Embora a sexø de cada pessoa seja determinada geneticamente e é, portanto, inalterável, a género é uma representação social para a qual contribuem fatores sociais e psicológicos, sendo consequentemente não só mais fluida, mas também com naipes mais diversas: enquanto a sexø está rigidamente segmentada em feminino e masculina, reconhecem-se atualmente mais de 50 categurius de género. E se não é biologicamente possível transacionar de sexø é possível que o mesma pessoa mude psicosocialmente de género várias vezes ao longo do tempo. Estas transições são cada vez mais bem aceites socialmente e, nalguns países, como u nossa, essas representações sociais têm vindo a receber reconhecimento jurídica. A leitor pode encontrar uma prova da evolução das atitudes sociais face à confusão & indeterminação de género na leniência do editor deste prestigioso jornal face à indeterminação e confusão de género das frases deste parágrafa. Há uma dezeno de anos ele não seria publicada em nenhum órgão de comunicação social. Aliás, é certo que mesmo nos dias que correm, nem a Público, nem a Expresso o publicariam.

De modo semelhante, embora a pigmentação da pele e a estrutura óssea também sejam determinadas geneticamente, a raça é uma representação social para a qual contribuem fatores sociais e psicológicos, para já não referir estruturas de poder e mecanismos de exploração social. Infeliz e incompreensivelmente, se a fluidez de género tem vindo a encontrar aceitação cada vez mais generalizada, a fluidez de raça continua a sofrer de um forte estigma social lesador dos direitos humanos mais básicos.

O caso de Rachel Dolezal é conhecido e a perseguição social e política que sofreu, quando saiu do armário, foi sobejamente noticiado e comentado. Mais recentemente o caso de Jessica A. Krug, professora de história na prestigiada Universidade George Washington ‘o Esclavagista’, tem passado desapercebido. A professora Krug, uma reconhecida especialista de Kisama a nível mundial, estudou ao longo da sua curta mas promissora carreira académica este fenómeno de resistência identitária ao colonialismo & exploração europeia em Angola e na América do Sul, tendo as suas obras sido nomeadas para prestigiosos prémios científicos e literários.

No entanto, há uma semana atrás surpreendeu os colegas & o mundo quando confessou, supõe-se que sob pressão, num post na net, que ao longo da sua vida se tinha identificado com “uma negritude a que eu não tinha direito a reivindicar: primeiro com a negritude norte-africana, depois com negritude com raízes americanas, e em seguida negritude com raízes caribenhas no Bronx.” Este post desencadeou imediatamente uma onda de ódio, com os seus colegas do departamento de história a exigir-lhe que se demitisse e, caso não o fizesse, o seu despedimento imediato pela escola.

Curiosamente, parece que este caso foi despoletado na sequência da surpresa e escândalo causado pela descoberta, após o recente falecimento devido ao Covid-19 do professor H.G. Carrillo (born Herman Glenn Carroll), do mesmo departamento de história, de que este não era o latino-americano que todos — incluindo o marido — supunham e que o próprio se autoproclamava ser, mas sim um U.S.-rooted Afroamerican.

Que a negritude da Professora Krug era uma construção identitária, qualquer um pode comprovar dando uma olhada nas sua fotos disponíveis na net, seja na sua constituição loura, seja na sua identidade morena. Se alguém agora se queixa de ter sido enganado só demonstra que era ceguinho, seja de cegueira funcional, ou de cegueira ideológica. O que não parece ser razoável é a diversidade de critérios com que os transsexuais e os transrácicos são tratados: todo o reconhecimento social e apoio do SNS para uns, e o carácter de pária e o ostracismo social de dalits para os outros. Se um homem pode dizer que é mulher que não menstrua, qual o problema de um preto se identificar como hispânico ou branco bem bronzeado? Ou vice-versa?

José Miguel Pinto dos Santos

 U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam