O Minho, de onde Portugal medrou até ao vértice da perenidade, coloriu-se de várias aguarelas emblemáticas, expressões joviais da mais estreme alma portuguesa: as danças e os cantares do vira, os lenços vianenses, o caldo verde, o arroz de pato, o galo de Barcelos e o cavaquinho. Mas díspar batimento cadencia a mulher lusa quando sombreia o seu peito na sobreposição de dois corações: o humano e o artesanal. Falamos da maior referência minhota à escala nacional e internacional, o Coração de Viana.
Construamos o primeiro degrau rumo ao entendimento, que só pode ser o histórico. Segundo diz Manuel Rodrigues Freitas, no livro “A Falar de Viana”, os corações de Viana têm uma origem manifestamente religiosa, com íntima relação com o culto do Sagrado Coração de Jesus, adoração transversal a todo o país. Também nos elucida acerca da sua índole simbólica e de que forma actuava na afamada estética destes primores artesanais: “estes corações sublinhavam o calor do amor com as chamas que brotavam da parte superior, sendo essa parte uma estilização dessas mesmas chamas, por isso chamarem-se corações flamejantes ou duplos.”
Existem igualmente influências pré-cristãs devido à massiva utilização do ouro, matéria litúrgica nos cultos solares celtas ou galaico-castrejos.

Frise-se esta pérola tradicional tem uma amplitude regional que ultrapassa Viana do Castelo. O seu uso vai do Baixo-Minho ao Alto-Minho, percorrendo as lojinhas típicas e as ourivesarias de todos os distritos. É possível que a conotação histórica a Viana ganhe sentido no casamento entre os trajes vianenses e o coração, imagem tão presente no catálogo identitário português.
O Coração de Viana nasce da filigrana, técnica de ourivesaria de origens greco-romanas que combina fios e bolas de metal com a intenção de criar uma imagem. Materiais como o ouro, a prata, o bronze e o metal são os recursos empregues no fabrico destas peças. Encontram-se com abundância no norte de Portugal, nomeadamente no concelho de Gondomar, Póvoa de Lanhoso (destaque para Travassos, “aldeia do ouro”) e no distritos minhotos. Em Viana do Castelo, capital da filigrana portuguesa, a variedade artesanal encanta o povo natal e os visitantes, com os brincos da rainha, os corações filigranados, as cruzes, os medalhões e os colares minhotos.

Os Corações de Viana, ainda que em ouro, ultrapassam a luz sólida da fortuna, porque o ouro não vence a ideia. Os seus batimentos viajam para os peitos lusíadas e é aí que se revelam.
“A minha terra é Viana
São estas ruas estreitas
São os navios que partem
São as pedras que ficam.
É este sol que me abrasa,
Este amor que não me engana,
Estas sombras que me assustam…
A minha terra é Viana.”
Poema de Pedro Homem de Mello
Francisco Paixão