uma simples busca no google permite perceber que Bolsonaro sempre negou que essa sua resposta se referisse à pergunta colocada no ar pela emissora do programa. O caso chegou à Justiça.
Fonte:
Como mero exemplo, até este crítico / adversário de Bolsonaro, culpa a emissora por ter promovido a figura do então deputado federal quando adulterou a gravação para o fazer parecer racista:
Na verdade, a emissora nunca disponibilizou as gravações da entrevista na íntegra:
Conclusão: o Polígrafo SIC transmite verificações de factos comprovadamente falsas e imprecisas ? O leitor decida.
Bruno Filipe
29 de Agosto de 2019
Se detectou alguma mentira publicada pelo Polígrafo ou tem dúvidas sobre a veracidade de alegações feitas por esse órgão de informação, contacte-nos para o email leitor@noticiasviriato.pt