Agora já sabemos. Agora sabemos o que acontece quando se declara guerra à democracia. Agora sabemos as consequências de rebaixar o maior voto democrático da história de uma nação. Agora sabemos o que acontece a uma classe política que despreza os eleitores, silencia a sua voz democrática e os rotula de racistas e xenófobos que não podem ser confiados à administração da nação.

Eles são castigados. Sofrem de revoltas. São substituídos. Ontem à noite, naqueles resultados eleitorais extraordinários, testemunhámos a vingança da democracia.

Não é preciso ser fã de Boris Johnson ou do seu tratado de retirada para apreciar o significado e até mesmo o brilho dos acontecimentos de ontem. Os resultados são impressionantes, do ponto de vista histórico. O Partido Trabalhista está a sofrer um dos seus piores resultados em décadas, com os Conservadores a ganharem uma maioria poderosa que, nos últimos dias de campanha, não era previsto por muitos. O mais marcante de tudo foi a corrosão, o colapso do “muro vermelho” trabalhista – esse terreno histórico de vermelhos que se estende desde o Norte do País de Gales até ao Norte de Inglaterra. Pois bem, já não é vermelho: tijolo por tijolo caiu, com vastas camadas de pessoas que votaram nos Trabalhistas durante décadas a voltarem-se para os Conservadores desta vez.

Stockton South, Darlington, Wrexham – todos estes conservadores. Até dizer isso soa estranho.

Bolsover, detido por Dennis Skinner desde 1970, tem agora uma maioria conservadora de mais de 5.000.

O deputado conservador de Bishop Auckland – Dehenna Davison, de 25 anos de idade, é o primeiro conservador nos seus 134 anos de história.

Don Valley também desapareceu, apesar dos melhores esforços da deputada Caroline Flint para avisar o seu partido de que traição à classe trabalhadora, os eleitores que apoiam o Brexit, lhe custaria caro.

O muro não foi apenas partido, foi derrubado.

O colapso do ‘muro vermelho’ é o mais significativo, evento revelador nesta eleição porque fala, claramente e profundamente, a revolta que o povo sente pelas Elites.

Estas comunidades da classe trabalhadora estavam a ser alvo do desprezo ardente que as elites sentem pelos eleitores do Brexit.

Quando ouvimos os amantes da UE de elite liberal ou os radicais do movimento burguês Corbynista a lamentarem a “falta de informação” eles referem-se aos sectores da sociedade demagógicos, que aparentemente tinham sido induzidos a apoiar o Brexit.

O bom povo de Blackpool South, do Vale de Clwyd, de Workington – todos os assentos ficaram conservadores hoje de manhã. Esse desprezo venenoso visava mais directamente estas pessoas. E agora estas pessoas responderam. Eles devolveram o desprezo que lhes tem sido tão pesado nos últimos três anos e meio.

Isto são as pessoas de trabalho a rejeitarem essa velha e nojenta ideia de que, o povo, votaria num burro desde que este estivesse a usar uma rosa vermelha. Trata-se de pessoas comuns que se rebelam contra a neo-aristocracia das classes médias identitárias, que sequestraram o partido que os seus antepassados fundaram.

E isto é uma revolta contra a antidemocracia. Há mais de três anos que a classe política agita-se contra o maior voto democrático da nossa história. Eles têm usado todos os truques legais e parlamentares do livro para acabar ou atrasar o Brexit. E agora o povo emitiu o seu parecer sobre este comportamento vergonhoso. A vingança da democracia.

Basta considerar a figura ridícula e autoritária da líder dos Liberais Democratas, Jo Swinson. Ela perdeu o seu lugar. Ela disse que se lixe o Brexit, as pessoas disseram ela que se lixe.

Assim como acontece com muitos deputados Remoaner que tentaram impedir a democracia. Adivinhem só? As pessoas levam o seu voto a sério. Elas sabem que lutaram e até morreram por esse pedaço de papel que permite que cada cidadão adulto e livre determine a forma e a natureza do governo. Não aceitam de bom grado que o governo seja minado, quer pela UE, quer pelas nossas próprias elites antidemocráticas aqui no Reino Unido.

Os elitistas de esquerda já estão a rebaixar este voto em massa contra os antidemocratas como obra de idiotas racistas.

“Estes eleitores estúpidos permanecem no estrangulamento intelectual dos tablóides do mal e dos demagogos populistas”, afirmam eles.

Nunca aprenderão. Foi precisamente este tipo de desprezo que levou as pessoas a voltarem-se contra as elites de esquerda e tecnocratas. Mais importante ainda, as eleições de ontem mostram o contrário do que estes antidemocratas afirmam. Mostra que as pessoas podem pensar e decidir por si próprias. Durante três anos, as pessoas foram bombardeadas com ameaças exageradas e avisos histéricos sobre os perigos do Brexit e a vulnerabilidade da nossa economia e dos nossos serviços públicos se seguirmos a via populista. “Vamos cuidar de vocês ao parar o Brexit e fazer a coisa certa”, asseguraram os políticos. O povo rejeitou toda essa ideia paternalista. Pensaram por si próprios e disseram: “Não”. Este foi um acto de um povo independente.

Temos um trabalho a fazer para garantir que o Boris não vende o Brexit. Chegaremos a isso. Por enquanto, vamos reconhecer e celebrar o que esta eleição nos lembra: que a democracia continua a ser a maior correcção ao elitismo e à tirania que a humanidade alguma vez inventou.

Brendan O’Neill

12 de Dezembro de 2019

Fonte:

https://www.spiked-online.com/2019/12/13/the-revenge-of-democracy/