
No início da década de 1930, a Revista ABC dedicou uma reportagem aos negros de Lisboa com vista a apurar quantos eram e o que faziam os africanos na capital do império. Para tal, recorreu aos serviços do Governo Civil, aos reitores das faculdades e aos então chamados reitores dos liceus nacionais. O resultando surpreende-nos.
Dos cinco mil cidadãos negros residentes, apurou-se que dois mil e quinhentos eram estudantes. “Disseram-nos: o negro tem uma forte propensão para a advocacia. E é verdade. Fomos à Faculdade de Direito, falamos com alguns docentes e ouvimos isto: ‘o negro que, na generalidade, é muito eloquente, toma um grande interesse por todas as questões do Direito’. Vimos com os nossos próprios olhos grupos, dezenas de grupos, uns no primeiro ano, outros já no fim do curso. Na Faculdade de Medicina, na de Letras e na de Farmácia estão matriculados centenas de estudantes pretos, algumas mulheres e a maior parte cabo-verdianos. Em liceus, colégios particulares, salientando-se sobre os alunos brancos pela obediência e pela aplicação ao estudo, andam centenas de crianças e rapazes da cor da noite que estudam e preparam a alvorada do triunfo universal da raça negra”.
Entre esta massa categorizada destacava-se o Dr. Honório da Costa, muito temido pela verve afiada e denodo com que defendia os seus clientes na barra dos tribunais, o homem que primava pela promoção dos africanos e que por ocasião de um congresso dos negros portugueses, afirmou: “se o Congresso é feito por um grupo de africanos, comparticipo. Se é feito pelo Partido Nacional Africano, então não, porque não concordo com partidos”. Era o tempo em que Mário Domingues galgava em fama nos jornais e que nas queimas das fitas centos de africanos davam largas à euforia, passando a exigir o tratamento de senhor doutor.
Há que refazer a história do negro português e impugnar pelo exemplo e pelos factos essa nova corrente revisionista importada dos EUA que trata de manipular e tomar partido da ignorância da maioria.
Sugestão de Visualização: Um Dia Com… Mário Domingues – Programa sobre Mário Domingues, escritor natural da ilha do Príncipe, que menciona os aspetos mais relevantes da sua carreira profissional.

Os tais “bons colegas de carteira” como dizia M. Soares…
Engraçado, que durante a minha estadia na Africa do Sul (no tempo do “apartheid”), reparei que a maioria dos estudantes negros escolhiam : Teologia, Medicina ou Ciências Politicas !
Herdaram um país de fazer inveja e hoje ha cortes de electricidade constantes em Johannesburgo, horas a fio, quando não dias inteiros, as empresas estatais estão quase todas na bancarrota pelo facto de serem aversos às ciências e tecnologias…
Mas, claro o tema é pertinente, as elites negras em portugal e províncias ultramarinas já existiam muito antes do BE ter inventado as igualdades e não-racismo, etc… e faz muito bem em chapar-lhe na cara isso mesmo.