Antes de somar os primeiros passos neste novo trilho, desejo agradecer ao espaço Noticías Viriato a oportunidade de expressar o meu afogo luso. Apresentar-me-ei numa brevidade caduca: sou Francisco Paixão, poeta licenciado em História que conta com duas obras na sua vitrine criativa e variadas formas de culto à literatura, como vídeos narrativos e declamações. Acredito na autoridade de Deus Pai, no romantismo da vida simples e de Portugal como minha cédula íntima. É necessário defender bélica e briosamente a nossa identidade. Aí se centra o conceito da minha colaboração neste projecto: identidade portuguesa, nomeadamente folclórica e popular.

A estreia das Raízes de Cortiça canta uma serenata à janela manuelina de Viseu, a minha cidade. Falemos das Cavalhas de Vildemoinhos. Vildemoinhos é uma pequena localidade viseense que se celebrizou no país em virtude de uma ancestral comemoração popular: as Cavalhadas.

Foto: Câmara Municipal de Viseu

A sua origem remonta-nos para o ano de 1652, envolta em alguns nevoeiros lendários. Os moinhos espalhados ao longo do Rio Pavia não funcionavam, imóveis e sem o encanto sempiterno das voltas das hélices, responsabilidade dos agricultores que, através de açudes, represavam a água.

Dada a tensão popular, recorreu-se ao Juiz de Povo. Apresentados os recursos, as autoridades de Lisboa reconheceram razão aos moleiros. Eufóricos, dedicaram as noites de 23 e 24 de Junho a comemorações em nome de São João da Carreira, com desfiles realizados até à capela, adornados de todo o ideal bucólico, com sacholas, roçadoiras, alavanchas, burros e cavalos.

A gratidão do homem é como bandeira hasteada no castelo da virtude. Afinal, as Cavalhadas são a gratidão da gente trambela (habitantes de Vildemoinhos), cantada pelos lábios da tradição e do folclore português. Um orgulho para Vildemoinhos, Viseu e Portugal. Com três séculos de alegria popular, as Cavalhadas dividem-se em temas satíricos, tradicionais e artísticos, com forte cariz social e cultural manifesto nos carros alegóricos construídos pelos trambelos desde a rigidez invernosa até à calidez estival. Há ainda espaço para bandas, ranchos folclóricos, desfiles de animais, bombos, cabeçudos e gigantones.

“(…)Nos andores do coração

Pões às costas São João

Com cajado e águas sagradas..”

“Vildemoinhos, mártir da cobiça

Desfilas com a justiça

Na estrada das Cavalhadas.”

Francisco Paixão, poema Vildemoinhos

Foto: Francisco Paixão (24/06/2019)

Francisco Paixão

24 de Junho de 2019